Rio Pajéu: As histórias perdidas do ?rio mais teimoso do mundo? e a sua morte anunciada
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Rio Pajéu: As histórias perdidas do ?rio mais teimoso do mundo? e a sua morte anunciada


Por Paulo Cesar Gomes

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Fotos: Alejandro Garcia / Farol


No próximo dia 05 de junho, sexta-feira, é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente, e foi com a intenção de tornar essa data um momento de reflexão sobre a importância do Rio Pajeú, não só como elemento ambiental, mas também como fonte de histórias que estão diretamente ligadas a formação da identidade da população serra-talhadense, que eu e o inesgotável repórter fotográfico do FAROL, Alejandro Garcia, percorremos trechos do rio que passam na área urbana, registrando imagens da degradação e ouvindo relatos de pessoas que nos ajudaram a resgatar as histórias perdidas do Rio Pajeú.

A BARRAGEM DO JAZIGO E O INÍCIO DO FIM

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É indiscutível que o processo de destruição do Rio Pajeú ocorre na parte dos seus 353 km extensão. No entanto, em relação à cidade, a poluição que é o abandono que fere de forte ?o rio mais teimoso do mundo? ? expressão usada em reportagem publicada em jornal da capital, para definir o fato do Pajeú correr para o São Francisco no sentido contrário ao mar ? tem início no sangradouro da barragem do Jazigo, onde se pode observar o assoreamento e a ocupação irregular das margens do rio.

No local onde antes existiam centenas de peixes e bancos de areias, agora só resta uma mistura de barro e liquido preto que de longe lembra a água limpa e transparente de séculos atrás. O que se ver posteriormente ao Jazigo é o predomínio das algarobas e de outras plantas que não faziam parte do contexto original do leito do rio.

OS TEMPOS ÁUREOS DOS BANHOS NAS PITOMBAS E NA PEDRA DO CURTUME

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Os banhos no Rio Pajeú fazem parte da memória de muitas gerações de serra-talhadenses que até o final dos anos 80 ainda puderam desfrutar das águas ?calientes? e transparentes de locais como ?as Pitombas? e ?o Curtume?.

Segundo o senhor Cícero, morador de uma fazenda que fica nas redondezas das Pitombas, ?antigamente tinha gente direto aqui, tomando banho e pescando. Era um monte de carro encostado, tudo com o som ligado?. Hoje água que tem aqui só da para os bichos beberem? lamenta Seu Cícero.

Infelizmente, ?as Pitombas? e ?o Curtume? foram destruídos pela ganância de alguns e o despreparo das autoridades. Nas Pitombas é possível ver a quantidade de areia que foi retirada do local sem o menor controle da União, deixando marcas deploráveis na paisagem e no leito do rio.

Na Pedra do Curtume o descaso chegou ao extremo, pois o local foi destruído a base de dinamite pela empresa responsável pela construção da ponte que liga o centro da cidade ao bairro da Caxixola, sem que nenhuma autoridade tenha se manifestado contra o crime ambiental. O resultado é que o local que durante décadas foi a principal área de lazer de crianças e adultos, praticamente não existe mais, um cenário que resume bem o que o Pajeú representa para Serra Talhada nos dias de hoje.

OS VELHOS CACIMBÕES QUE MATARAM A SEDE DO POVO E O DESAPARECIMENTO DE VICENTE CORINGA

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O rio não servia apenas para diversão da população, em períodos de seca prolongada, a salvação era a retirada da água dos cacimbões feitos de tijolos construídos ao longo do leito. Alguns desses  ainda resistem ao tempo e podem ser vistos da ponte da Caxixola.

Um das histórias curiosas sobre os cacimbões ocorreu em meados da década de 80, quando durante o período de cheia, o deslocamento entre o bairro da Caxixola e o centro era realizado atrás de uma canoa que pertencia a Sr. Luiz Rufino. Em uma das travessias os remadores perderam o controle da embarcação e se chocaram com um cacimbão, o que levou a canoa a ser dividir em duas bandas. Todos os passageiros salvaram se, a única perca sentida foi a lata de moeda do proprietário da canoa que nunca foi encontrada.

Uma das lembranças mais tristes que se tem do rio foi o desaparecimento do mais famoso nadador que a cidade já conheceu. Vicente Coringa, como assim era conhecido, virou uma lenda entres os serra-talhadenses. Muito se fala das suas braçadas velozes e de sua coragem em desafiar a força das águas do rio, principalmente em períodos de cheia. No entanto, em um triste dia da década de 60, Vicente Coringa desafiou pela última vez as águas do Pajeú e acabou sumindo em meio aos remansos e barceiros. Seu corpo nunca foi encontrado.

UM DEPÓSITO DE LIXO E DE ESGOTOS, LOTEAMENTO E PASTO PARA ANIMAIS

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Quanto mais próximo da área urbana mais se verifica a degradação do rio. São dezenas de toneladas de lixo jogados por mês nas margens e no leito, sem que haja nenhum tipo de fiscalização ou punição para os agressores.

Praticamente todos os esgotos da cidade são despejados no rio sem que exista nenhum sistema de tratamento. O mau cheiro é sentido por moradores que moram nas proximidades das margens. Até mesmo os órgãos públicos, como no caso o Matadouro Público, entram na lista dos que poluem diariamente o Pajeú.

Soma-se a esse cenário tenebroso o fato de ?o rio mais teimoso do mundo? ter sido loteado, e onde antes havia espaço para lazer, agora é dominado por centenas de cercas de arame farpado e de pasto para alimentar animais.

Mas ainda assim, com toda essa perspectiva negativa, existem pessoas que acreditam que é possível salvar o rio. E diferente de muitos que ficam só no discurso, esses colocam a mão na massa. Mas essa história, a gente só conta na próxima semana!

Um bom domingo a todos e até a próxima!
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UM DOS CACIMBÕES DO VELHO PAJEÚ

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DEGRADAÇÃO DO RIO NA REGIÃO DAS PITOMBAS

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POÇO DO PADRE, AO LADO DA PEDRA DO CURTUME

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VISTA DA PEDRA DO CURTUME

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CÍCERO: ?ANTIGAMENTE TINHA GENTE DIRETO AQUI TOMANDO BANHO?

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Publicado no portal Farol de Notícias de Serra Talhada, em 31 de maio de 2015.





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