Por Victor Farinelli, de Santiago, no Opera Mundi:Após três marchas não-autorizadas que terminaram em violentos confrontos entre estudantes e policiais, o Chile viveu novamente, nesta terça-feira (09/08), uma manifestação, dessa vez com respaldo das autoridades.
A chancela, no entanto, não evitou choques entre a polícia e os manifestantes, compostos principalmente por movimento estudantil e encorpado por professores e sindicalistas. Também estiveram presentes grupos de idosos e algumas crianças acompanhadas pelos pais. No entanto, foi mais uma demonstração de força dos estudantes, que exigem profundas mudanças no sistema educacional do país, e descontrole do governo.
A marcha mais importante ocorreu na capital Santiago, em um trajeto diferente – fato que possibilitou a autorização da passeata pela Intendência Metropolitana, órgão regulador da força policial na capital chilena.
A concentração ocorreu às 10h, em frente ao campus da Universidade de Santiago, zona oeste da cidade, e seguiu em direção a setores alternativos do centro da cidade, bem distantes do Palácio de La Moneda, casa presidencial, e finalizou no Parque Almagro, cerca de 500 metros da sede presidencial.
Não houve registro de incidentes até cerca de 12h locais (13h no horário de Brasília), quando um grupo isolado de manifestantes encapuzados gerou distúrbios contra prédios públicos e privados em um calçadão no centro da capital.
Testemunhas denunciaram à imprensa que ao menos três dos encapuzados desceram de ônibus policiais antes de se juntarem à manifestação.
A polícia militar interveio e lançou jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo contra o grupo, que também foi repreendido pelos participantes da marcha central.
Segundo o prefeito de Santiago, o grupo de jovens que teria causado os incidentes seriam cerca de apenas 200, frente às cerca de 60 mil pessoas que participam do ato estudantil, segundo calculam as autoridades. As autoridades ainda não estimaram oficialmente o número de pessoas detidas.
A Confech (Confederação dos Estudantes do Chile) estimou, ao final da jornada, a participação de cerca de 150 mil pessoas somente na marcha de Santiago, e mais de 400 mil em todo o país. A Intendência Metropolitana previu somente 100 mil na capital. A população do Chile é de 17 milhões de pessoas.
Outros setores sociais se juntaram ao ato, como a CTC (Confederação dos Trabalhadores do Cobre), a Anef (Agrupação Nacional de Empregados Fiscais), a CUT (Central Unitária de Trabalhadores), a Confusam (Confederação Nacional de Funcionários da Saúde Municipalizada) e o Sintec (Sindicato Interempresas da Construção).
Às 16h, em entrevista coletiva, a presidenta da Confech, Camila Vallejo, destacou o sucesso da manifestação de hoje: "Isso demonstra que o movimento segue amplamente respaldado pelos cidadãos. Demos uma tremenda demonstração de força e esperamos que o governo seja capaz de perceber isso e mudar sua postura. Mostramos que não somos intransigentes ao aceitar caminhar pelo trajeto alternativo oferecido por eles. Agora é o governo que precisa mostrar que não é intransigente, e aceitar o que o movimento está reivindicando".
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