Por Altamiro Borges
Nesta quinta-feira (4), uma greve geral contra a reforma da Previdência agitou a Grécia. Na Praça Syntagma, no centro de Atenas, mais de 100 mil trabalhadores criticaram a cedência do primeiro-ministro Alexis Tsipras diante das chantagens dos agiotas internacionais. A situação grega é emblemática do atual poder da ditadura do capital financeiro no planeta. Uma força progressista, o Syriza (“Coalizão da Esquerda Radical”), venceu as eleições de janeiro do ano passado. Um plebiscito popular, em julho de 2015, rejeitou a austeridade fiscal imposta pela famigerada “troika”, composta pelo Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI). Mesmo assim, com sabotagens e ameaças, a oligarquia financeira conseguiu emplacar uma reforma previdenciária que penaliza os trabalhadores da ativa, os aposentados e os pensionistas.
Segundo relatos das agências internacionais de notícias, o clima de radicalização política tem se aguçado na Grécia. A greve geral desta semana foi apenas um sintoma desta polarização. A revolta é contra os banqueiros e o governo, que cede às suas pressões. “Eles deveriam ser enforcados aqui, na Praça Syntagma", afirma o pensionista Nikos Ghinis, que se juntou a milhares de pessoas no protesto na capital grega. “Estou recebendo € 740 por mês depois de 40 anos de trabalho... Estou protestando aqui por meus filhos e netos", afirmou à Reuters. Segundo a agência Efe, a greve geral teve a participação de várias categorias. No setor privado, todos os sindicatos se uniram e a adesão foi superior a 95% dos trabalhadores. No setor público, ela foi massiva na área do transporte, paralisando metrô, trens, barcas e aeroportos.
A greve geral de 24 horas coincidiu com a chegada a Atenas de uma delegação da “troika”, com o objetivo humilhante de auditar as contas públicas e receitar novas medidas de austeridade fiscal. Sem maioria no parlamento, o primeiro-ministro Alexis Tsipras tem manobrado para conciliar os interesses em jogo – o que já resultou em divisões no seu próprio partido e na perda de popularidade do seu governo junto aos trabalhadores. Este é o segundo protesto de dimensão nacional desde a chegada do Syriza ao poder e a Praça Syntagma voltou a ser palco de choques violentos entre os manifestantes e as forças policiais, relembrando o período sombrio dos governos neoliberais da Grécia.
E no Brasil de Dilma...
A presidenta Dilma Rousseff deveria olhar com atenção ao que ocorre na Grécia. Logo após o refluxo do movimento pelo impeachment, no final do ano passado – que teve como componente decisiva a histórica mobilização de rua dos movimentos sociais contra o golpismo e em defesa da democracia –, ela surpreendeu novamente suas bases ao defender a urgência de uma reforma da Previdência Social. As forças de direita aplaudiram o gesto favorável ao “deus-mercado”.
Em editorial nesta quarta-feira (3), por exemplo, a Folha tucana elogiou o “bom senso” do governo, que estuda acabar com as diferenças entre homens e mulheres no acesso da aposentadoria e exigiu ainda mais: o fim dos “privilégios” da Previdência Rural e a revisão dos reajustes, “que devem ser desvinculados do salário mínimo”. Os abutres financeiros, partidários da austeridade fiscal para os trabalhadores, estão excitados. Será que o governo, ao mexer em um tema tão sensível, está disposto a enfrentar greves e protestos como na Grécia?
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