Geral
Pedra mármore
Não que ela não lhe agradasse, não era nada disso; pelo contrário. Sucedia que ele não conseguia gostar. De ninguém, nem mesmo dela. Era um impotente dos afectos. O ínfimo defeito que ela tinha era não ser lindíssima, mas isso era irrelevante. Era como se ele tivesse um muro pela frente, ou uma parede, a centímetros da cara. Uma espessa impossibilidade vertical. Tinha medo, um medo muito por dentro e até acima; um medo crescente de ficar preso atrás desse muro - não para sempre, claro, mas o suficiente para que alguém especial lhe passasse ao lado. Alguém como ela, justamente. Durante algum tempo alimentou a ideia de que era assim, com efeito, mas com as relações novas. Que com as velhas, as vindas de trás, não seria assim. Enganou-se. Era assim com todas. Percebeu que não conseguia desejar ninguém que o desejasse; percebeu - e percebeu porquê - se interessava apenas por casos impossíveis: por serem impossíveis e porque só o impossível o redimiria, o resgataria. O medo transformou-se, então sim, em pavor de ficar só, de ficar sozinho nessa sabedoria silenciosa e fria. Como pedra mármore.
Rui Branco
- O Telefone No Corredor - Martha Medeiros
ZERO HORA - 09/06 Dos seis aos 11 anos, morei num apartamento onde havia um único telefone, localizado em um nicho da parede do corredor. Ele era preto, e o nicho era alto, eu não conseguia discar sozinha sem a ajuda de um adulto, mas isso não chegava...
- "acho Que Fui Filmada Enquanto Estava No Banheiro Do Trabalho"
A V. me enviou este relato: Obrigada por este blog tão maravilhoso! Sou mais uma leitora ávida! Achei que nunca fosse escrever nada para você, mas desde o início desta semana, não consigo parar de pensar em algo que aconteceu comigo e não consigo...
- Sobre Pais E Escolhas
Quando eu era pequena e tinha festa na escola por conta do dia dos pais. Enquanto todas as crianças se concentravam em montar porta-retrato de macarrão, normalmente eu era consoladas por tias muito doces, que se penalizavam com a pobre menina órfã...
- Sahara Na Madeira, Afundado Por Marrocos
Pressões de Marrocos levaram ao cancelamento de um seminário sobre «Cultura Saharaui», que devia decorrer esta semana, na Madeira, com a participação de poetas e peritos dos dois lados do muro de separação entre a frente marroquina e a frente...
- Histórias Que O Povo Conta: O Bolo De Pedra
Numa cidade da nossa região teve uma cidade que fez aniversário, e foi uma festança danada, tudo de bom e alegre. Como "manda o figurino", toda festa tem que ter um bolo e esta cidade não se furtou em mandar fazer este bolo. Um bolo lindo, enorme,...
Geral
O que é que o Rui faz, exactamente, quando não está a falar da minha vida?
Pedra mármore
Não que ela não lhe agradasse, não era nada disso; pelo contrário. Sucedia que ele não conseguia gostar. De ninguém, nem mesmo dela. Era um impotente dos afectos. O ínfimo defeito que ela tinha era não ser lindíssima, mas isso era irrelevante. Era como se ele tivesse um muro pela frente, ou uma parede, a centímetros da cara. Uma espessa impossibilidade vertical. Tinha medo, um medo muito por dentro e até acima; um medo crescente de ficar preso atrás desse muro - não para sempre, claro, mas o suficiente para que alguém especial lhe passasse ao lado. Alguém como ela, justamente. Durante algum tempo alimentou a ideia de que era assim, com efeito, mas com as relações novas. Que com as velhas, as vindas de trás, não seria assim. Enganou-se. Era assim com todas. Percebeu que não conseguia desejar ninguém que o desejasse; percebeu - e percebeu porquê - se interessava apenas por casos impossíveis: por serem impossíveis e porque só o impossível o redimiria, o resgataria. O medo transformou-se, então sim, em pavor de ficar só, de ficar sozinho nessa sabedoria silenciosa e fria. Como pedra mármore.
Rui Branco
- O Telefone No Corredor - Martha Medeiros
ZERO HORA - 09/06 Dos seis aos 11 anos, morei num apartamento onde havia um único telefone, localizado em um nicho da parede do corredor. Ele era preto, e o nicho era alto, eu não conseguia discar sozinha sem a ajuda de um adulto, mas isso não chegava...
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Quando eu era pequena e tinha festa na escola por conta do dia dos pais. Enquanto todas as crianças se concentravam em montar porta-retrato de macarrão, normalmente eu era consoladas por tias muito doces, que se penalizavam com a pobre menina órfã...
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