Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:A leitura da primeira pesquisa CNI-IBOPE de 2014 não deixa dúvidas: água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. O antigo adágio popular é o que melhor explica os seguintes fatos revelados pela sondagem do humor dos brasileiros em relação ao governo Dilma Rousseff.
A saber:
• Cai a popularidade da presidente Dilma. Na comparação com novembro de 2013, todos os indicadores registraram redução.
• O percentual da população que avalia o governo Dilma como ótimo ou bom caiu de 43% para 36%
• A aprovação da maneira de governar da presidente Dilma caiu de 56% para 51%
• A parcela da população que confia na presidente caiu no limite da margem de erro de 52% para 48%
• Em nenhuma das nove áreas de atuação avaliadas o percentual dos que aprovam supera o dos que desaprovam as ações do governo
• O descontentamento aumentou mais notadamente com relação às políticas econômicas, refletindo a maior preocupação com relação à inflação e ao desemprego.
Outros fatos chamam atenção na pesquisa supracitada.
A queda de Dilma foi mais intensa entre os residentes em municípios pequenos (com até 20 mil habitantes): de 59% para 44%. Também chama atenção a redução no percentual entre os eleitores mais jovens, de 16 a 24, e com renda familiar mais elevada (acima de cinco salários mínimos) e os residentes no interior.
A avaliação do eleitorado sobre o combate ao desemprego, as taxas de juros e o combate à inflação, porém, são o que mais surpreende. Em fevereiro, o Brasil gerou 260 mil postos de trabalho com carteira assinada. Os juros ao consumidor, apesar das altas da taxa Selic, são hoje muito mais baixos do que eram antes da concorrência desencadeada no início do ano passado pelos bancos oficiais. E a inflação, pelo 10º ano seguido, está dentro da meta.
O que pode, por exemplo, fazer a população ficar descontente com o desemprego justamente quando temos a taxa mais baixa de desemprego da história? É óbvio que o noticiário está por trás desse fenômeno praticamente estarrecedor.
Mas não é só. O gráfico abaixo, extraído da pesquisa Ibope, mostra quais são os fatos que mais têm impactado a popularidade do governo Dilma.
Como se vê, os protestos de forma geral e contra a realização da Copa do 2014 no Brasil vêm ajudando o noticiário sobre economia a deprimir a população. Esse efeito está sendo muito forte entre os jovens de 16 a 24 anos, justamente os que têm menos lembranças sobre o que era o Brasil do século XX.
O gráfico abaixo mostra como o noticiário desfavorável ao governo Dilma se encontra hoje em um patamar muito mais alto do que fora até meados do ano passado, quando explodiram as críticas midiáticas ao governo.
O que vem impedindo maior queda da aprovação de Dilma é o público que sente mais intensamente o efeito das políticas sociais.
O percentual dos que aprovam a maneira de governar da presidente praticamente não caiu entre os eleitores com grau de instrução até a 4ª série da educação fundamental, com idade de 25 a 34 anos, residentes nas capitais e em cidades médias (com mais de 20 mil a 100 mil habitantes).
Basicamente, o que está afetando o governo Dilma é o efeito que o noticiário econômico provoca entre a população em geral e o efeito que os protestos contra a Copa estão provocando entre a população adolescente e pós-adolescente.
Apesar da queda da popularidade de Dilma, porém, outra pesquisa Ibope divulgada recentemente mostra que nenhum candidato à sua sucessão está conseguindo tirar vantagem do sobressalto que o noticiário econômico e protestos contra a Copa estão causando.
Dilma ainda tem quase o dobro dos votos dos adversários somados no cenário mais provável, que coloca em disputa Aécio Neves, Eduardo Campos e alguns candidatos nanicos. Nesse cenário, no primeiro turno ela teria 40% dos votos e os adversários somados teriam 22%. Em um eventual segundo turno, Dilma teria o dobro dos votos de qualquer adversário.
O que a pesquisa CNI-IBOPE recém divulgada mostra, porém, é que a presidente pode ser afetada pela continuidade desse bombardeio, que acaba de ganhar uma possível CPI da Petrobrás, que deve se transformar em um belo palanque para os adversários sem votos.
Mas há um fator que talvez seja o que mais vem fragilizando Dilma Rousseff: a péssima política de comunicação de seu governo.
Os dois fatores que mais vêm prejudicando a presidente, como se viu acima, são o noticiário econômico e os protestos contra a Copa. Até agora, porém, não há uma só reação comunicacional para lembrar ao público que todo mundo está conseguindo empregos com salários cada vez melhores e quantos benefícios a Copa deverá trazer ao país.
Chega a ser espantoso que até o momento não exista uma mísera campanha publicitária sobre a Copa a 90 dias da realização do evento. E praticamente não há reação ao terrorismo econômico. As autoridades da equipe econômica parecem ter medo de falar em público e de rebaterem um noticiário que anula o pleno emprego e os salários crescendo.
O fato de os adversários de Dilma na eleição presidencial não estarem empolgando a sociedade, portanto, está sendo magnificado pelo alto comando da campanha presidencial à reeleição.
É evidente que, em algum momento, esses adversários deverão se beneficiar de uma campanha de desmoralização que já não conta mais apenas com a mídia, mas, também, com movimentos sociais e sindicais e pequenos partidos de esquerda que até podem não ter votos, mas que fazem muito barulho.
Se o governo Dilma continuar praticamente mudo enquanto apanha, uma reeleição tranquila pode sofrer sobressaltos que poderiam não ocorrer se houvesse alguma estratégia e alguma reação. Nesse aspecto, a recente pesquisa CNI-Ibope pode servir para despertar o staff governista da letargia em que se encontra.