Quem representa os conservadores?
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Quem representa os conservadores?


Rodrigo Constantino

Luiz Felipe Pondé, em sua coluna da Folha hoje, trata de um assunto recorrente por aqui: a ausência de um partido que dê voz aos conservadores do Brasil. Quando se fala em direita, logo vem à mente regime militar e seu intervencionismo econômico, ou então Sarney, ou ainda Marco Feliciano. Isso não faz o menor sentido!

Pondé diz:

No dia 29 de junho, aconteceu em São Paulo a Marcha para Jesus. Nela, o conhecido pastor e deputado Feliciano usava uma camisa na qual estava escrito "eu represento vocês".
Claro, de primeira, entendemos que ele quer dizer que representa os evangélicos que ali estavam. Não tenho tanta certeza: tenho amigos e conhecidos que são evangélicos e estão muito longe do que Feliciano diz representar. Não podemos jogar todos os evangélicos no mesmo "saco".
Mas me interessa hoje outra coisa: ele diz ser representante dos conservadores no Brasil. O conceito é complexo e pouco afeito a espíritos que gostam de falar para multidões. Mas é urgente dizer que Feliciano não representa o pensamento conservador no Brasil.


Quais seriam os representantes da filosofia dita conservadora? Pondé cita alguns exemplos:

A tradição "liberal-conservative", como se diz comumente em inglês, se caracteriza por uma sólida literatura quase desconhecida entre nós: David Hume (sua moral), Adam Smith, Edmund Burke, Alexis de Tocqueville, Friedrich Hayek, T.S. Eliot, Michael Oakeshott, Isaiah Berlin, Russell Kirk, Theodore Dalrymple, John Gray, Gertrude Himmelfarb, Thomas Sowell, Phyllis Schafler, Roger Scruton, entre outros.
Quem conhece esses aurores por aqui? Quem já os leu? Ainda: quem acha que existe algum partido desses que tenha alguma ínfima afinidade ideológica com o pensamento desses gigantes do conservadorismo? Pois é. Pondé alfineta:

Não é à toa que matérias como a da "Ilustrada" do domingo 30 de junho falam que a Flip (poderia ter falado de qualquer outra atividade intelectual no país) é de esquerda: quase ninguém conhece a bibliografia "liberal-conservative" entre nós, porque a esquerda mantém uma poderosa reserva de mercado na vida intelectual pública no país, inclusive tornando um inferno a vida na universidade para jovens interessados neste tipo de bibliografia.

E o que defendem esses conservadores em linhas gerais, uma vez que claramente há distinções entre si? Pondé resume:

O pensamento "liberal-conservative" se caracteriza por defender a sociedade de livre mercado, a propriedade privada, a liberdade de expressão e religiosa, pluralismo moral, a democracia representativa com "corpos médios" locais atuantes, uma educação meritocrática, emancipação feminina, tributação alta para grandes heranças, desoneração da classe trabalhadora, profissionais liberais e pequenos e médios empresários, Estado mínimo necessário (inclusive porque isso diminui a corrupção), saúde eficaz para a população.
E, não esqueçamos: opção liberal quanto à vida moral, cada um faz o que quiser na vida privada contanto que respeite a lei, e esta deve levar em conta esta liberdade privada.

Quando aceitamos essa síntese, fica bastante evidente que nenhum dos políticos aí presentes abraçam essas bandeiras. Feliciano, então, nem pensar! Pondé conclui:

Simplesmente não existe opção partidária no Brasil para quem pensa dessa forma. Por exemplo, dizer que os conservadores queimam bandeiras do movimento negro é uma piada. Isso deve fazer Joaquim Nabuco tremer em seu túmulo, já que ele, conservador, foi um dos principais intelectuais e defensores da abolição da escravatura no Brasil.
E aí voltamos à camisa do Feliciano. Ele não representa os conservadores no Brasil, a começar porque é alguém que mistura religião com política.
Deixe-me esclarecer uma coisa (vou usar um tema "clichê"): sou conservador e sou contra o projeto da cura gay e a favor do casamento gay.
E aí, esquerda: vamos conversar? Vamos parar de se xingar e sentar numa távola redonda e discutir o Brasil?


Acho pouco provável que a esquerda, ou boa parte dela, queira cessar com os ataques vazios, abandonar essa tentativa patética de monopolizar as virtudes, e sentar para debater seriamente o país. Se assim fizesse, não seria esquerda...




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