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Por que se mata tanto no Brasil - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 13/04
A dois meses de sediar a Copa do Mundo, um dos eventos internacionais que mais implicam cuidados com a segurança, o Brasil está exposto ao planeta como território minado. Se a América do Sul desponta entre as regiões mais violentas da Terra, quando comparado a vizinhos de subcontinente, este país ainda consegue ser destaque nesse cenário de horror, atrás apenas da Venezuela e da Colômbia. E o pior é que, mais do que registrar quadro tão trágico, relatório das Nações Unidas divulgado na quinta-feira passada revela retrocesso.
Depois de dois anos de queda, tanto o número de homicídios quanto a taxa de assassinatos por 100 mil habitantes estão em franca ascensão no Brasil. De 45,8 mil assassinatos em 2008, o país registrou 43,2 mil em 2010, dando pulo para 50,1 mil em 2012. Já o índice, de 23,9 por 100 mil habitantes em 2008, baixou para 22,2 em 2010 e chegou à casa dos 25,2 em 2012. Ressalve-se que a paridade considerada aceitável pela Organização Mundial da Saúde é de, no máximo, 10 em cada grupo de 100 mil, menos da metade da constatada aqui.
É bom prestar atenção aos números. Compare: se uma família tem cinco membros - pai, mãe e três filhos -, é como se 10 mil núcleos familiares fossem exterminados ao longo de 12 meses, mais de 833 por mês. "É um município do interior que desaparece anualmente no Brasil", atesta Nivio Nascimento, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), a instituição responsável pelo levantamento, para quem "os dados são assustadores". Sem dúvida - e de qualquer ângulo que se possa observá-los. Por exemplo: de cada 10 pessoas assassinadas em 2012, quatro eram americanas, uma brasileira.
Mas qual a razão da matança? Certamente, são muitas. A ONU revela que, nas Américas, 30% das mortes estão relacionadas ao tráfico de drogas. Especialistas apontam outras causas, como o inchaço das cidades, que dificulta a ação da polícia, e a impunidade. De fato, polícia e Justiça atuantes são receitas certas para enfrentar qualquer tipo de crime. E a segurança pública é caótica no Brasil, para dizer o mínimo. Além disso, há um quadro social ainda preocupante - embora os avanços recentes -, com a má qualidade da educação, da saúde, dos transportes, deteriorando a qualidade de vida, sepultando esperanças, gerando violência.
Não que todas as políticas públicas brasileiras tenham fracassado ou estejam fadadas ao fracasso. Há experiências exitosas até no combate à criminalidade. A própria ONU reconhece, no relatório, o sucesso de iniciativas como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), do Rio de Janeiro, e o Pacto pela Vida, de Salvador. Há ainda a campanha do desarmamento, de âmbito nacional. Mas esse é um problema que precisa ser atacado no todo, por todos os flancos e ao mesmo tempo. E nosso próprio sistema penitenciário é mais conhecido por fabricar do que recuperar bandidos. Vamos ver o que restará do legado da Copa, com as novas estratégias e novos equipamentos de combate à criminalidade.
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