O empresário Olegas Orlovas tomou um susto ao não encontrar em casa a filha de seis anos, que, sem que ninguém visse, havia descido para o parquinho do condomínio em que moram no Rio de Janeiro. O episódio serviu de inspiração para criar --com o sócio João Mendes Neto-- o Guarddy, um relógio com GPS e sistema telefônico, destinado a monitorar crianças.
Feito de silicone e alumínio, o acessório é à prova d'água e conta com algumas facilidades como sistema de rastreamento instantâneo e a possibilidade de criar uma zona de segurança. "Nessa função, os pais configuram um raio e, caso a criança saia dessa área, um alarme toca no aparelho do responsável", afirma Neto.
"Além disso, o Guarddy também tem a função 'Next to Me', que funciona por meio do sistema Bluetooth. Quando a criança sai de perto do adulto, em um raio de 30 metros, o alarme dispara. É interessante, principalmente, quando a família está em um local muito cheio", fala Neto.
Além do monitoramento tradicional, o Guarddy conta com algumas funções de áudio e telefone. "Os pais têm opção de configurar três números no aparelho, que estão liberados para efetuar ligações para o relógio. Além disso, a função 'áudio monitor' usa o microfone do relógio como captador externo e os pais podem ouvir tudo o que está acontecendo em volta do filho. Com isso, dá para descobrir se a criança está sofrendo bullying na aula", exemplifica Neto.
O aparelho tem ainda uma função de histórico, em que os pais podem acompanhar o caminho percorrido pelas crianças durante o dia e o botão S.O.S. "Quando a criança se sentir ameaçada, pode pressioná-lo e um alarme será disparado para os números registrados no relógio", diz Neto.
O Guarddy também monitora os passos dados pelo seu usuário, calculando a distância percorrida por dia, além de fazer um registro da qualidade do sono da criança, se é tranquilo ou agitado.
Para produzir o acessório, os sócios criaram um financiamento coletivona página Kickante para tirar o produto do papel. O objetivo é reunir R$ 80 mil para fabricar o produto, Até o fechamento desta reportagem, o projeto havia arrecado 3% da meta.
Excesso de proteção
Segundo Quezia Bombonatto, diretora da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), a preocupação dos pais com a segurança das crianças é real, no entanto, um instrumento de monitoração dá uma falsa sensação de tranquilidade. "Os pais nunca vão receber a informação por completo. Ela sempre virá de forma fragmentada e quando isso acontece pode gerar uma certa angústia e ansiedade."
Para a especialista, a preocupação em excesso pode trazer prejuízos para as crianças. "Como os pais monitoram o tempo todo o que o filho faz, há o risco de ele ficar dependente desse comportamento e perder sua autonomia", afirma.
De acordo com Quezia, a questão não é discutir a validade do uso do relógio ou não, já que tudo depende da estrutura familiar. "Para muitas famílias, ter um dispositivo desse pode abrandar a ansiedade, enquanto para outras essa questão do controle pode se tornar uma obsessão, que pode causar prejuízos até na vida profissional. O ideal é que os pais que queiram adquirir o relógio encontrem uma maneira positiva de lidar com as informações que irão obter."
Fonte:UOL
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