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Poupar o que é valioso - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 31/01
O ano na energia começou com um perigo a mais. Fontes dizem que o preço do mercado livre disparou dos atuais R$ 484 para R$ 820 o megawatt/hora. Esse é o problema conjuntural. O estrutural é a ausência de programas de consumo eficiente. Estados Unidos e China têm programas agressivos de economia de energia e de redução do consumo. O governo Dilma diminuiu as tarifas e incentivou o consumo, mas os programas de economia de energia patinam.
A reportagem de domingo no GLOBO, escrita pela jornalista Ramona Ordoñez, mostrou dois defeitos do setor no Brasil: a matriz está se tornando mais suja e o desperdício chega a meia Itaipu.
O fato de que o país demandará muita energia no futuro é usado para justificar projetos caros, com subsídios embutidos e cheios de problemas, como os de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. Sem falar na forma controvertida como foram licenciados pelo Ibama ou o atraso nas compensações ambientais de Belo Monte. Os especialistas têm mostrado evidências de que, hoje, as hidrelétricas financiadas pelo governo federal e as rodovias são os principais vetores do desmatamento na Amazônia, que subiu em 2013 depois de oito anos de queda.
Mas os setores ligados às construtoras de barragens, descontentes com a opção pelas usinas a fio d?água, aumentam a pressão para a construção de mais usinas e com grandes reservatórios. Pouco se fala do potencial de redução de mais de 30% com programas efetivos de economia de energia e eliminação dos subsídios à energia convencional, principalmente de fontes fósseis.
O resultado é que as energias fósseis aumentaram sua participação na matriz elétrica brasileira de 6,8%, em 2009, para 12,7%, em 2012. O uso de fontes não renováveis cresceu 42,6% entre 2003 e 2012. Já a geração de energia renovável aumentou menos: 37%. A geração a carvão, a mais poluente de todas, cresceu 41%.
Houve movimentos positivos, como o crescimento e a consolidação da energia eólica na matriz elétrica brasileira. A geração eólica cresceu exponencialmente. Aumentou quase dez vezes entre 2003 e 2007. Entre 2007 e 2012, sete vezes. A primeira fase de crescimento é, na verdade, menos significativa, porque ela sai praticamente do zero. Mas na segunda, saltamos de menos de 0,6 GW para 5,0 GW. No ano passado, pela primeira vez, foram habilitados projetos de energia solar nos leilões. Não conseguiram ofertas, porque o preço do kW/h ainda é muito alto. Mas é importante que essa fonte já tenha sido admitida nos leilões, o que estimulará a indústria a tentar chegar a preços mais competitivos. Deveria ter sido muito mais estimulada a energia solar. A participação da energia renovável na produção de energia primária cresceu de 47% em 2003 ao pico de 48,7% em 2007. Infelizmente, a partir de 2008, essa participação começou a cair, chegando a 46% em 2012.
O aumento da participação de fontes poluentes, como carvão, e o crescimento do consumo subsidiado de diesel e gasolina nos transportes tiveram como resultado imediato um incremento de 30% nas emissões de gases estufa do setor de energia, entre 2006 e 2012. As emissões totais do Brasil caíram 28%, por causa da queda do desmatamento, mostram as estimativas do Observatório do Clima, uma rede independente de entidades de pesquisa. O setor de energia representava 16% das emissões em 2006. Em 2012, passou a responder por 29,4%. Infelizmente, como se sabe, o desmatamento cresceu em 2013.
Na reunião do Fórum Econômico Mundial, o secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría, disse aos empresários, lá reunidos, que o último relatório do IPCC, divulgado parcialmente no ano passado, deixa claro que não estamos fazendo o suficiente para enfrentar o desafio climático. Convocou governos e empresas a buscar a meta de emissão zero na segunda metade do século. ?Nada menos que uma transformação geral da economia da energia será suficiente", disse. No Brasil, estamos caminhando na direção contrária. E o país ainda se dá ao luxo de ter eólicas rodando à toa, sem linhas de transmissão, em momento em que falta energia boa, limpa e barata no sistema. Hoje, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica e o
Operador Nacional do Sistema Elétrico informarão o preço no mercado livre. As informações são de que ele está disparando.
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