Por Altamiro BorgesEm meados de janeiro, alguns jornalões informaram, sem qualquer destaque, que a Procuradoria da República no Distrito Federal havia concluído investigação que apontava a prática de nepotismo por três senadores. Dois tucanos - o paraibano Cássio Cunha Lima e o paraense Flexa Ribeiro - e um do PDT de Roraima, Telmário Mota. O órgão chegou a enviar ofício aos parlamentares recomendando a demissão imediata dos familiares em cargos no Senado. A procuradora Márcia Zollinge alegou que os três políticos se aproveitaram de brechas para descumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de 2008, que impede titulares de cargos públicos de nomearem parentes de até terceiro grau.
O caso mais gritante é o do tucano Cássio Cunha Lima, que adora posar de vestal da ética e já foi uma das vozes mais estridentes da oposição na cruzada pelo impeachment de Dilma. Ex-governador da Paraíba, ele já esteve envolvido em outros casos cabeludos de abuso de poder e corrupção, O seu primo, Flávio Romero Cunha Lima, é chefe de gabinete do moralista sem moral - que também é líder do PSDB no Senado. Diante do ofício da Procuradoria da República, o bravateiro tucano chiou, mas disse que iria acatá-lo. "Não tem nenhuma imoralidade e nenhuma ilegalidade. Mas em se tratando de uma recomendação do Ministério Público, eu vou enfrentar isso por quê? O fim do nepotismo é uma das bandeiras que sempre defendi", afirmou, no maior cinismo.
O curioso em mais este episódio é que a mídia udenista, que diariamente promove a escandalização da política, não fez qualquer escarcéu contra os senadores tucanos. Eles não foram chamada de capa dos jornalões e nem motivo de comentários raivosos nas emissoras de tevê. Graças a esta blindagem, Cássio Cunha Lima segue se travestindo de paladino da ética, com suas bravatas e ataques histéricos. Talvez até participe da próxima "marcha contra a corrupção e pelo impeachment de Dilma", marcada pelos grupelhos fascistas para março. Como primo não é nepotismo, ele também pode ser convidado.
Em tempo: Outro tucano metido a ético, o senador Aloysio Nunes - vice do cambaleante Aécio Neves - também foi denunciado em setembro passado pelo uso de três assessores na sua campanha eleitoral, o que é proibido pela lei. Ela veda a participação "durante o horário de expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado". O não cumprimento da regra pode resultar na cassação do mandato e configura crime de improbidade administrativa. Segundo o tímido noticiário da época, os três assessores "acompanharam o senador em viagens de campanha, tendo embarcado em aeronaves pagas pela chapa presidencial de Aécio", relatou a Folha. O caso ficou de ser investigado, mas não deu em nada. Ele também sumiu da mídia, tão seletiva no seu denuncismo barato.
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