Por Emir Sader, no site Carta Maior:
Política é construção de força, mas é também iniciativa. Uma das coisas boas de vencer a eleição é poder recuperar a iniciativa.
Mas quando o governo vai recuperar iniciativa? Quem tem a iniciativa pode definir a agenda, os temas centrais, os termos em que esses temas serão abordados.
Durante toda a campanha – como continuidade de todos os anos anteriores de predomínio da mídia monopolista na fabricação da opinião pública – a direita teve a inciativa. Mediante a ofensiva brutal contra o governo, seja pelo terrorismo econômico, seja pelo denuncismo reiterado, ganhou o debate. Dilma triunfou sobretudo pelo efeito das políticas sociais do governo.
Terminadas as eleições, a oposição mantem sua ofensiva, na disputa das agendas nacionais. Para o governo, os temas centrais são a reforma política, a desmonopolizacao da mídia, a retomada do crescimento econômico. Mas onde estão os meios para disputar essa agenda na opinião pública? Ao invés de avançar, ela encontra já resistências, na ação do Congresso e de parlamentares do PMDB que se opõem a um procedimento democrático para a reforma política.
A agenda nacional segue dominada pela oposição: viés deformado de abordar a economia – destaque para o déficit de empregos, camuflagem do crescimento econômico pelo segundo mês consecutivo, abordam viciada da apresentação das contas do governo – e pela retomada do denuncismo, contando com a PF.
Enquanto isso Dilma parece acreditar que ela tem todo o tempo que quiser para formar o novo governo e definir o plano de ação do segundo mandato.
Não basta a Dilma ter dito que vai apurar até as ultimas consequências a operação da Veja nos últimos dias de campanha. É preciso apurar e desde já, recolocando o tema na pauta política do país.
Não basta a Dilma dizer que vai atuar contra os monopólios e os oligopólios na mídia, como manda a Constituição. É preciso que ela comece já a agir e a demonstrar os caminhos pelos quais vai se fazer cumprir a Constituição.
Não basta a Dilma reiterar a prioridade da reforma política, para acabar com os financiamentos empresariais. É preciso buscar os caminhos pelos quais se possa contornar a resistência daqueles que a sabotam, se pronunciando contra o plebiscito, pelo qual o povo determina as orientações fundamentais na reforma. Na ausência disso, a proposta que circula é uma contra-reforma, um retrocesso, que tornaria ainda menos democrático o processo eleitoral.
Não basta a Dilma deixar correr as especulações sobre o ministério e dizer que vai definir as coisas quando quiser. O governo anterior acabou e o novo precisa começar a existir urgentemente.
Política é também capacidade de iniciativa. Ainda mais diante de um oposição que retoma o tipo de ação que lhe permitiu ter muito mais votos do que obteria, se tivéssemos um processo democrático de formação da opinião pública.
A oposição cria um clima de expectativa sobre a nomeação do Ministro da Fazenda para, qualquer que seja o nome escolhido, promover a ideia de que ele decepciona o “mercado”. É preciso deslocar o debate do nome para o plano de ação do novo governo para retomar um ciclo de expansão da economia e começar a agir imediatamente, não em resposta ao terrorismo econômico – como foi o aumento da taxa de juros – mas conforme um plano coerente de política econôica, decorrente da derrota que foi imposta ao modelo neoliberal, que agora os colunistas da oposição recomendam ao governo.
Aprender da campanha eleitoral é disputar permanentemente a opinião pública, com medidas e com meios de poder ganhar essa disputa. O governo segue na defensiva, enquanto não falar ao país o tempo todo, enquanto não dispuser dos meios de comunicação à altura da disputa que enfrentamos. Por não dispor deles, quase perdemos a eleição. É preciso avançar imediatamente no fortalecimento dos canais públicos de comunicação, nos meios alternativos, no combate aos monopólios e oligopólios na mídia, que sabotam a democracia no Brasil.
Por Emir Sader, na Rede Brasil Atual: Não poderia haver agendas mais negativas, na economia e na política. Uma imposta pelo governo, outra pela oposição. Na sua conjunção, esse ano de retrocessos só não foi pior porque o impeachment não se impôs....
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