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Otimistas e pessimistas - SUELY CALDAS
O ESTADÃO - 03/08
Entre os otimistas e pessimistas, onde se encaixam os realistas?
Em tom de campanha eleitoral, nos últimos dias o governo partiu para o ataque: tentou desqualificar os que criticam sua gestão econômica e atribuiu os males e fracassos que aparecem em pesquisas de indicadores econômicos a um suposto "pessimismo artificial" desses críticos contra o governo Dilma. Nos discursos diários da presidente e em entrevistas do ministro Guido Mantega, o "pessimismo" desponta como o grande culpado.
Se o resultado das contas públicas é o pior dos últimos 14 anos, cai a arrecadação de impostos, aumentam as despesas do governo e a meta fiscal ameaça não ser cumprida, a culpa é dos pessimistas, que não enxergam um futuro fantástico e promissor que se desenha para o segundo semestre. Para Mantega, não existe represamento das tarifas de combustíveis, insistentemente reclamadas pela Petrobrás, nem da de energia elétrica, que levou o governo a repassar às empresas elétricas R$ 9,8 bilhões em 2013 e R$ 17,7 bilhões de dois empréstimos este ano, além de R$ 9 bilhões previstos no Orçamento de 2014, tudo para evitar o aumento da tarifa, que poderia tirar votos da candidata do PT. Essa história de socorro às elétricas e um tarifaço em 2015, previsto pelo próprio governo para pagar os empréstimos, são "conversa pra boi dormir", na interpretação de Mantega.
E o que dizer da queda das exportações e do crescente déficit externo? E da espantosa combinação de inflação alta com crescimento econômico estagnado? E juros nas alturas para empresas e pessoas físicas? E a persistente queda na produção industrial? E a crise de confiança dos empresários, que freia investimentos? E o dinheiro público subsidiando usinas elétricas paradas por falta de linhas de transmissão? Para Dilma e seu ministro da Fazenda tudo isso não existe, não passa de invenção de renitentes pessimistas - que, teimosos desde o início do governo Dilma, não enxergam que o futuro vai melhorar, a economia vai acelerar nos próximos meses, o cenário ruim será superado e o País será só sorrisos. Afinal, não custa ser otimista, não é mesmo? O negócio é que a realidade não tem confirmado esse otimismo: passados quase quatro anos de Dilma, o futuro promissor não chegou e o PIB foi caindo ano a ano (cresceu 2,7% em 2011, 0,9% em 2012, 2,3% em 2013 e em 2014 deve crescer 0,97%), segundo o Boletim Focus, do Banco Central. Distante de outros emergentes, como Chile, Colômbia e Peru, que têm crescido a uma média de 4% a 6% nesses anos.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) também entrou no rol dos pessimistas, por ter divulgado relatório apontando o Brasil como um dos emergentes mais vulneráveis às mudanças da economia mundial. De 1996 a 2001 o Brasil sofreu seguidas crises influenciadas por mudanças da economia mundial. As crises da Ásia e da Rússia, em 1997/1998, a moratória da Argentina e o ataque às Torres Gêmeas nos EUA, em 2001, encontraram um Brasil frágil em seus fundamentos econômicos, e o Plano Real ameaçou naufragar. Passados 13 anos, o País estaria vivendo novamente situação parecida?
Certamente não, porque os dois momentos são diferentes. Naquele passado, o País começava sua reconstrução, iniciada em 1994 com a derrubada da hiperinflação e o real em circulação. Os fundamentos econômicos ainda eram frágeis e entre eles despontava o câmbio, que, por servir de moeda de troca com o resto do mundo, era o mais sensível às mudanças externas. As fracas reservas cambiais não conseguiram barrar as crises que vieram de fora. Introduzido no segundo mandato de FHC, o tripé (câmbio flutuante, superávit primário e meta de inflação) foi fundamental para FHC e Lula começarem a construir paredões contra ataques externos. Os bons ventos que sopravam de fora no primeiro mandato de Lula fizeram o resto, e o Brasil acumula hoje US$ 380 bilhões de reservas cambiais. Suficientes para neutralizar efeitos de mudanças externas? Não deixam de ser um anteparo. Só que no governo Dilma o setor externo da economia tem enfraquecido de forma acelerada, deixando o País vulnerável, como alerta o FMI. Infelizmente.
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