Os blogueiros e os monopólios de mídia
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Os blogueiros e os monopólios de mídia


Por Leonardo Severo, no jornal Hora do Povo:

A luta pelo acesso universal à banda larga de qualidade, por novos marcos regulatórios de comunicação que incentivem os meios públicos e comunitários, e pelo enfrentamento aos monopólios de mídia, foram três propostas chaves aprovadas no 1º Encontro Mundial de Blogueiros, realizado em Foz do Iguaçu, Paraná, entre os dias 27 e 29 de outubro.



Focado no debate sobre “o papel da globosfera na construção da democracia”, o evento reuniu 468 ativistas digitais, jornalistas, acadêmicos e estudantes, de 23 países e 17 estados brasileiros, que atuam em sites, blogs e redes sociais.

A Carta de Foz de Iguaçu coloca entre as prioridades do movimento “a luta pela liberdade de expressão, que não se confunde com a liberdade propalada pelos monopólios midiáticos, que castram a pluralidade informativa”. “O direito humano à comunicação é hoje uma questão estratégica”, afirma o documento.

Organizado pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé e pela Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom), o encontro reuniu nomes nacionais de expressão como Leandro Fortes (Carta Capital), Conceição Oliveira (Maria Fro) e Luís Nassif; e internacionais como Pascual Serrano, do Rebelión; Ignácio Ramonet, do Le Monde Diplomatique; Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks; Jesse Chacon, ex-ministro das Comunicações da Venezuela e Blanca Josales, ministra das Comunicações do Paraguai. Além de trocarem experiências, eles apontaram para o fortalecimento da ação coletiva com a construção de uma rede.

A ausência do ministro Paulo Bernardo foi bastante questionada, tanto quanto o papel lamentável que vem desempenhando ao lado das empresas de telecomunicações contra o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e a Telebrás.

O documento aprovado reitera que “a internet é estratégica para o desenvolvimento econômico, para enfrentar os problemas sociais e para a democratização da informação. O Estado deve garantir a universalização deste direito. A internet não pode ficar ao sabor dos monopólios privados”.

Em nome da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), a secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, defendeu a importância da gestão pública para garantir banda larga na internet e reiterou o papel do Estado. “O Estado tem um papel fundamental para que a comunicação seja mais do que o acesso à informação, seja um direito de todos e de todas”, sublinhou.

“Nosso Encontro aprovou bandeiras que nos unificam e que nos ajudam a enfrentar os impérios midiáticos deformadores de comportamentos e manipuladores da informação”, reforçou Altamiro Borges, presidente do Barão de Itararé.

De acordo com Renato Rovai, presidente da Altercom, a realização do evento numa cidade que “une fronteiras”, dialoga com a luta pela integração e “ajuda a nos aproximar da América Latina e a construir um espaço para ações políticas reais”.

Censura

O encontro também reiterou a luta contra “qualquer tentativa de cerceamento e censura na internet”, como “os impostos hoje pelos Estados Unidos no seu processo de bloqueio a Cuba”. Presente ao evento, o cubano Iroel Sánchez, blogueiro da página La Pupila Insomne e do sítio CubaDebate lembrou que apesar da Ilha estar rodeada por uma teia de redes, o bloqueio imperialista impede o acesso do povo cubano a desfrutá-la. Daí a importância da construção de um cabo submarino entre Cuba e Venezuela – graças à solidariedade do governo Chávez -, que “possibilitará um salto imenso no acesso de todos os cubanos à internet”.

Ignácio Ramonet denunciou o “mercenariado do saber e da notícia” praticado pelos grandes conglomerados de mídia e ressaltou que os blogueiros têm um papel singular ao ajudarem a “disseminar” a informação e enfrentarem as versões manipuladas pela mídia-corportativa em favor da elite econômica, “que se utiliza da fragmentação e do desconhecimento para semear inverdades”. “A internet é um elemento desestabilizador neste contexto, contribuindo para que os meios tradicionais percam o monopólio que tinham até então”, acrescentou.

WikiLeaks

Os participantes também condenaram o processo de judicialização da censura e se solidarizaram com os atingidos. “Na atualidade, o WikiLeaks é um caso exemplar da perseguição imposta pelo governo dos EUA e pelas corporações financeiras e empresariais”, destaca o documento.

Após pressão do governo dos EUA, denunciou Kristinn Hrafnsson, Visa, Mastercard e Bank of América deixaram de recolher as doações para o WikiLeaks, com as perdas já ultrapassando os US$ 1,6 milhão, o que inviabiliza a continuidade do trabalho de veiculação de documentos ocultos que dão a dimensão dos crimes praticados pelo imperialismo. “Estamos sob ataque dos poderes financeiros do mundo”, disse Kristinn.




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