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Resposta ao Pedro Mexia
Sabes que tenho de ti a ideia de um homem livre. Isso parece-me o essencial, o resto é mais ou menos acessório. Mesmo que o resto passe por um mundo de diferenças ideológicas e culturais. Os meus companheiros neste blog reconhecem nas tuas opiniões, talvez com uma ou outra reticência ou desconhecimento, as marcas dessa liberdade. Que, na minha opinião, não é um valor estritamente de esquerda. Posto isto, a nossa pequena polémica. Isto é: sobre a tua resposta ao meu texto do passado 17 de Dezembro gostaria de dizer algumas coisas.
O teu texto relativiza as coisas de uma forma tão surpreendentemente excessiva que acabou por me soar a falso. Não que o que lá vem seja inverdade, mas porque não acredito que percas horas e horas do teu tempo apenas para desabafar convicções e lamentos pessoais. É verdade que os blogs têm a importância que têm, como em boa verdade tudo o resto. Aquilo que escreves no Dicionário do Diabo não são desabafos do teu diário, são antes de mais ideias, convicções e raivas que queres partihar com o maior número de pessoas que te for possível alcançar. É uma forma de poder como outra qualquer e, caro Pedro, nunca me viste dizer que os blogs chegam a muita gente. Creio que chego a utilizar a expressão pequena comunidade intelectual. Teres quase mil leitores por dia, quase mil pessoas que lêem o que pensas sobre as tuas raparigas distantes ou a economia de mercado é um número mais do que suficiente enquanto pequeno espaço de poder e de referência numa pequena comunidade... Que é, aliás, a pequena comunidade em que te moves/nos movemos. É essa que nos interessa, são esses os holofotes de que falo, é dessa vaidade natural que quase todos renegamos e que todos acabamos por querer tocar. Também não é nada de especial, quando falo de holofotes falo da necessidade de ser ouvido, lido, olhado, falo da terrível necessidade de ser amado, de deixar uma marca no futuro.
No meu texto provocatório escolhi pessoas que levam a sério este princípio de luta. E, sobretudo, pessoas que através dos blogs encontraram uma forma de expressão e de poder capaz de lhes garantir alguma visibilidade e alguns adeptos.
Falas da intimidade. E misturas, como o Daniel Oliveira, as minhas opiniões com pretensos ataques ao documentário e livro que fiz com o meu pai. Não pretendo justificar rigorosamente nada, até porque as opiniões podem ser positivas ou negativas, mas por dentro as minhas urgências são, para o bem e para o mal, as minhas e não as dos outros. De qualquer forma, o documentário sobre o meu pai não é um filme sobre a minha intimidade. Não se pode fazer algo de íntimo quando não se conhece o outro, quando o outro viveu uma vida que não conheci, quando o outro nunca fez parte das minhas prioridades e do meu espaço. Achei que o facto de o "personagem" ser meu pai poderia tornar-se, claramente, uma mais valia para falar de algumas ideias que me interessam muito no cinema, teatro ou no próprio jornalismo: a ausência, o heroísmo do looser, a encenação manipulatória do real, a provocação do olhar e das regras estabelecidas. Estou arrependido de o ter feito, mas por outros motivos completamente diferentes.
Falas dos ataques na blogosfera para provar que este "submundo virtual" pode ser muito desagradável. Não acredito que dês importância às críticas que te fazem, críticas obviamente que passem as fronteiras da indigência. É que não têm mesmo importância nenhuma.
Não concordo contigo sobre a questão de as pessoas dizerem coisas diferentes conforme o suporte onde estão inseridas. Evidentemente todos somos utilizadores de máscaras, mas dizer coisas diferentes em contextos diferentes parece-me contraditório com tudo o que julgo seres. O que podes fazer é escrever tendo em conta os objectivos específicos de cada trabalho, mas os objectivos específicos de cada trabalho não ferem o fundamento da coerência que deve ser o suporte de que és feito por dentro. Não consigo desligar a crítica que fazes ao José Saramago no DN com os textos sobre as meninas distantes no teu blog, ou com as tuas opiniões quando participas em debates. Um bom ano do
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