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O que quer o cidadão, conheça os problemas que mais afligem a população
O QUE IMPORTA
Unidade de pediatria do Instituto do Coração, em São Paulo. A saúde é o tema mais importante para o brasileiro (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress)
A insatisfação com as tarifas de ônibus, no Rio de Janeiro e em São Paulo, foi o estopim para os protestos de rua que inflamaram o Brasil a partir de junho do ano passado. Como resposta, os prefeitos das duas maiores capitais do país desistiram de aumentar as passagens, e a presidente Dilma Rousseff anunciou um pacote de R$ 50 bilhões para obras de mobilidade, como a construção de corredores de ônibus e linhas de metrô. Apesar de ruidosa e justa, a demanda por melhor transporte público não chega nem perto das maiores prioridades do brasileiro ? saúde, educação e segurança. A conclusão é do Visão Brasil 2030, um estudo feito por nove organizações não governamentais importantes e atuantes, entre elas o Movimento Brasil Competitivo (dedicado a melhorar o ambiente de negócios), a Fundação Lemann (que luta para melhorar a educação) e o Centro de Liderança Pública (que milita pela melhora da qualidade da administração nos governos). O estudo, apresentado em primeira mão por ÉPOCA, oferece um projeto de desenvolvimento para o país nas próximas duas décadas. ?Mesmo com mandato de quatro anos e reeleição, não vemos um único governo com metas claras de oito ou 20 anos?, diz Luiz Felipe d?Avila, presidente do CLP. ?Sem metas claras, não há como verificar se o plano dá certo. E há um enorme desperdício de recursos.?
O relatório inovou na forma de fazer as perguntas e no jeito de propor as respostas. As respostas são formuladas em termos objetivos e divididas por nove temas. Foram escritas a partir de consultas a 150 especialistas. Segundo eles, seguindo o roteiro recomendado, o Brasil tem condições de alcançar, em 2030, metas como:
? Elevar a expectativa de vida, hoje em 74,5 anos, para 79,5 anos.
? Reduzir a mortalidade infantil em 65%, e a de jovens e adultos em 10%.
? Elevar o PIB per capita à casa dos US$ 20 mil, o dobro do atual, com renda ?digna?, que garanta acesso de todo brasileiro a oito serviços essenciais.
? Levar 60% dos jovens ao ensino superior. Hoje, são apenas 18%.
? Reduzir a taxa de homicídios abaixo de 10 por 100 mil habitantes. Hoje, é de 27 por 100 mil habitantes.
Entre os notáveis consultados, há empresários, acadêmicos e gestores públicos. Estão lá o empresário Jorge Paulo Lemann, homem mais rico do Brasil segundo a revista Forbes, e Gustavo Maia, jovem criador do aplicativo Colab.re. Entre aqueles com experiência no setor público figuram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e Pedro Abramovay, secretário nacional de Justiça do governo Lula. ?O estudo é uma iniciativa rara num país em que posições opostas resistem a discutir planos comuns?, diz o pediatra Roberto Cooper, ex-diretor da Fiocruz e professor da Universidade Estácio de Sá, um dos contribuintes do capítulo de saúde. ?Grupos heterogêneos tiveram autonomia para buscar respostas, sem preconceitos.?
Os 2.098 cidadãos entrevistados tiveram de escolher em que área investiriam dinheiro público
As perguntas foram feitas de uma fórmula original, que contribui com a qualidade do estudo. Em vez de meramente perguntar pelos desejos do brasileiro, os pesquisadores apresentaram a questão como ela se apresenta aos governantes: como distribuir uma quantidade limitada de recursos entre diferentes prioridades? O investimento destinado a um setor deixará de ir para outro. A questão foi apresentada a 2.098 cidadãos em 52 cidades, numa amostra organizada para representar fielmente a população. Concluiu-se que o brasileiro quer melhorias no transporte, mas considera outros problemas ainda mais incômodos e relevantes. Segurança é o tema que mais desagrada, mas tampouco é o mais importante. O cidadão erra por desinformação, ao achar que a educação não está tão aquém do ideal (os indicadores de aprendizagem do aluno brasileiro são péssimos). Esse mesmo cidadão intui que a educação tem importância crucial, a ponto de merecer mais investimento público. O tema mais urgente, para 75% dos brasileiros, é saúde. Quatro em cada dez entrevistados avaliam a qualidade desse serviço como ruim ou péssima.
