O que une os pregadores do ódio?
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O que une os pregadores do ódio?


Por Antonio Barbosa Filho

Em junho de 2015, Daniel Barbosa, de 42 anos, publicou nas redes sociais um vídeo no qual ofende e provoca um imigrante haitiano, frentista num posto de gasolina em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. Ele acusa o imigrante de tomar emprego dos brasileiros, a se declara um lutador contra o “Foro de São Paulo e a infiltração de paramilitares cubanos e venezuelanos no Brasil”.

No começo de julho, durante visita da presidenta Dilma à Universidade de Stanford, na Califórnia, ao lado da ex-secretária de Estado dos EUA, Condolezza Rice, o jovem Igor Gilly infiltrou-se na delegação brasileira e também gravou um vídeo gritando xingamentos à governante: “terrorista que rouba o dinheiro da população tem mais é que ser morto”, gritou. Chamou a presidenta do Brasil de “assassina” e “ladra”.

Já em setembro, o advogado Mateus Sathler Garcia ficou conhecido por divulgar vídeos ameaçando explicitamente a presidenta da República de morte por “decapitação”. Exaltado, prometeu que no dia 7 de setembro haveria um golpe militar violento, e sugeriu que Dilma renunciasse ao cargo e saísse do Brasil para evitar a morte e um banho de sangue.

Há quem prefira considerar esses e outros epidódios como atos de loucura, cometidos por pessoas com problemas mentais. Porém, os três protagonistas têm um laço em comum, admitido por eles próprios: são todos “alunos” ou seguidores do jornalista Olavo de Carvalho, que reside no estado da Virgínia, nos EUA, de onde promove cursos e palestras pela internet pregando o ódio e a “eliminação” dos membros do PT ou de qualquer pessoa identificada com idéias esquerdistas.

O “olavismo” é uma mistura de pregação radical com elementos de religiosidade, o que poderia caracterizar seu grupo de admiradores como uma verdadeira seita. Olavo prega, e seus “alunos” repetem literalmente, que o PT, começando por Lula e Dilma, tem um pacto “satânico”, e visam destruir os valores ocidentais e cristãos, como via para implantarem uma ditadura comunista no Brasil. A metralhadora de Olavo é giratória, e mira em inimigos variados: há uma conspiração comunista global que agrega a KGB (jamais extinta, segundo o “filósofo”), o especulador George Soros, o presidente Barack Obama (que é um comunista, muçulmano e sequer nasceu nos EUA!), o Vaticano (infiltrado pelos “vermelhos”), o Islã, o sistema bancário mundial, e até os militares brasileiros, que seriam covardes por não terem dado um golpe contra o PT, desde o início do primeiro governo Lula.

Antes de rir de tantos disparates, convém notar que algumas postagens de Olavo, na forma de vídeos e hangouts no You Tube e outras redes sociais conseguem dezenas de milhares de “curtidas” e compartilhamentos. Seus “alunos” estão espalhados em vários meios, como a Editora Record, que tem publicado livros de autores direitistas nacionais e estrangeiros, e a revista Veja, entre outros. Confessam-se mais ou menos “olavetes” o ex-roqueiro Lobão, o humorista Danilo Gentilli, o deputado Jair Bolsonaro, os jornalistas Reinaldo Azevedo e Rachel Sheherazade, o economista Rodrigo Constantino, entre muitos outros.

Seria exagero atribuir a Olavo de Carvalho a responsabilidade por todo o discurso de ódio e a exacerbação dos ânimos no debate politico. Aliás, não se trata de debate. “Nós não queremos saber o que a esquerda tem a dizer, não vamos deixá-los falar, vamos fazer panelaço e barulho quando aparecerem na TV”, conclama o guru. Se ele não é o único culpado, porém, é sem dúvida o principal estimulador desta onda de baixarias que, apenas por acaso, ainda não causou vítimas pessoais graves. A “seita” defende a liberdade de acesso às armas, fazendo lobby no Congresso pela mudança das leis de desarmamento. Se hoje os “olavetes” se limitam a xingar e assediar nas redes e nas ruas, caso tenham armas poderão ir muito mais longe. Há malucos sendo influenciados por esta propaganda intensiva, e é fácil prever que algum deles, a qualquer momento, pode passar das palavras à ação.

Tenhamos presente o exemplo do jovem norueguês Anders Behring Breivik que, em 22 de junho de 2011, invadiu um acampamento da Liga dos Jovens Trabalhistas numa ilha do seu país, e matou 68 rapazes e moças. Uma explosão que provocu simultaneamente em Oslo, para distrair a polícia, matou outras oito pessoas. Preso sem resistir, ele se declarou de direita, antiglobalista e ouvinte fiel de um blogueiro muito semelhante a Olavo, o “Fjordman” (homem do fiorde), que pregava o nacionalismo e o anti-islamismo radicais.

Breivik é filiado a um partido de extrema-direita e, o mais assustador é que depois do seu mega-atentado terrorista, o mesmo perdeu alguns votos nas eleições seguintes, mas mesmo assim obteve mais de 16%...

* Antonio Barbosa Filho é jornalista, vive entre São Paulo e Delft (Holanda) e é autor de “A Bolívia de Evo Morales” e “A Imprensa x Lula – golpe ou ‘sangramento’?”.Acaba de lançar “O Brasil na ‘era dos imbecis’- o discurso de ódio da Direita”, pelo Clube de Autores.




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