O Ministério Público Federal alcançou recentemente a meta de 1,5 milhão de adesões e poderá enviar ao Congresso o projeto de lei de iniciativa popular com dez medidas para combater a corrupção na política brasileira e capaz de, talvez até mesmo, acabar com esse crime imorredouro em todos os cantos do mundo.
Não há boa intenção nesse combate aos crimes contra os cofres públicos, como sugere a Operação Lava Jato. A bandeira de extremado moralismo autoritário, no entanto, só ilude os cidadãos incautos, porque, neste caso, a Justiça está a serviço da política partidária.
Um pouco mais à frente a sociedade perceberá com mais clareza a meta do supostamente virtuoso juiz Sergio Moro e a do procurador Deltan Dallagnol, homem de crença fanática. Este último, além de atuar na vanguarda da campanha, foi porta-voz do auspicioso resultado postado por ele, em primeira mão, na própria conta no Twitter.
Em diversas palestras Moro tem alertado a plateia sobre o que ele considera o maior risco de desconstrução dos resultados da Lava Jato. Aproveita o momento de retrocesso no Congresso.
Em poucas e objetivas palavras, ele faz e o Congresso desfará.
Para isso, o poderoso juiz da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba dissemina a crença desse problema entre os brasileiros de Norte a Sul e de Leste a Oeste. E lá se vai a imagem dos políticos.
Por trama do destino, quase simultaneamente ao anúncio da “boa-nova” apresentada por Dallagnol, o Instituto de Pesquisas Maurício de Nassau, em Pernambuco (IPMN), divulgou os resultados de uma sondagem, feita entre os dias 15 e 16 de fevereiro, na cidade do Recife.
Ela chama a atenção do cientista político Adriano Oliveira, da IPMN, nestes pontos:
“Os eleitores apoiam a Lava Jato, mas não acreditam que ela mudará os costumes e quase 92% deles não confiam em políticos. Uma maioria de quase 57% não acredita que ela mudará o comportamento deles (Tabelas)".
Os resultados obtidos na capital pernambucana podem ser interpretados, segundo Oliveira, para as regiões Norte e Nordeste.
A política é um caminho por onde os anjos não se aventuram.
Moro desconhece isso e tenta construir um paraíso político onde só circulem os querubins. O juiz sabe que, além de mandar alguns para a cadeia, a sanha da Lava Jato desconstrói a política e sacrifica as virtudes em nome dos vícios.
Em 1992, após o período de caça aos parlamentares e da renúncia do então presidente Fernando Collor, o deputado Benito Gama, presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito popularizada como CPI do PC (Paulo César Farias, tesoureiro de Collor), anunciou aos crédulos: “O Brasil nunca será mais o mesmo”.
Errou feio, se é que Gama não ironizava. Tudo parece como antes.
A Lava Jato não mudará os políticos. Para isso teria, primeiro, de cumprir a missão impossível de mudar o mundo.
Juiz Moro, data venia, os vilões são os políticos ou os eleitores?