Onda de violência contra mulheres
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Onda de violência contra mulheres


Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Os últimos números divulgados em São Paulo e em todo o país mostram que os casos de violência contra mulheres estão se transformando em verdadeira epidemia, sem que as autoridades de segurança encontrem formas de enfrentar a emergência do problema a não ser discutir prováveis causas e medidas paliativas como a distribuição de cartilhas e o mapeamento de criminosos.

Embora na semana passada o governador paulista Geraldo Alckmin tenha anunciado no "Jornal da Record News" uma diminuição dos índices de violência, ficamos sabendo nesta terça-feira que 37 mulheres foram estupradas por dia - por dia, repito! - em São Paulo no primeiro quadrimestre de 2013 _ um aumento de 20,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o estupro foi o crime que mais aumentou nos últimos anos em São Paulo.

Para se ter uma ideia da brutalidade que isso significa, é como se um ônibus lotado de mulheres fossem estupradas a cada dia no maior e mais rico Estado do País. No Rio de Janeiro, o número de estupros cresceu ainda mais: 24% no ano passado, chegando a 1.972 casos na cidade.

Entre 2001 e 2010, segundo levantamento do Instituto Avante Brasil, publicado hoje no site "Carta Maior", 40 mil mulheres foram assassinadas no Brasil. De acordo com estudo do Banco Mundial citado pela publicação, mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência doméstica do que câncer, acidentes de trabalho, guerra e malária.

Apenas na cidade de são Paulo foram registrados 1.113 casos de estupro este ano. E o que fazemos para enfrentar esta escalada da violência contra as mulheres? O Conselho Estadual da Condição Feminina, ligado à Casa Civil do governador Geraldo Alckmin, anuncia que será feito um levantamento no banco de dados da Secretaria de Segurança Pública nas próximas semanas "para identificar um perfil destes estupradores", segundo o jornal "Folha de S. Paulo".

Além disso, será distribuída uma cartilha para orientar mulheres sobre como agir para evitar estupradores. Posso imaginar mulheres voltando para casa da escola ou do trabalho por ruas escuras, desertas e despoliciadas pedindo licença ao estuprador para consultar o que a cartilha recomenda.

O problema é muito mais grave do que sugere a reação das autoridades, que atribuem o aumento dos índices a uma mudança na lei que passou a considerar estupros crimes que antes eram registrados como atentados violentos ao pudor, mas o mais grave é que 90% das mulheres violentadas não buscam auxílio médico imediato para evitar a gravidez indesejada.

"O dado sinaliza que o trauma faz com que a primeira reação das mulheres ainda seja a reclusão. Só depois, quando percebem a gravidez, é que elas passam a tomar atitudes e enfrentam o problema", diz a psicóloga e mestre em Saúde Pública Daniela Pedroso.

Em 61% dos casos estudados por Daniela Pedroso, o autor era desconhecido da vítima, mas a delegada Celi Paulino Carlota, da 1ª Delegacia da Mulher, constata exatamente o contrário: "Em 90% dos casos que temos aqui o autor conhecia a vítima. Era pai, padrasto, avô ou até amigo em algum site da internet".

A crescente violência contra a mulher no Brasil chamou a atenção da imprensa mundial, como se pode ver em reportagem publicada hoje pelo "New York Times" e reproduzida aqui no R7 (leia aqui), depois que estupradores violentaram uma estudante norte-americana de 21 anos na mesma van em que haviam cometido o mesmo crime contra uma menina brasileira de 14 anos, uma semana antes.

O governador carioca Sergio Cabral não se mostra muito preocupado com o problema, segundo o relato do NYT, ao afirmar que o Rio "está vivendo um momento vigoroso com grandes eventos e investimentos". Parece que no Brasil cidadãos e seus governantes vivem em mundos e realidades diferentes.




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