“Lola, outro dia estava navegando pelo blog e reli o texto onde você conta como conheceu o maridão. Daí me veio à cabeça: o maridão já gostava de filmes quando você o conheceu, ou você teve que mostrar vários clássicos para ele?”
Claudemir
Pedi inúmeras vezes pro maridão escrever a resposta pra você, Clau. Lá pela vigésima vez, perguntei: “Então, faz o guest post pra mim?”. E ele: “Agora?! Depois não reclama se ficar uma droga”. Eu só pude dizer: “Melhor ruim do que não fazer nunca, o que em muitos sentidos define um casamento de quase 18 anos”. Mas ele finalmente decidiu responder. Olha só:
Eu já gostava de cinema muito antes da Lolinha ter nascido (bem antes das salas virarem templos evangélicos).
Nessa época os filmes que chegavam no Brasil eram, principalmente, as comédias italianas. Os filmes de faroeste vinham da Itália também: Django, Sartana, Django Encontra Sartana e o supremo O Dólar Furado (cujo título poderia ser usado hoje para nomear algumas aplicações financeiras). Os super-heróis eram Hércules, Maciste (todos italianos fortões, como o Shwarza em Conan). Sem esquecer Tarzan, e Bomba, o filho de Tarzan (yes, esse era o nome do filho da fera). Ainda não havia Os Trapalhões, e sim os filmes do Mazzaropi. Roberto Carlos e a turma da Jovem Guarda faziam aparições no cinema também. Isso sem falar nos Beatles e todos os seus clones (The Herman Hermits e os Monkees). Sempre que vejo os filmes do Spielberg e do Tarantino eu sei do que eles estão falando. Os americanos começaram a chegar com a Disney (Branca de neve, Pinóquio, e as aventuras e comédias como Os Robinsons Suíços e o Capitão Blood. As filas eram quilométricas. As sessões eram duplas (a gente não precisava se esconder no banheiro pra assistir outro filme sem pagar). E ainda havia os tenebrosos documentários do Primo Carbonari, mas também tinha o futebol da final de semana com o Carlos Niemeyer mostrando a ponta da chuteira dos craques no Maracanã. Um espetáculo. Os filmes nacionais não paravam de passar, com títulos bem sugestivos (Os Mansos, Histórias que Nossas Babás Não Contavam, etc). Toda cidade tinha sua sala de cinema. Então a resposta é: sim, eu já gostava de cinema bem antes de conhecer a Lolinha. Só não sei se o cinema gostava de mim.
Aqui é a Lolinha de novo. Achei muito fofa a explicação do maridão, embora eu não conheça a maioria das referências que ele cita. Fico pensando nos meus leitores de vinte anos, coçando a cabeça e querendo saber: “Maciste? É aquilo que dão pra passarinho comer?”. Na realidade, só consigo imaginar uns cinco leitores(as), todos igualmente caquéticos como o maridão, que vão compreender essas referências pré-históricas.
Mas deixe-me ser mais direta na resposta à sua pergunta, Clau: sim, o maridão já gostava de filmes quando o conheci. Só que era um gosto meio desestruturado, digamos, como o de quem não sabe distinguir os Beatles dos Monkees, por exemplo. Assim como na paixão do maridão pelo Chico, também no cinema ele deve tudo a minha modesta pessoa.