Geral
Por encanto - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 05/09
O governo espera que a Petrobras se vire ? e invista no pré-sal e nas refinarias ? sem o reajuste dos combustíveis e sem a derrubada do dólar
Há problemas que se resolvem sozinhos, como por encanto. Essa expectativa, certamente otimista, justifica a atitude de esperar um pouco diante de uma dificuldade. Quem sabe?
O risco é deixar muitos problemas no modo de espera, ao mesmo tempo. Em política econômica, então, é um perigo, especialmente porque as coisas aqui sempre têm verso e reverso.
O governo Dilma teve uma boa experiência recente de um problema que está se resolvendo por encanto ? o real valorizado, apontado pela equipe econômica como principal culpado da baixa competitividade da indústria nacional. A recuperação dos Estados Unidos e a mudança da política monetária deles, com a alta dos juros, fortalecem o dólar e, pois, desvalorizam as demais moedas, especialmente dos países emergentes. E, com isso, o real, acima de R$ 2,30 por dólar, chega a um nível de conforto, na definição de autoridades econômicas.
Isso aconteceu de maio para cá e foi uma surpresa. A Petrobras, por exemplo, quando fez seu plano de negócios, em janeiro deste ano, cravou um dólar a R$ 2,00, constante, e de R$ 1,85 no médio prazo. É isso mesmo, R$ 1,85, valor hoje sem o menor sentido.
Ainda em abril deste ano, o chamado consenso de mercado, opinião dominante entre analistas fora do governo, previa um dólar a R$ 2,00 em dezembro/13 e de apenas R$ 2,05 em dezembro do próximo ano.
Hoje, ainda há setores da indústria dizendo que, para exportar, precisam de um dólar acima de R$ 2,40, mas que os 2 e 30 já quebram um bom galho. E o governo não fez nada por isso, tudo presente dos EUA.
Vai daí, parece que o governo espera outras soluções do mesmo jeito. Ainda a Petrobras. Se o dólar mais caro favorece as exportações, também encarece as importações e a dívida de quem tomou empréstimos externos. É justamente o caso da Petrobras, importadora líquida de gasolina e diesel ? que vende por preço menor ao que paga lá fora. Duplo prejuízo.
A solução trabalhada, não por encanto, seria permitir que a Petrobras aumentasse o seu preço de venda, mas isso dá mais inflação, outro problema que permanece no horizonte. Aliás, o dólar caro espalha inflação por toda a economia, e não apenas nos combustíveis.
Muita gente no governo acredita que a inflação também se irá sozinha, mas não o Banco Central, que está aumentando os juros para combatê-la. A questão é: até onde os juros precisam e podem subir?
Sim, porque o outro problemaço é o baixo crescimento da economia ? que continua no cenário mesmo depois do bom resultado do segundo trimestre. Os dados do terceiro já mostram forte desaceleração ? e juros altos, ou seja, crédito mais caro para empresas e consumidores, certamente não ajudam qualquer recuperação.
É verdade que, para esta recuperação, o governo conta com os leilões de privatização de rodovias, portos, aeroportos e ferrovias, ou concessões, na língua oficial, que provocariam uma onda de investimentos. Também é verdade que, aqui, o governo não está esperando que a solução caia do céu. Está empenhado em realizá-los.
Mas parece que espera uma solução por encanto do maior problema que cerca esses leilões: o marco regulatório (ou a confusão regulatória) e a falta de confiança dos investidores no governo.
O governo quer aqui uma combinação impossível: muitos investimentos privados, lucros limitados e tarifas baixas. Quando o pessoal reclama, o governo responde: confiem em nós que vai dar certo. Em termos mais práticos, o governo diz aos investidores: quem ganhar a concessão terá direito a ter o governo como sócio, via BNDES, outros bancos públicos e fundos de pensão de estatais. Mas reparem: essas associações terão que ser negociadas e fechadas depois do leilão. Ou seja, o investidor precisa acreditar que o embrulho regulatório e as confusões feitas pelo governo nas áreas de energia elétrica e combustíveis, por exemplo, serão sanados rapidamente por esse mesmo governo. E este, de sua parte, acha que os leilões vão resolver tudo.
Tudo somado e subtraído, o governo espera que a Petrobras se vire ? e invista no pré-sal e nas refinarias ? sem o reajuste dos combustíveis e sem a derrubada do dólar. Também espera que os juros altos, dos quais não gosta, contenham a inflação, sem segurar o crédito e o crescimento. Acredita ainda que o real desvalorizado ajuda a indústria e as exportações em geral, mas não gosta nem de pensar que derruba o poder aquisitivo dos salários pela alta da inflação. Acha que pode estimular e bancar investimentos em infraestrutura, sem prejudicar o consumo e os gastos públicos.
E assim vamos, quer dizer, esperamos.
-
Âncora Cambial - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 09/04 Ontem, as cotações do dólar no câmbio oficial chegaram a recuar para abaixo de R$ 2,20. A queda acumulada no ano é de 6,4%. Apenas nos seis primeiros dias úteis de abril, alcança 2,7%. No ano passado o governo Dilma...
-
Dá Para Arrumar, Mas... - Carlos Alberto Sardenberg
O GLOBO - 26/12 Comparando com padrão europeu, 2% de crescimento parecem bem amigáveis. Mas o Brasil está abaixo da média dos emergentes Então ficamos assim: o Brasil cresce 2% ao ano, com a inflação na casa dos 6%. Esta é a matriz Dilma, se não...
-
Dólares E Bananas - Carlos Alberto Sardenberg
O GLOBO - 12/09 De quanto será o dólar no fim deste ano, na época das viagens de férias? Ele respondeu: tenha como regra que o dólar ficará caro por um bom tempo Nem deu tempo para o pessoal se acostumar com o dólar a R$ 2,45. Nos últimos dias,...
-
Fé, Esperança E Caridade - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 25/08 Governo espera que baixadinha do dólar desestimule empresários a elevar preços GENTE DO GOVERNO ficou muito animada com o tombo do dólar na sexta-feira, cortesia do plano do Banco Central de oferecer oxigênio a quem estiver com...
-
Dólar Em Alta, Brasil Em Baixa - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 16/08 Nova onda de desvalorização rápida neste ano vai causar novos estragos na economia machucada DESDE MAIO, a história da desvalorização do real pode ser contada quase tim-tim por tim-tim pelo aumento dos juros no mercado dos Estados...
Geral