O QUE É ISSO, COMPANHEIRAS?!
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O QUE É ISSO, COMPANHEIRAS?!


Esperamos que não passe reto nem batido.

Desconfio que este possa ser um post polêmico, mas é necessário. Como espero já ter deixado claro aqui, eu apoio a Marcha das Vadias e participarei, com muito orgulho, da que será realizada em Fortaleza nesta sexta (e convido a tod@s que venham). Por mais que eu considere uma missão um tanto impossível reapropriar um termo tão negativo como vadia (e suas dezenas de similares usados para condenar a sexualidade feminina), considero as marchas que vêm acontecendo no Brasil e no mundo um movimento importante, alegre, espontâneo, excelente para atrair a juventude e a mídia (que cobre os eventos pelos motivos errados — olhaí foto de mulher com pouca roupa! —, mas pelo menos os cobre; se bem que repare na decepção da reportagem do Uol sobre a Marcha de Recife, reclamando da falta de “ousadia” das manifestantes, que não usaram o "uniforme" exigido). Também acho muito positivo que, em vários lugares, as marchas tenham uma organização horizontal, não vertical, menos centralizado. Dá um novo ar aos protestos de sempre, e creio que ninguém se opõe a isso.
Mas, e aqui vai um mas bem grande, fico preocupada com algumas coisas que tenho lido. Fiquei meio balançada ao ver o depoimento de uma das criadoras do SlutWalk em Toronto (que foi onde tudo começou), dizendo que nunca tinha se considerado feminista, e ainda não se via como uma. Aí, na sexta, a Cynthia publicou uma ótima análise que reflete esta minha inquietação. Segundo a Cynthia, uma das organizadoras da Marcha de SP postou no Facebook o seguinte comentário sobre a Marcha de Recife: “os grupos feministas acabam sendo o oposto do machismo. E na nossa marcha nós deixamos claro que não éramos feministas, e sim femininas. Não queremos exterminar da terra a raça-homem. Apoiamos toda forma de liberdade, incluindo os grupos homossexuais (fem/masc), porém sentimos que esses grupos feministas acabam chegando com muita agressividade e são formados, na sua maioria, apenas por lésbicas, o que já denuncia seus objetivos”.
Não importa quem fez essa declaração, tão equivocada em todos os níveis possíveis e imagináveis. Importa é que várias pessoas que participam das marchas podem compartilhar desse pensamento tosco. E aí complica: como assim, você acha que dá pra redefinir um termo hiper pejorativo como vadia, mas aceita sem pestanejar o significado que os opositores do feminismo dão ao feminismo? Jura que alguém participa da marcha dizendo “Sim, sou vadia, com orgulho, mas pelamordedeus, não me chame de feminista!”? Desculpe, isso é ridículo. Não há nada em alguma dessas marchas que não seja uma luta do feminismo há décadas.
A Lia, uma das organizadoras da Marcha das Vadias de Brasília (que ocorre este sábado), que é assumidamente feminista, e com quem me comuniquei por email, tem isso a dizer: “é muito incoerente mesmo... estão defendendo uma causa feminista, mas não se reconhecem feministas, por uma série de pre-conceitos e rótulos em torno do feminismo. Acho que um dos papéis do movimento feminista na marcha é tentar quebrar esses preconceitos, e trazer, a partir da questão sexual, a reflexão sobre machismo à sociedade. A Marcha das Vadias tem essa caracteristica de agregar pessoas de diversas ideologias, idades, sexos, e pode ser uma oportunidade de atrair novas pessoas ao movimento.
Neste final de semana aconteceu a marcha em Recife. Li o que a Suely escreveu sobre ela (e usarei algumas fotos dela, feminista assumida e participante da marcha, para ilustrar este post; e outras que foram publicadas no Uol). De acordo com Suely, a marcha contou com grupos feministas locais, como a Articulação de Mulheres Brasileiras e o Movimento Feminino Popular. Ótimo. Mas vi fotos que me fazem pensar se algumas pessoas realmente entendem o que estão fazendo numa marcha dessas.Nada contra a participação dos homens nas marchas, muito pelo contrário! E tampouco quero ditar regras de conduta. Mas não entendi muito bem por que tem alguém vestido de Jesus (bom, parece que é o nome de um dos organizadores), ou rapazes vestidos de mulheres, ainda mais com palavras como “Estupre-me” escritas no corpo (o que é bem diferente de cartazes dizendo "Minha roupa não é um convite para você me estuprar"). Quando a gente precisa de muitas indagações pra entender o que algo quer dizer, é talvez porque a mensagem não esteja clara.
No sábado recebi um email da pernambucana Priscilla, que se identifica como feminista, vadia de vez em quando, santa quase nunca e assistente social em luta sempre!” Pedi sua autorização para publicá-lo aqui como guest post. Entendo que talvez não seja o momento de criticar as marchas, mas, como eu disse, em nenhum momento essas críticas são contrárias à realização dessas marchas. Só acho, e suponho que as feministas aqui citadas concordem, que é preciso frisar que tais marchas têm um enorme caráter político, de luta, de bandeiras feministas. Fingir que não têm, ou vir com besteiras como “sou feminina, não feminista”, ou “feministas são lésbicas que querem exterminar os homens”, é que representa, mais que uma oposição, uma certa ignorância sobre a impossibilidade dessas marchas não serem feministas. Pô, até o pessoal que chama mulher de vadia e que odeia o feminismo reconhece o caráter feminista das marchas! E aí tem participante que não reconhece? Não faz nenhum sentido. Estamos juntas nessa luta.
Eis o guest post da Priscilla.

