Do sítio do Centro de Estudos Barão de Itararé:Em debate ocorrido ontem (20), no Teatro da Faculdade Paulista de Comunicação (Fapcom), Fernando Morais apresentou Os últimos soldados da Guerra Fria, seu novo livro. Promovido pelo Barão de Itararé, Revista Fórum e Circuito Fora do Eixo, o evento também contou com as presenças de Socorro Gomes, Lázaro Méndez Cabrera, Max Altman e mediação de Renata Mieli e Renato Rovai.
Em sua nova obra, lançada pela Companhia das Letras, Fernando Morais retoma a reportagem literária em torno de Cuba. O escritor mineiro ganhou notoriedade com a publicação do emblemático A Ilha, em 1976, quando em plena ditadura militar brasileira, desmitificou e escancarou uma realidade social totalmente diferente do que era passado pela grande mídia.
A obra é fruto de uma pesquisa minuciosa sobre a Rede Vespa, uma agência secreta cubana que infiltrou agentes em organizações estadunidenses de extrema-direita, na década de 90. O turismo era a indústria cubana que mais crescia e essas organizações recebiam dinheiro para promover ataques terroristas à ilha (por exemplo, jogar pragas em lavouras cubanas, interferir nas transmissões da torre de controle do aeroporto de Havana, plantar bombas e disparar rajadas de metralhadora em locais cheio de turistas e cidadãos cubanos).
“Em 1998, quando estava nos Estados Unidos, com a minha esposa, escutei na rádio um breve relato sobre agentes secretos cubanos presos. Na hora pensei: aí tem algo interessante”, afirma Morais. Depois disso, foram mais de 20 viagens para Miami e Cuba, análise de documentos secretos e centenas de entrevistas. O resultado é um extensa reportagem com os melhores elementos literários de um romance de espionagem.
Para o escritor, o que surpreende é que seu livro conta novidades do passado, e isso significa muito quando se trata de Cuba. “Essa história, na verdade, é um furo jornalístico. O que revela que a postura da grande imprensa em relação à ilha permanece inalterada mesmo após 52 anos de revolução”, diz.
Durante sua exposição, Fernando Morais fez questão de criticar a grande imprensa brasileira. O escritor, em começo de carreira, chegou a trabalhar na Veja, mas faz questão de ponderar, bem humorado: “naquele tempo, Fidel Castro dava capa positiva na Veja”. Segundo ele, o veículo ainda não publicou “uma sílaba” sobre o livro, mas diz gozar do privilégio de entrar na revista pela “porta da frente”, ou seja, pelas mãos dos leitores, já que o livro está entre os mais lidos.
Com uma boa recepção até o momento, Os últimos soldados da Guerra Fria terá diversas traduções e já foi negociado para virar filme. Fernando Morais justifica: “A história não precisa de adjetivo. É uma história com tutano, osso e pele. Nem o mais talentoso romancista daria conta de contá-la de forma tão rica como ela é na realidade”.
Para o cônsul de Cuba, Lázaro Mendes Cabrera, a obra é uma grande contribuição à luta da ilha e reflete o sentimento de solidariedade que há entre os povos latino-americanos. Socorro Gomes, a presidente do Centro Brasileiro de Luta Pela Paz (Cebrapaz), também ressalta essa questão, lembrando a cooperação internacional que Cuba promove na área da medicina e da educação.
O tema dos cinco cubanos ignorados pela mídia também foi abordado pela mesa. Advogado, jornalista e membro do Comitê Brasileiro pela Libertação dos 5 Patriotas Cubanos, Max Altman comentou que o livro tem quebrado barreiras importantes para a divulgação do caso. “Levamos nossa luta à imprensa brasileira por diversas vezes, mas simplesmente não há interesse nenhum da parte deles”, afirma.
Altman chamou a atenção para o fato de que, enquanto os cubanos estão encarcerados em solitária, sem luz, água e incomunicáveis, Luis Posada Carriles caminha tranquilamente pelas ruas da Florida. Ele foi responsável por explodir um avião cubano com 73 passageiros em pleno vôo, no ano de 1976.
Para Fernando Morais e demais debatedores, o que os Estados Unidos não aceitam e os grandes veículos de comunicação, por consequência, também não, é que um país tão pequeno como Cuba esteja resistindo, há tanto tempo, à maior máquina econômica e militar da história. Os últimos soldados da Guerra Fria retrata, com primor literário, um capítulo importante e oculto dessa história.
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