Porque parou - MIRIAM LEITÃO
Geral

Porque parou - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 26/06

O governo precisa mudar projetos e prioridades se estiver falando sério sobre mobilidade urbana. O trem-bala é a maior obsessão. Mas vejam se faz sentido: iria custar R$ 12 bilhões, depois chegou a R$ 19 bi, passou para R$ 30 bilhões, e agora é R$ 33 bi. No mercado se diz que pode chegar a R$ 60 bilhões. Com esse dinheiro, daria para triplicar a rede de metrôs que existe hoje no Rio de Janeiro e em São Paulo.

O professor Paulo Fernando Fleury, especialista em logística, acha que um sinal de que não faz sentido essa insistência é o fato de que o leilão foi marcado e suspenso três vezes porque não aparecia empresa interessada. A cada fracasso, o governo aumentou as vantagens para o empreendedor, elevando a parte que será financiada ou garantida pelo governo:

- Hoje já se pode dizer que 90% do projeto será de uma forma ou de outra com capital estatal em financiamento ou subsídio. A nova licitação está marcada para este ano.

Seria maravilhoso, de fato, ter um trem rápido ligando Rio e São Paulo para ser alternativa à ponte-aérea. A questão é que o Brasil está sufocado por problemas de mobilidade urbana mais urgentes. Praticamente, as cidades estão paradas no trânsito, perdendo tempo, produtividade, vida em família, lazer, chance de ficar com os filhos, hora de namorar, tempo para o descanso. Horas e horas, todo o dia é dia de ficar parado no trânsito. Ninguém aguenta tanto sufoco e isso se espalhou pelo Brasil. Há muito tempo São Paulo perdeu a exclusividade desse tormento. E quem vai de transporte público sofre infinitamente mais.

Nisso, o governo deixa de investir o pouco que está no Orçamento para a mobilidade urbana. Os dados do site Contas Abertas são estarrecedores.

- Nos últimos 11 anos, desde 2002, todo o dinheiro previsto para a mobilidade urbana no Orçamento Geral da União foi de R$ 5,8 bilhões e foi desembolsado apenas R$ 1,1 bilhão. Isso é 19% do total que estava autorizado no Orçamento - diz Gil Castelo Branco.

Agora, leitores, comparem a exuberância do dinheiro que será necessário para fazer o trem-bala e a irrisória quantia colocada em 11 anos em mobilidade urbana. E vamos pensar: o que é mais importante?

Quando foi criada a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), elogiei, aqui neste espaço, pensando que, afinal, haveria algum órgão pensando a logística do país de uma forma geral.

- A EPL está com todo o foco voltado para o trem-bala. Só o estudo de engenharia detalhado custou R$ 1 bilhão - diz Paulo Fleury.

A mobilidade urbana é assunto dos três níveis administrativos, mas grande parte das obras pode ser feita com recursos da União.

- No sétimo balanço do PAC, o governo informa que em mobilidade urbana há 50 obras nas grandes cidades, duas concluídas, e 63 projetos nas cidades médias, todas em "ação preparatória" - diz Gil Castelo Branco.

Enquanto não investia em obras para melhorar o ir e vir nas engarrafadas cidades brasileiras, o governo abriu mão de bilhões de impostos para incentivar a compra de carro individual, perdendo recursos que, por lei, deveriam ser destinados ao investimento em infraestrutura de transporte.

Se o governo quer mesmo falar sério sobre um pacto com os outros entes federados em mobilidade urbana, terá que fazer mais do que dar mais um subsídio ao diesel. Precisa realmente investir pesado nessa área. E será preciso escolher o que é mais importante.

A presidente Dilma disse que serão feitos investimentos de R$ 50 bilhões. Mas faltou dizer: onde, em que projetos, em quanto tempo, quais serão as prioridades, e de onde sairá o dinheiro? Se não responder isso, está jogando números ao vento. Mais uma vez.




- Um Teste Para Dilma - Editorial O EstadÃo
O Estado de S.Paulo - 15/08 Bastou a presidente Dilma Rousseff anunciar seu compromisso de destinar R$ 50 bilhões para melhorar a mobilidade urbana - na esteira das grandes manifestações de junho, que tiveram as deficiências do transporte público...

- Tav Sem Plano B - Miriam LeitÃo
O GLOBO - 09/08 O presidente da Empresa de Planejamento e Logística, Bernardo Figueiredo, admitiu que pode ser adiado novamente o prazo de entrega de propostas para o trem-bala. "O que estamos avaliando é que se nós não mudarmos o prazo, teremos pouca...

- Trem-bala Será Tema De Campanha Eleitoral - Daniel Rittner
VALOR ECONÔMICO - 02/08 Na terça-feira, a presidente Dilma Rousseff resolveu ouvir quatro ministros sobre um assunto do qual vem apanhando injustamente: o leilão do trem-bala. Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Guido Mantega (Fazenda), Miriam...

- Para Não Ficarmos Imobilizados Nas Ruas - Washington Novaes
ESTADÃO - 19/07 Já não era sem tempo. A mobilização social, dezenas de grandes manifestações nas cidades com reivindicações em muitas áreas, afinal trouxe para as ruas um tema - a chamada "mobilidade urbana" - até então quase limitado às...

- Cancelar O Trem-bala - Antonio Dias Leite
O GLOBO - 05/07 Após alguns dias de aparente perplexidade diante das manifestações de rua, a presidente Dilma foi simples e objetiva no seu pronunciamento do dia 21, propondo-se a conduzir pacto político pela melhoria dos serviços públicos. Reconheceu,...



Geral








.