Vou tentar ser breve ao externar minha pouca disposição em engrossar o cordão da Marcha das Vadias.
Inicialmente vou me localizar politicamente para não parecer que tenho problema em me assumir como "vadia" por moralismo pequeno burguês e blá, blá, blá.
Já participei de várias marchas contra homofobia, pelo passe livre, pela legalização do aborto, pela reforma agrária. Sou militante da Marcha Mundial de Mulheres aqui em Pernambuco, mais precisamente Recife. Quando vi a notícia do ocorrido no Canadá, achei ótima a mobilização das mulheres de lá e das proximidades da universidade onde o policial vociferou tamanha violência contra as vítimas de estupros.
Ok. Estratégia boa de publicização das inúmeras violências (e anuências) que atentam contra a sexualidade feminina, e para agravrar, ideias machistas (como a do policial) ainda persistem em países como o Canadá -- leia-se, país com a existência de grande nomes da teoria crítica feminista, país em que surgiu a Marcha Mundial das Mulheres e que possui políticas de igualdade de gênero avançadas. Entretanto, fiquei com o pé atrás quando vi que a Marcha das Vadias tinha virado febre nas redes sociais e que seriam replicadas em contextos diversos por países mundo afora.
Considerar que a luta feminista no Brasil encontra-se no mesmo patamar da luta, grau de conscientização e mobilização política do movimento feminista e de mulheres do Canadá é no mínimo falta de leitura da realidade.
Se lá a Marcha das Vadias ganhou repercussão por conta do absurdo proferido por um funcionário público pago para proteger a população, aqui a Marcha tem ganhado câmeras e microfones para exibir o corpos da mulheres e caricaturá-las, inferiorizá-las mesmo. Ou ainda, em razão da estupefação moralista de grande parte da sociedade brasileira que ainda se choca com o termo "vadia", embora o utilize na primeira hora para com as mulheres que não se comportam como santas. Logo, ou são santas ou vadias.
Além disso, não vi nenhuma declaração das organizadoras da marcha que reforçasse o caráter feminista da ação. Pelo contrário, vi mulheres que não possuem nenhuma empatia com o feminismo -- uma vez que somos bitoladas e chatas de galocha (sic!) -- entrarem em verdadeiro clima revolucionário por participarem da Marcha das Vadias.
A proposta é interessantíssima e dá novo fôlego para nossas ações de rua, que com o advento das redes sociais têm se tornado cada vez mais virtual do que real. Porém, a reprodução tal e qual da Marcha das Vadias do Canadá para o contexto brasileiro (e recifense -- a metrópole nordestina mais provinciana que conheço) é um erro, sobretudo, por não se apropriar ironicamente do termo "vadia" e consequentemente não conseguir passar a mensagem de autodeterminação do corpo da mulher, de respeito ao livre exercício da sexualidade feminina e de todas as bandeiras históricas feministas. Ahãããñ! Bingo! Chegamos ao ponto G! A conotação feminista da Marcha das Vadias se dilui no alvoroço das redes sociais e da mídia que não enfatiza a ação política da Marcha, na ausência de articulação com outras pautas que se referem diretamente ao corpo da mulher como território soberano dela própria.
Por esta razão e outras menos importantes que eu não me empolguei para participar da Marcha das Vadias, diferentemente de outras companheiras de movimento que foram lá tentar dar este viés que na minha avaliação é ausente, portanto, ineficaz para os fins de conscientização para igualdade de gênero.
Retificando, creio que nossas formas de ação devem ser cada vez mais inovadoras e dinâmicas sob pena de reproduzir a forma engessada de fazer movimento social. No entanto, não abriremos mão de politizarmos nossas demandas sem cairmos no espontaneísmo eventual.
Qual a crise, galera, em ser uma vadia feminista? Afinal, qual a luta do feminismo, senão a da defesa da liberdade de sermos aquilo que quisermos? Penso que rumamos para o mesmo horizonte libertário!




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