Do jornal Brasil de Fato:
Movimentos populares brasileiros estão aderindo à um manifesto contra a aliança entre políticos brasileiros e deputados venezuelanos representantes da ultradireita. A carta será pré-lançada publicamente na atividade de lançamento do livro “Agitprop, Cultura Política”, organizado por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Luis Florido, deputado do Partido Voluntad Popular, e Williams Dávila, deputado do Partido Acción Democrática – oposicionistas do governo de Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela) – são membros da Comissão de Política Exterior da Assembleia Venezuelana, e estão em missão no Brasil para realizar reuniões e conseguir apoio para sua plataforma política.
Os deputados são acusados de apoiar políticos como Leopoldo López, também do Partido Voluntad Popular, condenado e preso em 2014 por participar de delitos durante as “guarimbas”, série de protestos executadas em fevereiro do mesmo ano para desestabilizar o governo Maduro. As ações provocaram a morte de 43 pessoas, além da depredação de hospitais e escolas públicas.
Entre os dia 23 e 25, os deputados já realizaram reuniões em São Paulo com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Em Brasília, se encontraram com o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Além disso, foi prevista a participação dos deputados na reunião da Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro, hoje presidida pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Segundo trechos da carta de apoio ao processo bolivariano, a justificativa principal da visita dos deputados ao Brasil é denunciar a “crise de direitos humanos” pela qual os oposicionistas afirmam que a Venezuela está passando, além de conseguir apoio internacional para uma Lei de Anistia, atualmente em debate na Assembleia Nacional Venezuelana, que perdoaria políticos como López pela violência e mortes cometidas em 2014.
Para os movimentos que assinaram a carta de apoio, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Marcha Mundial das Mulheres e a União Nacional dos Estudantes (UNE), a articulação entre os políticos brasileiros e os deputados venezuelanos representa um retrocesso para ambos os países: “fazem parte desta ofensiva conservadora que têm vivido os governos progressistas da América Latina”.
Os movimentos populares destacam, ainda, que a articulação representa um golpe conservador contra a Venezuela, país que, segundo o manifesto de apoio, protagonizou a conquista do maior número de direitos humanos básicos nos últimos 15 anos, sob a liderança de Hugo Chávez e Maduro.
Diante desses pontos, a carta manifesto se caracteriza como uma reafirmação da solidariedade da esquerda brasileira à Revolução Bolivariana. “Nosso apoio à continuidade do projeto que trouxe tantos benefícios ao povo venezuelano e à integração latino-americana”.
Confira a íntegra do manifesto:
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Manifesto de solidariedade à Venezuela e de repúdio à anistia dos golpistas e assassinos das 'Guarimbas'
Brasil, 24 de fevereiro de 2016
Os deputados venezuelanos Luis Florido y Williams Dávila – oposicionistas do governo de Nicolás Maduro e da Revolução Bolivariana e atuais membros da Comissão de Política Exterior da Assembleia Venezuelana – estão em missão no Brasil para realizar diversas reuniões com o objetivo de angariar apoios para suas ações golpistas e antidemocráticas, que já caracterizam a biografia de ambos.
Luis Florido é membro da ultradireita venezuelana, do Partido Voluntad Popular, o mesmo de Leopoldo López, condenado e preso por delitos durante as ações conhecidas como “guarimbas”, em fevereiro de 2014, que tinham por objetivo desestabilizar o país, rompendo a ordem institucional e dando um golpe ao Governo de Nicolás Maduro. Essas ações provocaram a morte de 43 pessoas. Já Williams Dávila é o máximo representante do golpismo no estado de Mérida, envolvido no fracassado Golpe de Estado a Hugo Chávez em 2002 e nas “guarimbas” em seu estado.
Como parte de sua “missão” ao Brasil, de 23 a 25 deste mês, os golpistas venezuelanos já realizaram reuniões em São Paulo, com o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, e com presidente da FIESP, Paulo Skaf, e, em Brasília, com o senador tucano Aécio Neves. Também está prevista na capital federal agenda dos dois deputados com a Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro, hoje presidida pelo senador do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira – que esteve presente em atos pedindo a volta da Ditadura Militar e o Impeachment da Presidente Dilma. Isso demonstra claramente a articulação entre representantes do golpismo, do conservadorismo e do retrocesso na Venezuela e do Brasil, que ademais fazem parte desta ofensiva conservadora que têm vivido os governos progressistas da América Latina.
Segundo declarações dos próprios deputados venezuelanos, um dos principais motivos de sua visita ao Brasil é denunciar a “crise de direitos humanos” que vive a Venezuela, angariando apoio internacional para uma Lei de Anistia, em debate na Assembleia Nacional, que perdoaria criminosos como Leopoldo López, que instigou a violência golpista que resultou em hospitais e escolas públicas depredadas e na morte de 43 pessoas inocentes.
Denunciar uma crise de direitos humanos no país latino-americano que mais teve conquistas nos direitos humanos nos últimos 15 anos é no mínimo uma ironia. A República Bolivariana da Venezuela, sob a liderança de Hugo Chávez e de Nicolás Maduro, conquistou direitos básicos para a vida de sua população, como a educação (acabando com o analfabetismo no país), a moradia, a universalização da saúde, um sistema político e eleitoral eficiente, seguro e reconhecido internacionalmente, dentre tantos outros.
São inumeráveis as conquistas sociais e democráticas que a Revolução Bolivariana trouxe à população venezuelana. Hoje o país luta contra os ataques da direita, contra o pensamento único da mídia internacional e contra a crise econômica, de dimensão internacional, que atinge fortemente o país pelas baixas dos preços do petróleo. E, ainda assim, segue firme em seus ideais e valores da Revolução Bolivariana, e acaba de propor um conjunto de medidas de enfrentamento a esse difícil momento, sem recorrer à cartilha neoliberal e sem penalizar os trabalhadores por uma crise que é do capital internacional.
Diante desse quadro, os movimentos populares brasileiros e os intelectuais, artistas, cidadãos e cidadãs abaixo assinados reafirmamos nossa solidariedade à Revolução Bolivariana e nosso apoio à continuidade do projeto que trouxe tantos benefícios ao povo venezuelano e à integração latino-americana. Ademais, repudiamos todos os atos de violência que pretendem desestabilizar o país e promover o golpismo e a proposta de Lei de Anistia que perdoaria assassinos, golpistas e delinquentes.
ASSINAM:
Fernando Morais, escritor, São Paulo.
Helena Meidani
Igor Fuser, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC)
João Pedro Stédile, MST, Via Campesina.
Marcia Irulegui Gomes
Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
CMP – Central de Movimentos Populares
CONEN – Coordenação Nacional de Entidades Negras
Consulta Popular
CTB – Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
CUT – Central Única dos Trabalhadores
Levante Popular da Juventude
MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens
Marcha Mundial das Mulheres
MMC – Movimento de Mulheres Camponesas
Movimento Camponês Popular-MCP
Movimento de Moradia da Cidade de São Paulo - MMC
MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores
MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
O Estopim
UNE - União Nacional dos Estudantes
União da Juventude Socialista (UJS)
Via Campesina Brasil
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