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O remendo cambial - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 15/08
A economia brasileira está cheia de remendos - arranjos improvisados para disfarçar problemas -, e um exemplo notório dessa política tem sido a intervenção no câmbio para conter a inflação. É uma política perigosa e, no fim das contas, ineficaz, têm advertido economistas do setor privado. Mas o alerta foi até agora desprezado pelas autoridades. Na segunda-feira o Banco Central (BC) vendeu 4 mil contratos de swap cambial, no total de US$ 198,8 milhões. A intenção é aumentar a oferta de moeda americana, deter sua valorização e impedir a contaminação dos preços internos por um dólar mais caro. A estratégia atingiu o limite, ou logo atingirá, avisam especialistas do mercado e de consultorias independentes.
O BC já comprometeu mais de US$ 91 bilhões, pouco menos de um quarto das reservas cambiais, em operações de swap. Desde agosto do ano passado esse tipo de transação vem sendo realizado em todos os dias úteis. É uma espécie de venda futura. No fim do prazo combinado, o investidor poderá receber a moeda americana pelo preço estipulado na data da operação. Estará protegido, portanto, no caso de uma grande valorização do dólar.
Até aqui, o BC tem sustentado o jogo sem ter de enfrentar uma sangria de reservas. Suas intervenções têm servido para manter a cotação do dólar entre R$ 2,20 e R$ 2,30. Diante desses números, a estratégia parece ter dado certo, até agora. O objetivo básico, segundo dirigentes do BC, tem sido evitar grandes solavancos no mercado cambial. Mas um número crescente de especialistas diverge dessa avaliação.
Segundo alguns, o BC comprometeu um volume excessivo de reservas e tem hoje pouco espaço para manter essa política. Somando-se a dívida externa e os outros compromissos em moeda estrangeira chega-se ao total de US$ 219 bilhões. Para esse cálculo se tomam como referência dados oficiais de junho. Esse valor corresponde a cerca de 58% do volume de reservas. No fim de 2012, a exposição ao risco cambial estava em US$ 121 bilhões e o volume de reservas era muito parecido com o de hoje. Essa avaliação é rejeitada por outros economistas, porque é impróprio, segundo argumentam, equiparar uma operação de swap à contratação de uma dívida. Se o jogo der certo, ou enquanto der certo, o BC poderá ficar livre de qualquer desembolso. De toda forma, há um risco inegável, podem responder os outros.
Sem entrar nessa discussão, é possível apontar como certo um efeito indesejável das intervenções no câmbio. Ao ampliar a oferta de dólares no mercado, o BC mantém o real valorizado, mais do que estaria se o jogo das cotações funcionasse mais livremente. Isso encarece os produtos brasileiros em dólar e barateia os estrangeiros. Dificulta as exportações, facilita as importações, prejudica os produtores nacionais, principalmente os da indústria, e afeta a criação de empregos. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a cotação do real está entre 5% e 15% acima do ponto compatível com as condições econômicas do País.
Alguns críticos chamam a atenção para as tendências do mercado internacional. Se o dólar continuar ganhando força na maior parte do mundo, o BC enfrentará dificuldade crescente para conter a depreciação do real. Isso dependerá da recuperação dos EUA e da perspectiva de aumento de juros pelo banco central americano.
Mas o argumento mais poderoso é de ordem interna. Apesar da intervenção no câmbio e de outros expedientes, como a contenção dos preços da eletricidade e dos combustíveis, a inflação permanece alta. Falta cuidar com determinação dos principais focos de pressão inflacionária. O governo continua estimulando mais o consumo do que a produção e, além disso, o gasto público permanece excessivo e ineficiente. O efeito do câmbio sobre os preços tem sido muito menos perigoso em países com inflação menor e fundamentos mais sólidos. O swap cambial é basicamente um remendo, como os estímulos fiscais ao consumo, a maquiagem das contas públicas e a contenção de tarifas. Política séria é outra coisa.
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