Quebra por dentro - DENISE ROTHENBURG
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Quebra por dentro - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 06/10

O governo e o PT tanto fizeram no sentido de sufocar os antigos aliados Eduardo Campos e Marina Silva que agora eles terminaram se unindo para tentar derrotar Dilma. Essa, nem o gênio Lula foi capaz de prever


Quem tiver o cuidado de avaliar com todas as letras o que ocorre desde o início do governo Lula, em 2003, verá que, aos poucos, o PT vai perdendo musculatura eleitoral à esquerda. Do grupo que saiu para criar ao PSol ao PSB. Lentamente, os petistas parecem cada vez mais fadados a ficar com aqueles que não sabem sobreviver longe da situação. O maior exemplo é o PSD, de Gilberto Kassab, criado basicamente de um braço do Democratas incomodado com o fato de ser oposição e optou por se sentar confortavelmente no papel de independente-quase-governo. O PT, protagonista máximo do governo, obviamente lutou contra essa debandada. Sufocou tanto que parte daqueles que saíram agora se unem nas figuras de Marina e Eduardo Campos.

A decisão de Marina de seguir o PSB é a maior vingança que ela poderia organizar no sentido de dar o troco ao PT. Ela, em todos os momentos, não deixou de culpar o PT por não ter conseguido criar a Rede Sustentabilidade. Não por acaso, na madrugada de ontem, depois da primeira conversa com Eduardo Campos no bairro do Sudoeste em Brasília, ela dizia que havia uma militância paga para difamá-la nas redes sociais. Em conversas reservadas, atribuía ao PT a rejeição de assinaturas para evitar que o novo partido fosse uma opção real aos eleitores.

As entrelinhas da entrevista que ela e Eduardo Campos concederam ontem deixaram transparecer essa revolta em relação aos petistas. Para completar, ainda houve a entrevista de João Santana à revista Época dizendo a um ano da eleição que Dima Rousseff vencerá no primeiro turno contra os ?anões? da oposição. Para quem faz política há mais de 40 anos, o termo ?anões? é considerado pejorativo e sinônimo de corrupção porque remonta aos ?anões do orçamento?, um escândalo que levou uma gama de deputados ao Conselho de Ética da Câmara, em 1993 e 1994.

Tudo isso, somado ao movimento do PT de tentar tirar fôlego de Eduardo Campos nos últimos dias, terminou por dar um ponto de liga dos descontentes com o governo. Fracassada a tentativa de criação da Rede antes do fim do prazo de filiação partidária para os candidatos de 2014, o ingresso de Marina Silva no PSB nada mais é do que uma tentativa de unir forças daqueles que cansaram de ficar à sombra dos petistas. E com um detalhe: não tirar da Rede o sentido de partido, com um programa. Assim que ela conseguir oficializar a legenda, levará todo o seu grupo para o novo partido, tão logo termine o processo eleitoral.

Unidos, Eduardo e Marina tentarão demonstrar a partir de agora que estão vivos e não será tão fácil o governo Dilma Rousseff e o PT tirarem eles do jogo eleitoral, e da possibilidade de levar ao Planalto um novo modelo de gestão e de relação política diferente daquela que Dilma mantém hoje com o maior aliado do governo, o PMDB. Vão ainda trabalhar no sentido de angariar outros aliados de Dilma que consideram esgotada a relação com o PT.

Enquanto isso, no PSDB?
Há ainda uma preocupação em manter uma boa relação com o PSDB de Aécio Neves, que é hoje o partido da oposição mais bem estruturado. A briga agora será no sentido de tentar tirar votos de Dilma e, assim, tirar de Aécio a vaga no segundo turno. Do ponto de vista tucano, a vantagem dessa nova formação é saber que, com esse reforço de Marina, a candidatura de Eduardo Campos não tem mais recuo. Quem imaginava que ele poderia voltar atrás e apoiar Dilma agora sabe que essa hipótese está descartada.

Nos bastidores do PSB e da Rede, todos diziam ontem que na conversa reservada de Marina com Eduardo ficou acertado que ela chega para ocupar a vaga de candidata a vice, embora não faça o anúncio antecipado, até porque o momento certo de formalizar a chapa é no ano que vem. Se será suficiente para inverter a ordem natural de polarização entre PT e PSDB num segundo turno o tempo dirá. Certamente, haverá uma pressão de setores da Rede para que Marina seja cabeça da chapa. Mas, a ex-senadora rechaça desde cedo esses movimentos. A maior vingança dela agora ao PT é apoiar Eduardo Campos. No final desse primeiro ato das eleições do ano que vem, fica a lição: o governo tanto fez contra seus antigos aliados que terminou por provocar a união deles contra Dilma. Isso, nem o gênio Lula imaginou que pudesse ocorrer. E justamente no dia em que a Constituição de 1988 completou 25 anos. Para quem achava que a eleição fosse ficar no mais do mesmo, essa virada de Marina vai mexer com muitas peças. Mas essa é outra história.




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