Geral
Piada de português
Rodrigo Constantino, para o blog português Blasfémia
Eu sou do tempo em que todos contavam piadas de português, loiras, judeus, bichinhas, e estes, normalmente, eram os que mais riam de tais piadas. A capacidade de fazer humor com a própria situação, com as caricaturas de seu próprio grupo ou classe ou nação, parece-me característica fundamental de uma sociedade madura e livre.
Mas eu dizia que sou de outro tempo, que parece anos-luz de distância. Ocorre que nem cheguei aos 40 anos! Isso demonstra o quão rápido foi a deterioração do quadro. Vivemos, hoje, na era do politicamente correto, onde “almas sensíveis” querem tolher a liberdade de expressão, pois se sentem no direito de não serem “ofendidas” enquanto grupo.
Um bom exemplo desse sintoma preocupante se deu por agora, quando o programa de humor “CQC” foi alvo de um inquérito policial por fazer piadas de português. A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) de São Paulo está investigando a denúncia de que o programa teria ofendido a honra da comunidade portuguesa com piadas. Isso sim é uma piada! E de muito mau gosto...
O líder do “CQC”, Marcelo Tas, tocou no ponto nevrálgico da coisa: “Estamos entrando em uma fase surrealista com relação à liberdade de expressão, está na hora de o país debater isso. Só espero que isso não deságüe em censura”. Infelizmente, nós já vivemos sob censura! A praga do politicamente correto corrói nossa sociedade há anos, e tal como um câncer em metástase, avança sobre as células da liberdade cada vez mais rápido.
Participei com Marcelo Tas, Leandro Narloch e Reinaldo Azevedo de um painel justamente sobre a liberdade de expressão e o politicamente correto, há cerca de dois anos, em evento organizado pelo Instituto Millenium. Na ocasião, “brinquei” com Tas, alertando que temia pelo futuro de sua profissão em um mundo cada vez mais hostil ao humor. Como fica claro, eu tinha razão e fui até profético. Só não esperava que fosse tão cedo assim.
Os humoristas correm risco quando a afetação das “minorias” torna-se algo majoritário. É triste, muito triste, ver que essa “marcha das minorias oprimidas” tomou conta de tudo, e que o senso de humor é mais uma vítima desse movimento intolerante e autoritário, com cores fascistas.
Walter Block disse: “É fácil ser um defensor da liberdade de expressão quando isso se aplica aos direitos daqueles com quem estamos de acordo”. A liberdade de expressão é testada quando não estamos de acordo, até mesmo quando nos sentimos ofendidos. Afinal, se há algo como o direito de não se sentir ofendido, é melhor suspender de vez a liberdade de expressão, pois alguém sempre será ofendido pelo contraditório.
Basta pensar nas religiões e nos fanáticos religiosos, assim como nas ideologias. Será que os fundamentalistas islâmicos têm o direito de não serem “ofendidos” com a “blasfêmia” dos infiéis? O Ocidente avançou mais e preserva melhor as liberdades individuais, e por isso mesmo temos tanta gente fazendo piada com a fé alheia, ou até mesmo ataques virulentos àquele que, para milhões de crentes, era Deus em pessoa.
Podem ser ofensas gratuitas, desrespeitosas, coisa de idiota. Mas os néscios devem ser livres, pois se rejeitarmos tal premissa, nós cairemos em um governo totalitário, com um grupo de censores decidindo o que é estúpido, e o que pode ser dito. Eu prefiro pecar pelo excesso do outro lado, mesmo que isso implique em piadas grosseiras, em humor negro, em falta de sensibilidade. Melhor isso à ditadura do politicamente correto, que asfixia nossa liberdade, nossa criatividade, nosso fundamental senso de humor para sobreviver e viver melhor em um mundo já tão duro e, tantas vezes, sem sentido.
Portanto, espero que esse artigo possa servir para a reflexão de nossos queridos patrícios. Infelizmente, não tenho tantas esperanças. Afinal, desde quando português consegue interpretar direito um texto elaborado como esse? Ora pois!
-
Juventude Carrancuda - HÉlio Schwartsman
FOLHA DE SP - 13/08 SÃO PAULO - Reportagem de Thais Bilenky publicada no domingo mostrou que os professores de cursinhos pré-vestibulares estão aposentando as piadinhas e comentários jocosos. O motivo é o clima PC (politicamente correto) que se...
-
The Clash - Luiz Felipe PondÉ
FOLHA DE SP - 17/03 O Brasil não tem uma cultura de liberdade. É um país autoritário à direita e à esquerda. Volto ao tema do humor porque a questão continua a preocupar e acho que o que aconteceu com o grupo Porta do Fundos não pode acontecer....
-
A Liberdade De OpressÃo Dos Abertamente Preconceituosos
Sentindo-se confortável no meio da rua? Foi vendo o documentário O Riso dos Outros (para o qual tive a honra de ser entrevistada), de Pedro Arantes, que descobri que Preta Gil é (ou era? Será que não é mais?) uma muleta no humor brasileiro. Parece...
-
Liberdade Da Mídia é Seletiva E Covarde
Por Paulo Pimenta, no blog Viomundo: Toda a vez que o debate sobre os limites do humor emerge, a mídia – especialmente a brasileira – diz que é preciso “ir até o fim” para se garantir a liberdade de expressão. “Não podemos recuar”, afirmam...
-
Blasfémia
Se não forem cuidadosamente delineadas, podem ser assaz perigosas as propostas oficiais de revivescência e ampliação do crime de blasfémia em alguns países europeus (Holanda, Reino Unido), numa tentativa para aplacar a ira dos círculos islâmicos...
Geral