Por Altamiro Borges
O deputado Paulinho da Força, presidente do Solidariedade (SD), despontou neste ano como chefe da gangue golpista pelo impeachment de Dilma - juntamente com o cambaleante Aécio Neves, o lobista Eduardo Cunha e o sinistro Gilmar Mendes. Sempre agressivo e descontrolado, o ex-sindicalista já xingou a presidenta e promoveu várias arruaças - além de financiar os grupelhos fascistas que lideram as declinantes marchas pelo "Fora Dilma". Nesta terça-feira, porém, Paulinho da Força despencou do palanque como um ébrio. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu abrir uma ação penal contra o parlamentar, que responderá às acusações de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
As denúncias surgiram no bojo da chamada Operação Santa Tereza, deflagrada pela Polícia Federal em 2007. O presidente licenciado da Força Sindical é acusado de integrar um esquema de desvio de recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Diante da decisão do STF, Paulinho da Força, que adora bravatear sobre corrupção, escreveu no seu twitter que é vítima do "governo do PT, que quer desqualificar seus adversários". Mas a desculpa não convence ninguém. Agora, como réu, ele terá que apresentar a sua defesa à Justiça. Outros escândalos poderão vir à tona, resultando inclusive no processo de cassação do mandato do bravateiro golpista.
No caso do desvio de grana do BNDES, as provas são contundentes. O parlamentar teria abocanhado 'comissões' que variavam de 2% a 4% dos valores dos empréstimos. "Para o ministro Teori Zavascki, relator da ação penal, conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal indicam que houve o desvio dos recursos. Segundo o ministro, planilhas manuscritas e cheques apreendidos mostram a divisão dos valores, que foram recebidos por intermédio de consultorias inexistentes e depositados na conta da ONG Meu Guri, ligada ao deputado, para ocultar a origem dos recursos", relata o Jornal do Brasil.
“A denúncia apontou que a suposta associação criminosa seria composta, entre outros, pelo acusado [Paulinho], que utilizaria sua influência junto ao BNDES para conseguir aprovação do financiamento, cobrando como contrapartida, comissões, que variavam de 2% e 4% do valor financiado. A influência exercida decorreria dos cargos ocupados pelo acusado, deputado federal, e de presidente da Força Sindical”, argumentou o ministro do STF para justificar a abertura da ação penal.
A propina antigreve
Em julho passado, outra grave denúncia já havia sido feita contra o ex-sindicalista. Em sua "delação premiada" na midiática Operação Lava-Jato, o empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC, disse que pagou propina a Paulinho da Força para evitar greves nos canteiros da construtora. A doação foi de R$ 500 mil. "Ela foi motivada pelas obras da usina de São Manoel, na divisa entre Pará e Mato Grosso, afirmou o empreiteiro. A licitação da hidrelétrica foi vencida pela Constran, do grupo UTC. Os sindicatos da região são ligados à Força Sindical, berço político de Paulinho e do Solidariedade", descreveu a Folha. A denúncia, porém, logo sumiu da mídia golpista.
Antes disso, em abril, outra pequena notinha na imprensa registrou que Paulinho da Força também deveria ser julgado por falsidade ideológica e estelionato num caso referente à compra da Fazenda Ceres, em Piraju - região sudoeste de São Paulo. O escândalo eclodiu em 2006, quando o juiz federal João Eduardo Consolim, da 1ª Vara Federal de Ourinhos (SP), aceitou os argumentos da Procuradoria da República que denunciou o deputado e os outros 11 réus de superfaturar em 77% a compra da área para "implantação de um projeto de reforma agrária".
Em 2001, o governo FHC investiu R$2,8 milhões no assentamento de 72 famílias ligadas à Força da Terra, o braço rural da Força Sindical. Do total, R$ 2,3 milhões foram gastos na compra da fazenda de 307 alqueires. Segundo três laudos técnicos, o preço real do imóvel era de aproximadamente R$ 1,3 milhão. Segundo a denúncia do juiz, Paulinho da Força e outros envolvidos teriam embolsado o restante dos recursos públicos. Além de denunciar o superfaturamento das terras, a perícia judicial também constatou que 50% dos 307 alqueires se encontravam em área de preservação ambiental.
Paulinho, Cunha e os falsos moralistas
Apesar dos graves indícios de corrupção - ou talvez por causa deles -, Paulinho da Força assumiu nos últimos meses o papel de vestal da ética. Em agosto passado, ele chegou a promover ato de apoio ao lobista Eduardo Cunha, presidente da Câmara Federal, denunciado na Lava-Jato. A cena lastimável gerou reações indignadas na Força Sindical. O secretário-geral da central, João Carlos Gonçalves, o Juruna, publicou duro artigo, sugerindo que o deputado deixasse a entidade. "O que aconteceu no dia 21 de agosto, com a transformação de uma atividade sindical em uma ação partidária, não condiz com o caminho que temos tomado. Milhares de sindicalistas filiados à Força Sindical em todo Brasil foram pegos de surpresa pelo noticiário, gerando um grande constrangimento para a central".
Agora, com a decisão do STF, talvez Paulinho da Força seja realmente levado a deixar a central e o próprio mandato. Mas por motivos de força maior!
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