Por Renato Rovai, em seu blog:A trajetória de Mercadante sempre foi colada na de Lula. Antes de se tornar político, o atual ministro foi assessor econômico do sindicato dos Metalúrgicos do ABC. E foi Lula quem insistiu para que ele se lançasse candidato a deputado federal em 1990. E foi Lula quem turbinou sua campanha para que se tornasse o mais votado do partido naquela eleição.
Mercadante, em 1989, havia sido um dos principais assessores da área econômica do candidato petista. Era ele quem falava por Lula quando o assunto era números.
Em 1994, Mercadante teria uma reeleição tranquila para deputado federal. Ou poderia ainda ser candidato ao Senado pelo PT. Haviam duas vagas em disputa. Mas Lula perdeu o vice, José Paulo Bisol, e foi buscar o ex-assessor pelo braço para ocupar a vaga.
Mercadante sabia que apesar do desempenho fabuloso do amigo em 89, aquela eleição seria mais difícil. Itamar tinha conseguido diminuir a inflação, o Plano Real era um sucesso e FHC vinha com apoio da mídia, do empresariado, do PFL e de quase todos os outros partidos políticos. O PT teria muita dificuldade para repetir o sucesso da disputa anterior. E Lula também sabia disso.
Nas conversas em que seus amigos mais próximos diziam que não valia a pena ser candidato a vice numa condições dessa, Mercadante respondia que devia “tudo na política a Lula”. E que não o deixaria na mão numa hora em que ele precisava dele. E perdeu junto com o ex-torneiro mecânico aquela eleição.
Em 1996, Lula queira que Mercadante fosse o candidato a prefeito pelo PT em São Paulo. Mas Luiza Erundina o derrotou na prévia e o economista acabou se tornando de novo candidato a vice. E Pita, apoiado por Maluf, ganhou a eleição. Deputado eleito em 1998 fez um mandato de destaque. E na chapa de Lula se elegeu senador em 2002. Lula presidente, Mercadante senador.
Todos esperavam que ele se tornasse o homem forte do governo. Mas Mercadante ficou no Senado. Os mais maldosos diziam que Lula o conhecia suficientemente para deixá-lo por lá. Que por suas características pessoais, Mercadante traria mais problemas do que soluções ao governo. Entre esses, em geral, o ministro é tratado como pavão, Deus ou apelidos do gênero. Todos ligados à sua fleuma de dono da verdade.
Candidato a governador de São Paulo, em 2006, Mercadante acabou tendo uma campanha que caminhava para ser levada ao segundo turno, afetada pela tentativa de compra de um dossiê por dirigentes petistas. O caso veio a ser conhecido como dos “aloprados”. As ligações diretas com sua campanha, porém, acabaram não sendo comprovadas. E 2010, poderia tentar renovar o mandato de senador, mas preferiu novo embate contra Alckmin. E perdeu.
Parecia que dali em diante seu futuro político poderia ser um quase ostracismo. Com mandato de senador e um amigo na presidência, ele havia ficado fora do governo. Sem os dois, seria muito mais difícil. Mas não foi. Dilma o chamou para um ministério menor, o da Ciência e Tecnologia. E ele foi, de crista mais baixa. Mas com olhar no horizonte.
Em pouco tempo, se tornou um dos principais interlocutores da presidenta. E quando o atual prefeito Haddad, saiu da Educação, Dilma achou que era hora de colocá-lo numa posição mais destacada. Sua passagem pela pasta foi tranquila, mas sem grandes marcas. Durante todo o mandato de Dilma, o ex-senador queria estar mais perto da política.
E isso vai acontecer no momento mais importante do governo Dilma. Mercadante passa a ser o gestor político do governo exatamente no ano em que a presidenta vai ter de viajar o Brasil fazendo campanha.
Mesmo os críticos do ministro admitem que ele amadureceu nos últimos anos. Que tem ouvido mais. E que está mais cuidadoso em relação aos outros. Mas talvez essa seja a grande questão a ser enfrentada por ele. Se Mercadante conseguir passar esse próximo período sem criar tantas arestas e Dilma ganhar a eleição, pode vir a se tornar o homem forte do seu segundo governo. E até, numa possibilidade de Lula não querer ser mais candidato a presidência, ser a opção petista para o cargo. Mas se voltar a se tornar o Mercadante de dias menos generosos, com a quantidade de poder que terá, será bombardeado e fritado em pouco tempo.
Lula parece ter sido decisivo na escolha do seu nome para o novo cargo. Dilma tinha preferência pessoal por Carlos Gabas. Mas a tese do ex-presidente é a de que esse momento exigia o que ele chamava de “mais estatura para o cargo”. Ou seja, ser mais respeitado pelos dirigentes partidários, prefeitos, governadores e mesmo pelos outros ministros.
Talvez Lula tenha feito uma aposta agora olhando mais pra frente. E Dilma aceitou encarar o teste. Essa parece ser a maior oportunidade política de Mercadante. Se souber aproveitá-la, pode ser o nome do PT para 2018. Claro, se o seu padrinho político não quiser repetir a dose.
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