Por Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
Não bastasse um, a televisão brasileira tem agora três talk shows disputando o início da madrugada. Além de Jô Soares, Danilo Gentili e Rafinha Bastos recebem convidados num sofá. Gentili é quem parece estar se saindo melhor. Chegou a bater em 5 pontos no Ibope, o que não é pouco para o horário. Até quando, não se sabe.
O público vai se dividir porque não há, essencialmente, nenhuma diferença entre eles. Ok. Vamos descontar a longa carreira de Jô Soares. Mas, na frente das câmeras, o trio é rigorosamente igual.
São entrevistadores fracos, com uma maioria de convidados fracos, cujas conversas não repercutem porque irrelevantes. Jô tenta fazer algo parecido com jornalismo. Recentemente, falou com Capriles, líder da oposição venezuelana. Nenhum pergunta mais incômoda, apenas um microfone aberto para Capriles. Não deu em nada (embora Jô tenha se gabado de uma cobertura “internacional”).
Do outro lado, Rafinha e Gentili entraram numa guerra nos bastidores. A última vítima, além do espectador, foi MC Nego do Borel, do funk ostentação. Depois de ir ao seu programa, Gentili teria impedido Borel de se apresentar no concorrente, com direito a uma ameaça de um diretor do SBT se ele fosse à Band. Bastos respondeu com uma reportagem fake sobre o sequestro do funkeiro.
A ruindade não é culpa totalmente dos apresentadores, mas da falta de tradição brasileira nesse tipo de atração. Sempre se menciona o nome de Silveira Sampaio, mas ninguém nunca o viu. O grande modelo é mesmo Jô Soares, que aparece mais do que o convidado. Rafinha e Gentili são o que são. O que esperar de humoristas que fazem graça com a Apae e com uma doadora de leite para crianças carentes?
Que tipo de conversa boa, inteligente, bem humorada, pode sair disso?
A TV nacional é expert em novelas e Silvio Santos. Os americanos inventaram e cultivam o formato do sujeito que recebe gente num show de variedades. O homem que o consagrou foi Johnny Carson, que ficou 30 anos no ar no “Tonight Show”. Engraçado, boa pinta e talentoso, estabeleceu o padrão monólogo de abertura, entrevista, música, comédia. Lançou nomes como David Letterman, Jay Leno, Jerry Seinfeld, Ellen DeGeneres e Drew Carey.
Nos anos 70, numa época pré-internet, Carson virou ícone. O cineasta Billy Wilder o definiu assim: “Ele não tem vaidade. Ele faz o seu trabalho e chega preparado. Se está falando com o autor de um livro, ele leu o livro. Ele cativou a burguesia americana sem ofender os intelectuais e nunca disse nada que não fosse liberal ou progressista”.
O titular do “Tonight Show”, hoje, é Jimmy Fallon, num cenário em que compete com Letterman, Jimmy Kimmel, Jon Stewart, entre outros. Fallon emplacou na internet, também. Canta e toca violão muito bem. Incorpora Neil Young, Bruce Springsteen e Bob Dylan melhor do que os próprios.
Não é só uma questão de talento e não é complexo de vira-latas. As versões brasileiras importaram a estética, mas não o conteúdo. É a audiência a qualquer preço, com apresentadores sem graça especializados, no caso de Gentili e Rafinha, em ofender negros, pobres e deficientes para alegria de um público sádico. É a TV aberta com um terninho, mas indigente. Como dizia Johnny Carson: “Se a vida fosse justa, Elvis estaria vivo e todos os seus imitadores estariam mortos”.
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