A preocupação com a saúde encontra reflexo nas estatísticas oficiais. A espera para uma cirurgia no Sistema Único de Saúde é demorada ? chega a levar três anos ?, enquanto a taxa de ocupação dos leitos hospitalares é baixa ? 52%, muito pior que a média de 76% nos países mais ricos. O Brasil investe 9,3% do PIB em saúde, tanto quanto a média da OCDE (grupo de 31 países, entre eles os mais desenvolvidos do mundo). O investimento per capita, porém, ainda é baixo. Como a maior parte (53%) do dinheiro é investida por particulares, a saúde reflete as disparidades sociais. As regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste alcançam ou superam quase todas as metas da Organização das Nações Unidas (ONU), enquanto Norte e Nordeste ficam aquém. ?A saúde do Brasil é desigual entre regiões, entre cidades de uma região e entre bairros de uma cidade?, diz Cooper.
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A solução para a saúde (como para os outros oito problemas) inclui frentes variadas. O plano inclui propostas como criar redes regionais de prestadores de serviços de saúde, suprir a falta de profissionais em algumas especialidades e regiões, melhorar a integração entre os sistemas público e privado, formar equipes multidisciplinares para atender a idosos, melhorar condições de moradia e segurança, aprimorar a administração pública. No Visão Brasil 2030, os problemas e soluções se entrelaçam. Essa é uma diferença interessante em relação a outras propostas de agendas estratégicas. Os autores são injustos ao afirmar que faltam ao Brasil propostas de longo prazo. Desde que o país chegou à estabilidade econômica, nos anos 1990, pululam agendas para as décadas adiante, em todas as áreas imagináveis, do saneamento ao turismo. Alguns dos planos ambiciosos, com nomes sonoros, são ?Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022?, ?Plano Brasil 2022?, ?Saúde no Brasil em 2030? e ?Plano Nacional de Energia 2030?. A maioria deles se torna vulnerável por observar apenas uma ou algumas poucas questões ? e ignorar como ela será afetada por outras. Os problemas nacionais se alimentam uns aos outros ? o brasileiro sofre mais problemas de saúde por ter educação precária. E também por não contar com habitação e saneamento decentes. Ou porque a administração pública é ineficiente.
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Além de ter a ambição de orientar governos, o texto é um original exercício de sociologia. Ao ouvir a opinião dos brasileiros, os pesquisadores encontraram padrões de preferência. Grupos de entrevistados apresentaram grande afinidade em suas respostas, apesar de pertencer a faixas de renda diferentes.
Por isso, os pesquisadores preferiram agrupar as respostas de acordo com sete perfis de comportamento: ?lado bom da vida?, ?pais de família satisfeitos?, ?otimistas em ascensão?, ?críticos descontentes?, ?viver o momento?, ?manifestantes universitários? e ?céticos tradicionais? (leia mais sobre cada grupo nos quadros). ?Classificar a sociedade em classes como A, B, C e D é cada vez menos eficaz para formular políticas públicas?, diz Patricia Ellen, do McKinsey Global Institute, uma entidade participante do estudo. ?A sociedade não se organiza em torno da faixa de renda ou localidade, e sim em torno de causas e visões de mundo.? O estudo foi apresentado aos principais candidatos a presidente. Eles fariam bem em separar algum tempo para essa leitura instrutiva. fonte:http://epoca.globo.com/tempo/eleicoes/noticia/2014/09/o-que-quer-o-bcidadaob.html
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