Por Altamiro BorgesO governo Dilma anunciou ontem à noite que Antonio Patriota não é mais ministro das Relações Exteriores. A queda foi causada pela fuga para o Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina, um notório bandido, que teve a ajuda da embaixada brasileira em La Paz. “O caso gerou impasse entre Brasil e Bolívia. Pinto é opositor do presidente Evo Morales”, realçou o Estadão. Já a Folha especulou que “Dilma ficou irritada ao ser pega de surpresa” e demitiu o ministro. Ainda há muitos boatos. Mas uma coisa é certa: a saída de Antonio Patriota demorou a ocorrer. Sua atuação no Itamaraty já era alvo de críticas há muito tempo.
Num comunicado lacônico, Dilma Rousseff “agradeceu a dedicação e o empenho do ministro Patriota nos mais de dois anos em que permaneceu no cargo” e anunciou que a pasta será ocupada pelo embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU) que se projetou como coordenador da cúpula ambiental Rio+20. Antes do anúncio, Antonio Patriota foi chamado às pressas para uma conversa com a presidenta no Palácio do Planalto, cancelando a viagem que faria à Finlândia.
A suspeita fuga do conservador Roger Pinto Molina, acusado por corrupção e homicídios na Bolívia, foi a gota d’água que derrubou Antonio Patriota. A ação arriscada quebrou todos os protocolos diplomáticos e evidenciou a cumplicidade da embaixada local com as forças direitistas bolivianas. Mas a situação do ex-ministro já não era tranquila no Itamaraty. É certo que Antonio Patriota não promoveu mudanças drásticas na política externa iniciada no governo Lula, mas ele marcou a sua atuação pela timidez e pela postura defensiva – bem diferente da gestão “altiva” do ex-ministro Celso Amorim.
Os casos foram se multiplicando durante a sua apagada gestão. O mais recente envolveu a detenção, no aeroporto de Londres, do brasileiro David Miranda, companheiro do jornalista Glenn Greenwald, que denunciou o poderoso esquema de espionagem dos EUA no jornal “Guardian”. O Itamaraty adotou uma postura recuada e inócua, que relembrou o complexo de vira-lata tão criticado no reinado de FHC. O ex-ministro disse apenas que a criminosa atitude “não é justificável” e mais nada foi feito de concreto para reagir à provocação britânica, que teve a anuência do império ianque.
A mesma postura defensiva se deu com as revelações sobre os grampos de telefones e e-mails de milhões de brasileiros praticados ilegalmente pela Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA. O Itamaraty até protestou, mas de forma teatral – sem nenhuma reação mais dura. Como apontou Bob Fernandes, no sítio Terra Magazine, a chiadeira foi “meia boca” e não gerou indignação na sociedade. “Milhões de comunicações de brasileiros foram vasculhadas pelos norte-americanos. E é como se nada tivesse acontecido. Essa falta de reação, essa frouxidão, talvez ajude a explicar a arrogância dos britânicos”.
“A ciberespionagem dos Estados Unidos é dos fatos mais graves revelados neste século. A reação do mundo, ou a ausência de reações, moldará a cultura da privacidade no mundo; ou sua irrelevância daqui por diante. Por aqui, o esquema de mega-espionagem soa como coisa quase natural, banal... Quando os brasileiros despertarem para a dimensão disso tudo, talvez já seja tarde. Essa indolência ajuda a explicar a detenção de David Miranda. A humilhação e a arrogância brucutu do governo britânico refletem a lassidão, a frouxidão dos brasileiros diante da invasão da privacidade de cada um de nós”.
Neste cenário tão perigoso no mundo, em que as potências imperiais intensificam suas provocações e agressões, a passiva “diplomacia” de Antonio Patriota deseducava e diminuía o papel do Brasil. O seu estilo não se encaixava neste contexto de tantos conflitos e interesses em disputa. O episódio boliviano apenas confirmou este recuo na política “ativa e altiva” praticada por Celso Amorim e Samuel Pinheiro no Itamaraty. Até que demorou para que ele deixasse uma função tão estratégica!
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