Perto de completar 80 anos, Renato Aragão prepara-se para um novo desafio na carreira: estrear uma peça de teatro. Vai ser em Os Saltimbancos Trapalhões, musical de Charles Möeller & Claudio Botelho que estreia dia 3 na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. "Me assustei com o convite. Quando cheguei ao primeiro ensaio e me deparei com aquela equipe de 80 pessoas, tive vontade de recuar. Estou com medo de não corresponder à expectativa", diz o eterno Didi. No musical, ele fará suas palhaçadas, mas avisa que não vai dançar nem cantar. "Se eu dançar em cena, metade do público vai embora do teatro. Se eu cantar, a outra metade muda de país".
Como está se preparando para o musical?
Com Os Trapalhões eu fiz mais de cinco mil shows, em muitos deles reunimos até 200 mil pessoas. Mas ali sou eu fazendo minhas palhaçadas; teatro é muito mais difícil. Se comparar aos mais de 50 filmes que fiz, também complica. No cinema decoro três páginas para fazer dois ou três takes. No teatro são 80 páginas de uma vez só. Tem também que ficar atento às marcações, ao trabalho do seu colega. Mas estou gostando muito do nova experiência.
Sente saudades dos Trapalhões?
Não assisto aos meus filmes justamente porque sinto muita saudade e prefiro nem ver. Sinto muita falta do Mussum e do Zacarias, de tudo o que vivemos juntos. Mas sei que quem se agarra ao passado vai junto com ele. Quem tem projetos não envelhece. Estou fazendo minha biografia, já quase na metade. Tem um jornalista escrevendo pra mim, temos nos encontrado muito. Vai ser lançada no ano que vem.
Já se recuperou dos problemas e saúde que enfrentou?
Ensaiar o espetáculo e passar o musical três vezes por dia é a melhor resposta, o melhor remédio. O segredo é não parar.
Está preparado para a chegada dos 80?
Nem sei a minha idade. Tem dia que acordo com 90 anos, tem dias que me sinto com 30. Me cuido para envelhecer bem: não como carne vermelha há muitos anos, faço exercícios, esteira e aula de hidroginástica, todos os dias. Como me cuido, não vejo meu corpo como a idade que ele tem. Não estou apto a receber uma doença.
Se arrepende de algo?
De nada. Se pudesse voltar no tempo, faria tudo da mesma forma. Tudo na minha vida foi inesperado: não imaginava ter feito tanto sucesso, ter ficado há mais de 30 anos no ar, ter feito mais de 50 filmes...Não esperava nada disso. Se tivesse feito um filme já seria muito feliz e teria me sentido realizado.
O que tira seu humor?
O abandono à criança. Se você educa bem uma criança hoje, não vai precisar repreender um adulto amanhã. Educação é a base de tudo, mas parece que os políticos ainda não acordaram para isso. Não vou votar nesses caras que estão aí. Não tenho mais obrigação de votar, então...Até queria exercer minha cidadania e votar, mas esses candidatos não me inspiram em nada. Seja o que Deus quiser. Escreve aí que vou votar no candidato do seja o que Deus quiser.