Por Altamiro BorgesNum gesto corajoso de protesto contra as arbitrariedades cometidas no midiático julgamento do “mensalão”, o deputado André Vargas (PT-PR), vice-presidente da Câmara Federal, ergueu o punho cerrado na sessão de reabertura do Congresso Nacional, na tarde de segunda-feira. Sentado bem ao seu lado, o presidente do STF, o “supremo” Joaquim Barbosa, ficou aparentemente irritado. De imediato, “calunistas” da mídia tucana e expoentes da oposição saíram em defesa do carrasco do Supremo. O líder dos tucanos, deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), inclusive já anunciou que pretende propor a cassação do mandato do petista paranaense por “quebra de decoro parlamentar”.
“Foi um símbolo de reação dos nossos companheiros que foram injustamente condenados. O ministro está na nossa Casa. Na verdade, ele é um visitante, tem nosso respeito, mas estamos bastante à vontade para cumprimentar do jeito que a gente achar que deve... Foi um sinal de que não aceitamos passivamente as condenações sem provas desse julgamento político”, explicou André Vargas. Para ele, o julgamento do STF foi um show midiático eivado de erros processuais e a própria prisão dos condenados foi marcada por arbitrariedades – como as prisões em regime fechado, quando a pena prevista era de regime semiaberto. Já Joaquim Barbosa preferiu não se manifestar sobre o protesto. Disse que não viu nada!
Em sua defesa, porém, a mídia golpista e a oposição direitista reagiram rápida e furiosamente. Sem rumo e sem propostas, estes setores tentam usar a injusta sentença do STF como palanque eleitoral. Eles se travestem de paladinos da ética, quando todos sabem que eles são mais sujos do que pau de galinheiro. Um dos mais irritadinhos é o deputado Antonio Imbassahy, líder do PSDB na Câmara. Para ele, a atitude do petista foi “constrangedora e desrespeitosa... Vargas é vice-presidente de um Poder, o Legislativo, e deve se comportar com a dignidade que o cargo requer, e não desrespeitando o presidente de outro poder, o Judiciário”. Daí a sua proposta de cassação por quebra do decoro parlamentar!
Na mídia, a gritaria também já é intensa. Ela até agora não engoliu as campanhas de doações a José Genoino e Delúbio Soares, que conseguiram rapidamente cobrir as pesadas e absurdas multas impostas pelo STF. A solidariedade militante deixou muitos “calunistas” enfurecidos. O punho cerrado de André Vargas, então, passou a ser encarado como uma provocação, um soco no estômago. O blogueiro Josias de Souza, que circula com desenvoltura no ninho tucano desde os tempos de FHC, considerou o gesto um grave erro e ainda comparou os petistas “aos ratos que botam a culpa no queijo. E ainda erguem o braço para simular uma revolução”.
“A desenvoltura de André Vargas indica que deve haver, escondida nos subterrâneos do PT, uma escola de desfaçatez com especialização em cinismo. Não é possível que tantos petistas já nasçam com tamanho conhecimento das mumunhas. Quando Lula diz que logo, logo vai explicar a ‘farsa’ do mensalão, quando Rui Falcão, atual presidente do PT, declara que o Supremo julgou sob pressão da mídia golpista, eles não se tornam bons exemplos. Mas viram extraordinários avisos. Avisam que o PT não toma jeito. Quando José Dirceu e Genoino se autoproclamam inocentes ‘presos políticos’, fazem lembrar as virgens de Sodoma e Gomorra”, esbravejou em seu blog hospedado na Folha tucana.
Todo este ódio tem como objetivo intimidar a militância que não se cala diante das arbitrariedades do STF, das demagogias da oposição ou das manipulações da imprensa. A solidariedade militante a Genoino e Delúbio e o punho cerrado de André Vargas incomodam a direita nativa. Como apontou o jornalista Ricardo Melo, um dos raros contrapontos na Folha tucana que ainda têm coragem de reagir ao pensamento único da mídia golpista, o medo desta turma é com a militância de esquerda que não se dobrou ao pragmatismo político e ousa luta e se rebelar. Vale conferir seu corajoso artigo, publicado nesta segunda-feira (3):
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A quem o povo assusta?
