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Reconhecer a independência do Kosovo - VII
Esta tarde, atravessando a ponte de Mitrovica. Esta manhã, no Mosteiro sérvio de Zociste (protegido pelas forças da K-FOR), com o Padre Stefan (a 5 km de Rahovec/Orahovac)
Portugal não deve tardar mais a reconhecer a independência do Kosovo.
É a conclusão que trago reforçada ao fim de um dia a visitar enclaves sérvios no território kosovar, incluindo a parte norte de Mitrovica e de conversar com responsáveis locais, albaneses, sérvios e internacionais.
Impressionou-me particularmente a qualidade política do Presidente da Câmara de Mitrovica, Bajram Rexhepi,e dos seus esforços para, mesmo informalmente, manter contacto e procurar trabalhar conjuntamente com os responsáveis da parte norte da zona que obedecem a Belgrado.
Impressionou-me também a articulação inteligente de Oliver Ivanovic, o Secretário de Estado do Ministério Sérvio para o "Kosovo e Metohija", que terminantemente recusa a possibilidade de partição da parte norte do Kosovo, onde a maioria da população é étnicamente sérvia (50.000 pessoas, disse). Uma possibilidade volta e meia acenada por Belgrado. Uma possibilidade rejeitada por quem é sérvio do Kosovo (como Ivanovic), por que sabe que isso significaria inviabilizar todos os outros enclaves sérvios em território kosovar (onde vivem ainda mais sérvios do Kosovo do que na região a norte de Mitrovica).
O último estratagema a que se agarram as autoridades sérvias aqui, parece destinado a inflectir-lhes mais dano que vantagem. A Belgrado, mas sobretudo à população sérvia que vive a norte de Mitrovica - onde não há lei nem ordem, onde imperam contrabandistas e a criminalidade organizada, segundo reconheceu Ivanovic. Esse último estratagema visa impedir o posicionamento da europeia EULEX a norte de Mitrovica; em vez dela, as autoridades sérvias querem agora que fique a UNMIK, a missão das Nações Unidas, agarrando-se ao detalhe formal de que ela opera ainda no quadro da resolução 1244, que para Belgrado pressupõe a soberania sérvia. Sim, ironicamente estamos a falar da UNMIK, aquela mesma missão que os sérvios se fartaram vilipendiar e chegaram a atacar (dramaticamente em Mitrovica em 2004).
Ao mesmo tempo a Sérvia dá sinais contraditórios, de acomodação à realidade: Ivanovic admitiu que o reconhecimento da "independência" da Ossétia do Sul e da Abkhazia por Moscovo tinha representado um duro golpe para a sustentação internacional da posição sérvia sobre o Kosovo.
Outro sinal positivo é o que resulta de, por acordo entre a UNMIK e Belgrado, ter recentemente reaberto, com juízes e procuradores internacionais, o Tribunal de Mitrovica, situado na zona norte (aquele que foi fechado pelas reacções violentas sérvias de 17 de Março de 2008 e que depois os soldados portugueses da K-FOR estiveram a guardar durante meses).
E, mais importante ainda, a partir de hoje passarão a ser cobradas taxas aos passantes das fronteiras terrestres entre o Kosovo e a Sérvia. Isto foi acordado entre Belgrado e a UNMIK e a justificação de Ivanovic é que Belgrado estava a perder muito mais dinheiro para o seu orçamento do que o Kosovo, lucrando na realidade os contrabandistas.
Seja qual for a justificação, passar a cobrar impostos fronteiriços é uma primeira forma de reconhecimento por parte da Sérvia de que o Kosovo independente é uma realidade.
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