A “virada” de Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de voto tem várias razões, muitas das quais oferecidas pelos próprios adversários, sobretudo por Marina Silva e suas contradições, idas e vindas, discursos dúbios e alianças esdrúxulas. Contudo, por certo a militância petista na internet pode se arrogar grande parte desse mérito.
De meados de agosto em diante, uma certa apatia que vicejava entre essa militância, tanto nas ruas quanto na rede, foi cedendo espaço a forte engajamento de centenas de milhares de filiados e não-filiados do PT que passaram a enfrentar a avalanche pró Marina e Aécio Neves na grande mídia.
A força do PT na internet ou nas ruas tem razão de ser. Segundo a Justiça Eleitoral, o PT é o segundo partido com mais filiados no país. Porém, em termos de engajamento desses militantes, é, de longe, o primeiro.
Oficialmente, o PMDB é o partido com o maior número de filiados, com 2,3 milhões de inscritos (15,36% do total de filiados a partidos políticos no país). E, conforme dados divulgados em abril pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em seguida vem o PT, com 1,5 milhão de filiados (10,37% do total).
Vale dizer que o Brasil tem, ao todo, 15.329.230 de cidadãos filiados a partidos políticos.
O PMDB tem mais filiados porque, por muito tempo, foi um dos dois únicos partidos tolerados pela ditadura militar – o do governo (Arena) e o de oposição (MDB). É o partido político mais antigo do Brasil. Sob o nome de Movimento Democrático Brasileiro (MDB), foi fundado dois anos após o golpe de 1964 – em 1966. Já o PT, foi fundado 14 anos depois – em 1980.
O caráter aguerrido da militância do PT é histórico e nem os inimigos do partido negam tal caráter. Com o advento da internet e a popularização da rede no Brasil a partir do início do século XXI, a militância massiva das ruas tornou-se muito mais eficiente.
No início da campanha eleitoral deste ano, Marina, cuja militância na rede e nas ruas é insipiente, espalhou que o PT havia contratado militantes pagos para atuar na internet. Contudo, essa versão jamais foi comprovada. Até porque, o PT não precisa pagar militantes tendo tantos que trabalham espontaneamente, muitas vezes tirando dinheiro do bolso para militar.
Palavras de Marina: “Eles [o PT] têm milhares de pessoas pagas nas redes sociais para mentir. É um verdadeiro mensalete”. E, depois, ela se queixa de ser alvo de virulência dos adversários. Faz uma acusação dessas e não apresenta uma só prova. E quando o PT revida, Marina se faz de vítima.
Mas há candidatos usando militância paga, sim. O campeão é o PSDB. Mas esse uso de militantes pagos tem se resumido a eventos de rua, carreatas, comícios etc. Na rede, estudos recentes mostram que os tucanos preferem usar “robôs”.
O estudo mais recente foi feito pelo Laboratório de Estudos Sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo. O campo de estudo escolhido pelo Labic foi o debate entre candidatos a presidente levado ao ar no domingo, pela TV Record.
O Laboratório da UFES passou a monitorar desde a tarde do último domingo as menções na internet aos candidatos Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves. O gráfico abaixo mostra um dado surpreendente – mas não tanto – que o Labic apurou.
Como se vê, desde as 16 horas do último domingo até o fim do debate na Record (por volta dos 45 minutos da madrugada de segunda-feira), as menções a Marina e a Dilma nas redes sociais se mantiveram, subindo levemente durante o início do debate. Já no caso de Aécio, as menções ao seu nome subiram abruptamente pouco antes do debate.
Pesquisando um pouco mais, descobre-se por que isso aconteceu. E que aconteceu porque o PSDB usa “robôs” – programas que simulam comentários humanos nas redes sociais – para suprir a falta de militantes, que sobram a Dilma e que Marina tampouco têm. Por conta disso, no gráfico acima o leitor percebe que fora do horário do debate da Record Aécio era bem menos mencionado nas redes sociais.
Faça-se Justiça a Marina: o estudo mostra que ela não usou os mesmos recursos de Aécio.
O mais surpreendente, porém, foi a descoberta de um estudo independente que mostra mais provas de que Aécio usa fraudes para suprir a falta de militância de seu partido. Esse estudo foi feito por um cineasta mineiro.
Esse cineasta produziu um documentário intitulado Gagged in Brazil (Amordaçado no Brasil). Trata-se de Daniel Florêncio, cineasta mineiro radicado em Londres. Ele produziu esse comentário para a Current TV, do ex-vice-presidente norte-americano Al Gore.
O documentário mostra como o então governador de Minas Gerais Aécio Neves utilizou meios de comunicação comerciais do Estado para promover a sua imagem e calar adversários. Daniel Florêncio utiliza trechos do filme “Liberdade, Essa Palavra”, sobre o mesmo tema, realizado em 2006 como trabalho de conclusão de curso do então estudante de jornalismo da UFMG, Marcelo Baeta.
Florêncio descobriu que Aécio mandou fazer um vídeo para se contrapor ao documentário “Liberdade, Essa Palavra”. O título do documentário tucano: “Aécio Neves responde a Liberdade, Essa Palavra”.
O cineasta mineiro ficou intrigado porque o documentário-resposta do tucano em pouco tempo conseguiu cerca de 50 mil visualizações no You Tube. Assim, decidiu verificar as estatísticas que todo vídeo postado nessa rede social tem e que possibilitam saber quantos assistiram, quando assistiram e de onde são os que assistiram.
Como se vê, praticamente todas as visualizações ocorreram em duas datas específicas: outubro de 2009 e março de 2010.
Não satisfeito, Florêncio decidiu pesquisar de onde eram aqueles internautas que acorreram maciçamente ao documentário-resposta do tucano nas duas datas supracitadas e descobriu que praticamente todos os que assistiram eram da Índia e da Coreia do Sul… (?!!).
Isso mesmo, muito mais indianos e sul-coreanos se interessam por Aécio do que brasileiros.
Eis um dado interessantíssimo sobre o desempenho de Aécio Neves nesta campanha eleitoral. Apesar de tanto dinheiro para formular fraudes, apesar de todo o apoio da mídia e dos bancos, ele não consegue mais do que um pífio terceiro lugar na corrida pela sucessão de Dilma. Dá vontade de torcer para que substitua Marina no 2º turno, se houver.