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Protecionismo em alta, Mercosul em baixa
Rodrigo Constantino
A insistência no Mercosul por motivos estritamente ideológicos tem custado muito caro ao Brasil. Em reportagem no Valor hoje, as duas maiores confederações empresariais do país batem nessa tecla. Diz a matéria:
Para evitar que a paralisia argentina dificulte avanços nas discussões, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) sugerem ao governo uma nova estratégia comercial: um "acordo guarda-chuva" do Mercosul com a UE.
Regras gerais poderão ser definidas em conjunto, o que constituiria um "guarda-chuva" mais amplo, na proposta feita pelas entidades ao Ministério do Desenvolvimento e ao Itamaraty. Já os setores e o ritmo de abertura ficariam a cargo de cada país, caso não haja consenso entre os sócios do Mercosul. Um modelo semelhante foi usado em negociações com o México e com a Comunidade Andina, mas o governo ainda resiste em aplicar a mesma lógica no acordo comercial com a UE.
"Se der para fazer um acordo via Mercosul, ótimo. Mas não podemos perder essa oportunidade por causa da resistência argentina", diz a presidente da CNA, Kátia Abreu. Segundo ela, o empresariado brasileiro nunca esteve tão afinado como agora para fazer uma oferta aos europeus. "Já temos uma harmonia quase perfeita entre a indústria e o agronegócio", afirma Kátia, que é também senadora (PSD-TO).
A Argentina tem sido um entrava para o avanço das negociações de livre comércio do Brasil. Até quando vamos pagar esse alto preço pela afinidade ideológica dos governantes de ambos os países? O protecionismo comercial interessa apenas a alguns poucos produtores, enquanto prejudica todo o restante do país. E, conforme mostra o advogado Eduardo Matias, em artigo no mesmo jornal, esse protecionismo está em alta no mundo todo:
Estudo recente da Global Trade Alert mostra que 431 novas medidas protecionistas foram implementadas de junho de 2012 até hoje. Os dois últimos trimestres superaram, com folga, o número de medidas deste tipo em qualquer trimestre anterior desde 2008 -inclusive o recordista deles até então, o primeiro de 2009, no auge da crise.
Os efeitos disso são muito negativos. No caso brasileiro, um país relativamente fechado, a escalada protecionista produz resultados ainda piores:
Internamente, a proteção excessiva leva à perda de competitividade e diminuição do bem-estar geral da população. O protecionismo pode estar atendendo aos anseios de apenas uma parte ineficiente do setor produtivo, em detrimento da sociedade - que arca com a inflação de preços - ou do setor produtivo como um todo. Além disso, penalizar as importações - que caíram 2% no Brasil em 2012, segundo a OMC - pode causar um aumento no preço de insumos necessários à produção, o que torna nossa economia menos competitiva também nas exportações. Seria um tiro no pé para um país que já exporta pouco - segundo o mesmo levantamento, continuamos em 22º lugar, com participação de apenas 1,3% das exportações mundiais. Em 2012, as vendas brasileiras para o exterior sofreram uma redução de 5% em relação ao ano anterior, situação que pode ser atribuída, em grande parte, à crise na Europa - grande importadora - e à queda nos preços das commodities, mas que, certamente, não se beneficia da ausência de novos acordos de livre comércio e dos entraves à produção em nosso país.
O Brasil precisa se abrir mais, reduzir barreiras protecionistas que só protegem setores ineficientes, e mergulhar de vez no livre comércio. O Mercosul tem sido um obstáculo a isso.
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