Pelo segundo mês seguido, o parcelamento dos salários anunciado pelo governo do Rio Grande do Sul colocou servidores do estado em situação delicada. A medida, adotada em meio à crise financeira, causou revolta em alguns e indignação em outros, provocando, inclusive, uma greve que deve se estender ao longo da semana. Um sargento da Brigada Militar, que atua em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, usou as redes sociais para fazer um desabafo e ganhou apoio dos internautas.
Tive que atrasar muitas contas. Mês passado entrou uma parcela de R$ 2.150. Agora foi de R$ 600. Quem sabe depois não é nada?"
Sargento Santana, da Brigada Mlitar de Canoas
No vídeo, o sargento Braulio Santana Pedroso, 42 anos, mostra cópias de contas atrasadas e o extrato bancário que aponta o depósito de R$ 600 como primeira parcela do salário, e um saldo negativo de R$ 2.050. ?Nunca pensei passar por isso. Nunca, nunca mesmo?, diz o servidor (assista no vídeo acima).
Conforme anúncio feito na segunda-feira (31) pelo governador José Ivo Sartori, o pagamento aos servidores vinculados ao Executivo será feito em até quatro parcelas ao longo do mês. Além dos R$ 600 já depositados, mais R$ 800 serão pagos até o dia 11 de setembro. Já no dia 15 está programado o crédito de R$ 1.400. A parcela complementar para quem ganha acima de R$ 2.800 será creditada até dia 22.
Ao G1, o sargento, que entrou na Brigada Militar em 1997 aos 18 anos de idade, afirma que trabalha ?por vocação?, mas que os últimos dias têm sido difíceis para ele e os colegas. Pai de três filhos e avô de uma menina de 4 anos, ele sustenta a família com o complemento da renda da esposa, que trabalha na iniciativa privada. No entanto, o orçamento não é suficiente e as contas estão se acumulando.
?Foi uma bola de neve. Tive que atrasar muitas contas. Mês passado entrou uma parcela de R$ 2.150. Agora foi de R$ 600. Quem sabe depois não é nada? Daqui pra frente eu não sei o que vai ser. Está tudo escuro. A gente não tem uma luz no fim do túnel?, comenta o servidor.No vídeo, o sargento mostra ainda o documento que mostra a renegociação da conta de telefone celular, que usa como ferramenta de trabalho, além do extrato bancário com saldo negativo de R$ 2.050. ?No domingo, usei os últimos R$ 50 que tinha para colocar gasolina no carro. Queria pedir perdão a todos. É um dia muito difícil para mim?, conta.
Sem condições psicológicas
Sair para rua e lidar com situações de risco e ocorrências policiais têm sido ainda mais difícil nos últimos dias. "A gente não quer fazer greve, mas em contrapartida, a gente não tem condições psicológicas de ir pra rua. Como vou tomar alguma decisão pensando no meu filho passando fome em casa? E ainda não posso sair, me divertir, ter lazer, enquanto ele fica aí dançando com a família", critica.Embora sem citar nomes, o sargento faz uma referência à imagem do governador José Ivo Sartori dançando com a primeira-dama Maria Helena Sartori. A foto foi feita no domingo (30), um dia antes do anúncio do parcelamento. Sartori aparece sorridente enquanto dança na praça central da Expointer, em Esteio, ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que visitou a feira.
Sair para rua e lidar com situações de risco e ocorrências policiais têm sido ainda mais difícil nos últimos dias. "A gente não quer fazer greve, mas em contrapartida, a gente não tem condições psicológicas de ir pra rua. Como vou tomar alguma decisão pensando no meu filho passando fome em casa? E ainda não posso sair, me divertir, ter lazer, enquanto ele fica aí dançando com a família", critica.Embora sem citar nomes, o sargento faz uma referência à imagem do governador José Ivo Sartori dançando com a primeira-dama Maria Helena Sartori. A foto foi feita no domingo (30), um dia antes do anúncio do parcelamento. Sartori aparece sorridente enquanto dança na praça central da Expointer, em Esteio, ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que visitou a feira.
O sargento lamenta ainda a precariedade das ferramentas de trabalho na Brigada Militar e reforça que a sensação de insegurança atinge até mesmo os servidores da instituição. "O estado do Rio Grande do Sul nunca passou por essa insegurança. Eu também me sinto inseguro na cidade onde eu moro e trabalho", admite. "A única coisa que temos a nosso favor hoje é a nossa vocação policial", diz.
Ele afirma, no entanto, que fará um esforço para continuar trabalhando. "Não posso deixar Canoas desamparada", conclui.Segundo mês com salários parcelados
O pagamento da folha do mês de agosto será dividido em quatro parcelas - em julho seriam três, mas o salário acabou sendo pago em duas vezes. A medida é válida para todos os funcionários vinculados ao Poder Executivo.
Desde o início do ano, quando Sartori assumiu o mandato, o Palácio Piratini tenta equilibrar as finanças. Porém, tem dificuldade para conseguir pagar os salários dos servidores em dia.
Vídeo
No último dia 31 de julho, o governo anunciou o parcelamento dos salários dos servidores do Executivo pela primeira vez. O pagamento no mês passado seria realizado em três vezes. A medida causou protestos e paralisações em todo o estado.
No dia 11, entretanto, o governador José IvoSartori decidiu complementar o valor pendente e com isso adiar o pagamento da parcela da dívida com a União. No mesmo dia, o Tesouro Nacional bloqueou as contas do estado, conforme estava previsto no contrato. A situação só foi normalizada no dia 20.
fonte:http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2015/09/sargento-grava-video-mostra-contas-vencidas-e-pede-perdao-populacao.html