Genoino agiu como deveria ser habitual num partido de raízes populares ao pedir ajuda aos militantes do PT
Imagine o cenário. Vencido o prazo para os condenados da AP 470 pagarem as multas, nenhum apareceu. José Genoino, olhe só, alegou que o valor supera o preço de sua casa. Os outros tampouco respeitaram a sentença. O que aconteceria?
Pelo que se tem lido e ouvido, batata. "Mensaleiros do PT desprezam Justiça." Ou então: "Além de truculentos e corruptos, petistas dão calote no Tesouro". Ou parafraseando aquele ministro falastrão: "Eles merecem mais que o ostracismo: ademais de incomunicáveis, precisam apodrecer na cadeia e receber apenas uma refeição por dia. E mais: entrar para sempre na lista negra da Serasa!".
Outra hipótese. Com dois ou três telefonemas, ou num regabofe no coração de Higienópolis, condenados se acertam com a banca e o dinheiro surge em segundos - o tempo de uma TED. Formalmente, tudo dentro da lei: não é crime receber auxílio para pôr contas em dia. Para os banqueiros, seria apenas uma gorjeta diante de lucros nunca antes imaginados. O juízo midiático, contudo, também seria inapelável. "Cai a máscara: bancos ajudam companheiros a pagar multas."
Surpresa (ou decepção) para muitos: nada disso ocorreu. Sem afrontar instituições, sem desrespeitar qualquer direito (diferentemente do que ocorre com os dos condenados), Genoino e cia. agiram como deveria ser habitual num partido de raízes populares: recorreram à militância. Quem se assustou? Todo mundo para quem não passa pela cabeça alguém doar dinheiro por acreditar em alguma coisa, alguma ideia, algum futuro.
A reação mostra o grau de envenenamento do clima político atual. Partiu-se para a troça. Alguns leitores pediram desde uma vaquinha para honrar carnês até auditoria implacável nas doações. Houve mais. Embaladas como coisa séria, reportagens acusaram os petistas de arrecadar mais dinheiro que a Pastoral da Criança! O que tem a ver uma coisa com a outra? Por acaso a Pastoral está em campanha? Pareceria mais razoável comparar o orçamento desta ONG com fundos auferidos pelo Criança Esperança - mas aí a coisa complica diante do calibre dos interesses envolvidos.
O deputado tucano Jutahy Magalhães Júnior, por sua vez, exagerou no ridículo. "Isso é um acinte, um deboche." Por quê? Talvez porque os condenados, em vez de seguir o recém-divulgado manual de propinas de empresas como a Alstom, optaram pela arrecadação popular e voluntária.
Não há anjos em política, mas a democracia em vigor prevê o respeito a decisões judiciais, até num caso polêmico como a AP 470. A democracia não obriga, contudo, ao conformismo bovino - exceto no caso da vigência de ditaduras disfarçadas ou quando se está sob o tacão de juntas togadas travestidas de supremas.
Muito ainda vai se falar da campanha de doações petista. Pode ser que impropriedades tenham sido cometidas. Mas certamente nada tão grave, por exemplo, como a montanha de denúncias fartamente documentadas no livro primoroso do jornalista desta Folha Rubens Valente, "Operação Banqueiro". Como se sabe, a obra desvenda relações promíscuas entre Poderes da República e o personagem Daniel Dantas. Investigá-las ou não fica ao gosto do freguês.
Feitas as contas, o mais sincero entre os apavorados foi o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha. Como se discute o financiamento público nas eleições, o deputado sentiu a água subir: "Só o PT vai ter dinheiro. Se da cadeia ele arrumou isso, imagina da Esplanada".
Qual o "crime" do partido? Para o deputado, o PT é o único com militância suficiente para arrecadar grandes quantias em defesa de ideais. Em vez de fazer o mesmo e disputar apoiadores entre o povo, a turma suprapartidária de Cunha prefere levantar dinheiro na surdina para melhor abafar suas próprias causas.*****
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