Premiê espanhol sob fogo - GILLES LAPOUGE
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Premiê espanhol sob fogo - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 19/07

Na Espanha, um indivíduo corrupto é chamado de "chorizo" (que além de "linguiça" significa ladrão). Assim, os espanhóis enfurecidos, os indignados, acharam natural organizar na noite de ontem, diante da sede do PP - Partido Popular (legenda conservadora cuja figura de proa é o premiê Mariano Rajoy) um grande churrasco de linguiças.

Desse modo, as narinas dos companheiros políticos de Rajoy poderão sentir o aroma das linguiças misturado com os odores de madeira, das chamas e talvez das cinzas. Rajoy reagirá? Até agora, depois de dois meses com a reputação abalada por suspeitas de corrupção, ele responde com o silêncio ou pequenas frases sem consistência.

Por um bom tempo, sua atitude flegmática fez maravilhas. Mas, à medida que as revelações se multiplicam, a "estratégia do avestruz" chega ao seu limite. Poderá ele enganar seus compatriotas ou devemos considerá-lo, como fazem os chefes do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e também a imprensa espanhola, como os jornais El País e El Mundo, um "primeiro-ministro em período de sursis"?

O curioso é que a fogueira cujas chamas começam a queimar os pés de Rajoy foi acesa por um homem do seu próprio partido, Luis Bárcenas, o tesoureiro todo poderoso do PP durante cerca de 20 anos que acabou sendo indiciado, preso por fraude fiscal e lavagem de dinheiro. Foi quando Bárcenas rompeu sua amizade com Rajoy e desenrolou a imensa lista de obscenidades, vilanias cometidas por ele e pela maioria dos dignatários do partido conservador, Rajoy em primeiro lugar.

Esquema. Vamos resumir esse imbróglio. Ao que parece o PP mantinha um caixa 2, o que permitia a Bárcenas distribuir somas consideráveis para os líderes do partido. Exemplo: em junho de 2009, Rajoy, e também Dolores de Cospedal, número dois do PP, teriam recebido de mãos limpas (se podemos dizer assim) 90 mil em notas de 500 em envelopes marrons.

Rajoy responde apenas vagamente a tais acusações. Prefere dizer que há muito tempo rompeu com Bárcenas e não o viu mais.

Infelizmente, não é verdade. Nesta semana, El Mundo revelou que Rajoy e Bárcenas ainda se viam em março passado. E trocavam mensagens de SMS. Essas mensagens foram então requisitadas depois de a Justiça espanhola ter revelado que Bárcenas mantinha na Suíça uma conta pela qual transitaram 48 milhões. O que informavam os SMS trocados em março? Por exemplo, disse o tesoureiro: "Luis, eu compreendo. Seja forte. Ligo amanhã".

No momento, a maioria de Rajoy entre os deputados se mantém. É verdade que é uma grande maioria. O PP, tendo abocanhado 185 cadeiras na Câmara dos Deputados nas eleições de 2011, parece ao abrigo de qualquer debacle. Mas a opinião pública começa a se enervar. Uma pesquisa realizada no início deste mês pelo Instituto Merroscopia indica que Rajoy só inspira confiança em 13% da população. Outros institutos sugerem 20%.

O que torna mais dramática a situação do premiê é que esse escândalo vem se juntar a outros flagelos dos quais a sociedade espanhola é a vítima agonizante. Em primeiro lugar, a situação econômica desastrosa, apesar de uma melhora das exportações. A porcentagem de desempregados chega a 20%. Entre os jovens, ela alcança 52%, o que é insuportável e leva toda a sociedade ao desespero.

Além disso, o rei da Espanha, Juan Carlos, por tanto tempo considerado a argamassa da sociedade após Franco, está implicado em escândalos de outro tipo: ligações escabrosas, em particular com uma princesa, ou condessa, ou uma dama da grande burguesia (não se sabe muito a respeito) alemã.

A isso se acrescentam revelações de que ele se dava ao luxo de pagar, a preços absurdos, caçadas de elefantes e outros animais de grande porte na África. É verdade que Juan Carlos, nos últimos dois anos, tornou-se mais sensato e não pratica mais esse tipo de esporte. Isso porque foi vítima de um grave acidente durante uma caçada e os quadris reais já não valem muita coisa. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO




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