Não posso deixar de escrever sobre o episódio lamentável que envolveu o ex-ministro da Saúde e atual secretário de Relações Governamentais do prefeito Fernando Haddad, Alexandre Padilha, com quem estabeleci uma relação amistosa ainda quando era ministro.
A esta altura, todos sabem ao que me refiro e ao que não me referi antes porque este Blog ficou meio parado por cerca de uma semana devido a problemas de saúde de minha filha caçula e dos ataques virtuais que este Blog sofreu.
Até onde pude apurar, foi a colunista do jornal O Estado de São Paulo Sonia Racy quem difundiu com força um fato que já circulava nas redes sociais na tarde do dia 15. O texto foi publicado em seu “blog” no portal do Estadão.
A revelação de Racy sobre a atividade profissional pretérita do agressor Danilo Amaral permite saber quem é esse homem e por que agiu como agiu.
A colunista do Estadão não revelou tudo sobre o agressor de Padilha e sobre sua atitude lamentável. Não revelou, por exemplo, que a empresa que ele geriu, a BRA Transportes Aéreos, é uma empresa falida. E distorceu a reação dos presentes ao restaurante Varanda Grill, dizendo que a reação de Padilha ao dizer que o programa Mais Médicos atende 63 milhões de pessoas teria sido “ofuscada pelos aplausos”.
Tratemos, primeiro, da empresa da qual Amaral foi presidente.
A BRA Transportes Aéreos, ou Brasil Rodo Aéreo, é uma empresa em recuperação juridicial – ou, como diziam antigamente, em “concordata”. Foi fundada em 1999 pelos irmãos Humberto Folegatti e Walter Folegatti e se dedicava, inicialmente, a voos charter.
Em 2005, obteve a certificado para realização de voos regulares, quando passou a atuar sob o conceito “baixo custo”, ou seja, transportar clientes como gado por não servir um lanchinho a bordo.
A partir de 2005, a BRA passou a operar voos regulares. No final do ano passado, foi tomada por bancos e agiotas estrangeiros agrupados no Brazil Air Partners, sediado nas Ilhas Cayman, que tem entre seus representantes a Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo de FHC e sócio do megaespeculador George Soros.
A Brazil Partners Ltd é formada pelo Bank of America, Darby, BBVA, Development Capital, Goldman Sachs, HBK Investments e Millennium Global Investments. Na época, o dito fundo adquiriu 20 % do capital da BRA por R$ 180 milhões com a promessa de novos investimentos, que não ocorreram.
Devido à precarização da gestão, a empresa começou a passar por dificuldades financeiras e operacionais, comprometendo a manutenção das aeronaves e o serviço de bordo.
Antes da suspensão de suas operações, voava para mais de 30 destinos, com frota composta de aviões Boeing 737 e Boeing 767. Na feira da aviação de 2007 realizada em Le Bourget, França, a companhia havia anunciado a compra de 40 jatos Embraer 195, e seria a primeira companhia brasileira a operar o modelo da fabricante, mas nunca concretizou nada.
Devido a dificuldades financeiras, no dia 6 de novembro de 2007, a partir das 12 horas, a BRA suspendeu suas operações, demitindo todos os seus 1100 funcionários. Pôs todos no olho da rua sumariamente, o que combina muito bem com o perfil mesquinho de seus gestores, como se viu recentemente.
Em novembro 2008, entrou com pedido de “recuperação judicial”. Em 2009, o vice-presidente Danilo Amaral assumiu a presidência da empresa por alguns meses, mas foi “saído” do cargo rapidamente por razões mais do que óbvias.
Sobre o relato de Sonia Racy, além de ter omitido todas as informações acima, omitiu outras igualmente relevantes para que as pessoas entendessem o que ocorreu no restaurante Varanda Grill na tarde de 15 de maio.
Em seu perfil no Facebook, o ex-ministro e secretário de governo Alexandre Padilha deu a informação correta sobre a reação do público ao ato bestial do tal Danilo Amaral.
“(…) Embora tenha buscado chamar a atenção do salão, talvez imaginando que seria solenemente aplaudido, [Danilo Amaral] foi absolutamente ignorado pelas dezenas de pessoas durante o seu ato de agressão. Apenas seu colega de mesa o aplaudiu. Após sua retirada, os garçons, as pessoas de outras mesas e o proprietário do estabelecimento prestaram solidariedade a mim (…)”.
A colunista do Estadão, como se vê, contou a história pela metade. Seu post deixou entender que os clientes do restaurante apoiaram a agressão de Amaral, mas o relato do agredido mostra coisa muito diferente.
Conheço o restaurante em que Padilha foi agredido. Um casal gasta cerca de 500 reais em um almoço com vinho e sobremesa. Nada contra alguém gastar seu dinheiro em um estabelecimento como esse, se tiver. Porém, o que choca é uma pessoa que dispõe de tantos recursos ser tão mesquinha a ponto de se revoltar por uma fração ínfima do dinheiro de seus impostos ser gasta com o social.
Não pesquisei se é real esse custo que Amaral atribuiu ao programa Mais Médicos, mas digamos que seja mesmo “um bilhão” de reais. Se fizermos a divisão de 1 bilhão de reais por 200 milhões de brasileiros, o rateio será de 5 reais para cada um. Digamos que apenas 50 milhões de brasileiros pagassem impostos, o custo subiria a 20 reais por cabeça.
Um ricaço que gasta tanto dinheiro em um almoço sente-se “otário” porque o governo gasta uns trocados de seus impostos para que pessoas que nunca se consultaram com um médico na vida possam passar a ser atendidas.
E o que é pior: Danilo Amaral é burro. Sim, porque o programa Mais Médicos baseia-se no conceito de medicina preventiva. O que significa isso? Que os médicos que faltavam em tantas regiões pobres do país irão diminuir a pressão sobre o sistema público de saúde tratando as pessoas antes que elas adoeçam e gerem custos para o rico dinheirinho desse… sujeito.
Danilo Amaral representa muito bem o setor da sociedade que bate panelas cravejadas de brilhantes contra o governo Dilma e o PT e que se recusa a contribuir com uns tostões para mitigar a descomunal dívida social deste país. Representa e ignorância dessa gente, que não imagina o que acontecerá se essa dívida não começar a ser resgatada.
Esse homem deveria estudar a Revolução Francesa. Talvez lhe abrisse os olhos e lhe inoculasse responsabilidade social, pois empresário que não a tem tampouco tem capacidade para gerir alguma coisa, como mostra a trajetória de Amaral.
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Churrascão da CidadaniaEis, na foto abaixo, uma prévia do que foi o churrascão com leitores paulistas desta página. Durante a semana publicarei vídeo do evento.