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Os sem saída - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 09/06
Se Eduardo Campos ou Aécio Neves recuarem das respectivas candidaturas presidenciais hoje, deixarão no ar a ideia de rendição. Eduardo, ao PT; e Aécio, ao PSDB de São Paulo
Não raro, os políticos armam suas jogadas de forma a terem vários caminhos a seguir. São poucos aqueles que entram em um corredor com apenas uma porta à frente. Na conjuntura atual, entretanto, vários personagens estão nesse ponto. A começar pelos adversários da presidente Dilma Rousseff na corrida de 2014. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), são vistos pela classe política como dois líderes que passaram do ponto de recuo.
Entre os tucanos, Aécio começa agora a percorrer o país com a missão de mostrar aos correligionários que sua candidatura é viável. Nesse sentido, o senador precisa urgentemente conquistar os corações paulistas. Ele certamente não ouvirá, desta vez, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que o candidato a presidente está escolhido e que será o próprio Aécio. Afinal, com José Serra no ninho tucano - e hoje os paulistas consideram que o ex-governador não deixará o PSDB -, Alckmin não pode descartar desde já a candidatura de Serra, embora saiba das dificuldades que seu antecessor enfrenta.
Só para situar aqueles que não têm acompanhado os movimentos de Serra, ele vem reunindo-se com partidários, em São Paulo, e a essas pessoas dá a entender que ficará. Afinal, uma filiação ao MD de Roberto Freire, sem levar um grande contingente de aliados, soaria como o bloco do "eu sozinho", com um tempo de tevê limitado, o que não é uma boa política. Assim, com Serra dentro do PSDB e as dificuldades eleitorais do próprio Alckmin, o atual governador não tem como simplesmente abraçar, desde já, uma candidatura presidencial fora de São Paulo. Portanto, compete a Aécio agora sair pelo país, mostrar-se capaz de seduzir e empolgar todo o partido para que Alckmin não tenha opção, senão apoiá-lo. Pelo menos, essa é a leitura dos bastidores dos alckministas.
Enquanto isso, no Palácio dos Bandeirantes.
Geraldo Alckmin é também um personagem que hoje não tem alternativa. Com o vice-governador Guilherme Afif Domingos fazendo o jogo do adversário Gilberto Kassab, o governador não tem alternativa que dispense concorrer a mais um mandato. Será, na visão dos próprios tucanos, a missão mais difícil desse afável político de Pindamonhangaba. Alckmin hoje tem mais prestígio no interior do que na capital, o que torna a perspectiva de vitória mais incerta do que das outra vezes que ele concorreu.
O PT, ao contrário do PSDB paulista, está com o frescor da novidade na prefeitura da capital, com Fernando Haddad na preparação de um projeto de 25 anos para a maior cidade do país, sem o estresse eleitoral. Haddad ainda está na fase de arrumar a casa. Afinal, pegou a prefeitura abarrotada de problemas e ainda enfrenta desgastes com as manifestações por conta do reajuste das tarifas de ônibus.
Alckmin também tem sua parcela de desgaste nessas manifestações por causa do metrô, que é estadual. E, diante dos problemas conjuntos, os dois têm convivido muito bem - ambos viajam hoje para Paris, a fim de defender a candidatura de São Paulo à Expo 2020, o terceiro evento quadrienal mais importante do mundo depois dos jogos olímpicos e da Copa da Fifa. As outras concorrentes são Esmirna, na Turquia, um país que passa por fortes convulsões sociais nesse momento. Ekaterimburgo, na Rússia; e Dubai, nos Emirados Árabes. Apesar de Afif, Geraldo Alckimin concluiu que não dá para largar os eventos importantes para o estado como um todo por causa da crise que envolve o ministro/vice-governador.
Desde que perdeu o apoio de Afif para o PSD de Gilberto Kassab, Geraldo Alckmin tem tratado de mudar seu jogo. Nesse sentido, reatou os laços com o PSB de Eduardo Campos e não descarta, hoje, a hipótese de oferecer a vaga de candidato a vice-governador ao deputado Márcio França, do PSB, seu ex-secretário de Turismo. A operação, embora arriscada por causa do DEM, que integra a base governista, pode ser a melhor alternativa para Alckmin, dando ainda a Eduardo Campos um palanque em um estado onde seu partido tem pouco combustível.
Por falar em PSB.
Antes de separar as cartas com que pode jogar nos estados, Eduardo Campos tem tratado de arrumar seu jogo internamente. Nos últimos dias, além de Ciro Gomes, conversou com os governadores e líderes de seu próprio partido. Hoje, se Eduardo recuar da candidatura a presidente da República, depois das andanças que faz pelo Brasil e da propaganda que apresentou na tevê, ficará menor do que é, porque deixará no ar uma certa conformidade com a posição de acessório ao PT. E, até aqui, ele não deu um sinal de construção do discurso de desembarque.
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