Por Breno Altman, em seu blog:
Não são poucos aqueles que tratam de classificar como doidivanas o atual comportamento da oposição conservadora.
O senador Aécio Neves e seus seguidores são vistos, por observadores de distintas origens, como se estivessem fora da casinha.
A trupe pode ser acusada de representar os mais reacionários interesses políticos e de classe. Também resplandece o caráter antidemocrático e adverso à soberania popular de suas aleivosias.
Mas não é um bando de loucos.
Animados pela forte polarização da campanha eleitoral, oposicionistas de barricada estão rasgando fantasias e disputando a sociedade com um discurso sem maquiagem.
Deram-se conta que parte importante do país, da qual brotam votos e apoios à coalizão política chefiada pelo PSDB, não deseja mais orbitar no campo de gravidade do centro político, cenário que se impôs desde a transição pactuada da ditadura para a democracia.
Este setor quer ver suas aspirações, ideias, valores e emoções defendidos sem rapapés. Constitui-se de frações políticas e sociais que estão desembarcando da normalização implícita aos regimes democráticos liberais.
Sua atitude passou a ter novos paradigmas, baseados em confrontação programática, ocupação de espaços públicos, tensão institucional e mobilização militante.
Relevantes meios de comunicação funcionam como banda de música desta dança conservadora, além de fornecer bardos e menestréis para o minueto.
São as vias de reinvenção da direita brasileira.
Mudança de equaçãoObviamente este segmento sempre se manteve vivo e dinâmico, mas desde os anos noventa escondia-se sob as saias do discurso centrista, às vezes vestindo trajes íntimos de preocupação progressista.
Desmoralizado pela longa ditadura e a queda de Fernando Collor, o conservadorismo foi buscar na aliança com o PSDB, nas eleições de 1994, a reanimação da hegemonia burguesa sobre a sociedade e o Estado.
O reacionarismo converteu-se majoritariamente a um enredo modernizador, liderado por Fernando Henrique Cardoso, capaz de neutralizar atrativos de uma esquerda às voltas com o colapso do socialismo real.
Agora está mudando a equação.
Os doze anos de governos petistas, com programas que melhoraram amplamente as condições de vida e trabalho de milhões, criaram poderosa base de massas para a esquerda.
A desconstrução desta identidade, dos pobres da cidade e do campo com o petismo, passou a depender de crescente antagonismo, no afã de solapar a credibilidade e a confiança no projeto liderado por Lula.
Os liberais-democratas, que antes preferiam ser tratados como sociais-democratas, movem-se em direção à velha direita, para construir um bloco neoconservador, radicalizando a vida política do país.
Este é o fenômeno que estamos vivendo.
A direita resolveu bater lata, estabelecendo contraposição frontal ao gradualismo petista. Não apenas seus grupos extremistas, mas também frações expressivas de correntes moderadas e egressas da resistência à ditadura militar.
Há lógica nesta loucura, no entanto.
Nova estratégiaO congestionamento no meio-campo, se antes era funcional para deter a esquerda, pois diluía o programa neoliberal, vem perdendo vigor para essa tarefa.
De muitas maneiras, foi o petismo que passou a se beneficiar do pântano, tão característico da política nacional.
As reformas conduzidas por Lula e Dilma, sem a marca de mudanças estruturais, encontraram na baixa densidade político-ideológica um clima positivo e de menor resistência.
Os corvos resolveram apostar, porém, desde o desfecho das eleições presidenciais, em outra política.
Deslizaram para estratégia de ataque pela ponta, no limite flertando com o golpismo.
Imaginam, assim, ampliar a capacidade de estigmatizar a esquerda, pressionar centristas mais recalcitrantes e retirar o PT da zona de conforto.
O modelo guarda certas semelhanças com experiências internacionais, tais como o Tea Party nos Estados Unidos e a Frente Nacional francesa.
Mesmo minoritários e isolados, estes agrupamentos se converteram em polos dinâmicos, impondo agendas e forçando amplo deslocamento conservador ao longo do tempo, arrastando a correlação de forças para a direita.
Além da estagnação econômica e o pânico social, que servem como pano de fundo, o principal ativo desta orientação está na confrontação contra políticas que reforçam o Estado contra o mercado e o indivíduo, identificando-as como predadoras das camadas médias e das etnias nacionais hegemônicas.
Racismo, chauvinismo e moralismo são expressões condensadoras deste movimento.
As enormes concessões do Partido Socialista francês e do Partido Democrata norte-americano a esse ideário reacionário, tentando impedir a fuga do centro para a direita, também facilitam o enraizamento da narrativa neoconservadora, que não encontra contraposição à altura e pode usufruir de vantagens inerentes ao controle da iniciativa política.
Apesar das evidentes diferenças com a situação brasileira, o novo perfil da direita nativa não é alucinação de maus perdedores, ainda que numerosos de seus integrantes sejam alucinados e maus perdedores.
Há uma alteração estratégica em curso, que talvez devesse merecer reflexões urgentes entre os líderes petistas e de esquerda, antes que seja tarde para a ação.
Por Breno Altman, em seu blog: O petismo não chegou a essa situação de defensiva estratégica apenas pela ação de seus inimigos. Esses atuam nas frestas de um modelo de desenvolvimento que vive fortes impasses, de uma estratégia política esgotada...
Por Maria Inês Nassif, no site Carta Maior: O sistema político brasileiro vive grandes impasses. A sociedade radicalizou posições políticas e esticou a corda da disputa ideológica na sua base social no limite, sem encontrar dutos institucionais...
Por Breno Altman, em seu blog: A oposição mudou sua estratégia. Das eleições findadas em 26 de outubro, extraiu a conclusão de que deveria passar imediatamente à ofensiva. Nada de acumular progressivamente forças, como em pleitos anteriores....
Por Breno Altman, em seu blog: Ontem à noite, o comitê central do movimento pelo impeachment da presidente Dilma se reuniu através de teleconferência, com livre acesso ao público. Mais de cinco mil pessoas acompanharam, durante duas horas, o estranho...
Por Breno Altman, no sítio Opera Mundi: Corria o ano de 1976. O Partido Comunista Italiano alcança 36% dos votos nas eleições parlamentares (quase o dobro do PT em disputas pela Câmara dos Deputados). O secretário-geral do partido, Enrico Berlinguer,...