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Pátrias e chuteiras - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 01/11
Aos 25 anos, o brasileiro Diego Costa, atacante do Atlético de Madri e um dos destaques do campeonato espanhol de futebol, tomou a sua decisão. Entre o país em que nasceu e o que lhe "deu tudo", inclusive a cidadania, julgou correto optar pelo segundo, onde se sente valorizado pelo que faz a cada dia.
É compreensível que sua escolha deixe descontentes inúmeros torcedores brasileiros e contrarie a cúpula do futebol nacional, mas tratar o atleta como traidor da pátria vai muito além do razoável.
A situação está longe de ser nova. O próprio técnico Luiz Felipe Scolari, hoje crítico de Diego Costa, treinou a equipe de Portugal depois de conquistar a Copa de 2002 pelo Brasil. Seu colega Carlos Alberto Parreira esteve à frente de quatro seleções estrangeiras.
Já antes da globalização do esporte registraram-se casos similares. Em meados do século passado, o argentino Alfredo Di Stéfano e o húngaro Ferenc Puskás atuaram por seus países e pela Espanha. O brasileiro José João Altafini, o Mazzola, que na Copa de 1958 cedeu espaço ao então jovem reserva Pelé, transferiu-se para o futebol italiano e disputou o Mundial seguinte pela Squadra Azzurra.
A ida de craques brasileiros para a Europa, no entanto, tornou-se epidêmica apenas nas últimas décadas. O poder de atração dos clubes europeus promoveu uma onda jamais vista de busca por oportunidades no futebol estrangeiro. Não apenas atletas consagrados mas também jovens promessas passaram a ser alvo do assédio.
A opção de Diego Costa inscreve-se num contexto de fronteiras menos rígidas para profissionais ligados a um sem-número de atividades. É corriqueiro que atletas adotem outras nacionalidades --não só no futebol; o tenista Fernando Meligeni, nascido na Argentina, escolheu representar o Brasil.
Que se debatam restrições à disseminação da prática. Mas condenar tais atitudes individuais?
É conhecido o substrato xenófobo do futebol --ou dos esportes. Por mais que se enalteça o espírito fraternal das disputas internacionais, elas muitas vezes são vistas como --ou chegam a ser-- prolongamentos da política e da guerra.
Inúmeros conflitos já foram fomentados por competições esportivas; estas já prestaram lamentáveis serviços ao nacionalismo sectário. Não é o caso, em absoluto, de reforçar esses traços.
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