Serra está cada vez mais isolado
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Serra está cada vez mais isolado


Por Altamiro Borges

Durante a batalha presidencial do ano passado, José Serra esbanjou poder e arrogância. Ele não poupou os adversários nem os seus aliados. Isolou os setores do PSDB contrários à sua guinada para a extrema-direita, enquadrou os pedintes do DEM e comandou, com mão-de-ferro, a sua própria campanha. Esta postura autoritária e centralizadora gerou atritos no interior da oposição demotucana.


Sem programa e sem rumo, José Serra fez discursos raivosos contra tudo e contra todos – atacou Lula, difundiu baixarias contra Dilma, retomou o bordão golpista da “república sindicalista” e destilou ódio contra os “blogueiros sujos”. Aos poucos, o tucano foi se juntando ao que há de mais reacionário na sociedade – da TFP e Opus Dei aos milicos de pijama e aos jagunços ruralistas.

O desmanche da oposição demotucana

Derrotado no pleito, José Serra ainda tentou manter a pose de “principal líder da oposição”. Seguiu com sua verve radicalizada contra a presidenta recém-eleita e cutucou os concorrentes do seu próprio campo – em especial, Aécio Neves. Jogou pesado para preservar o controle do PSDB e para manter na coleira o DEM e o PPS. E ainda se apresentou como candidato "natural" à sucessão presidencial de 2014.

Mas a vida é implacável. A derrota eleitoral de 2010 resultou num acelerado – e até surpreendente – definhamento da oposição demotucana. Os demos caminham para o inferno; a extinção do DEM é dada como certa. Já os tucanos se bicam com violência, numa crise interna de envergadura. Quanto ao PPS, coitado do partido liderado pelo “ideológico” Roberto Freire!

A vingança é maligna

Na desgraceira, Serra desidratou. Ele é responsabilizado por todas as burradas da oposição. Antigos ressentimentos contra a sua postura centralizadora e inábil vêem à tona. Alckmin, que foi traído por Serra, parte para a vingança – não cede nem a casinha de cachorro no Palácio dos Bandeirantes. E Kassab, invenção do tucano, funda o seu próprio partido e agrava a divisão da direita.

Na foto do momento, o ex-todo-poderoso José Serra está totalmente isolado. Há quem especule que pode até sair do PSDB – alguns dos seus fiéis seguidores já tomaram este rumo. Um retrato deste isolamento foi traçado na quarta-feira (4) pelo jornal Estadão, que durante a eleição de 2010 assumiu, em editorial, o apoio ao tucano. A reportagem é de Christiane Samarco:

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A crise que enfraqueceu o PSDB paulista expôs o processo de isolamento político a que vem sendo submetido o ex-governador José Serra. Até a eleição de 2010, era ele quem concentrava o maior cacife de poder do tucanato no Estado. Desde a vitória da petista Dilma Rousseff, porém, Serra vem perdendo espaço na sigla.

Foi assim na briga interna do DEM, em que seus aliados perderam o controle do partido, hoje nas mãos de articuladores mais próximos do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

O segundo golpe veio em seguida, quando seu maior parceiro em São Paulo, o prefeito da capital, Gilberto Kassab, dá sinais de que pode deixar o campo de oposição ao Planalto e levar o PSD para perto de Dilma e dos petistas.

Um tucano que acompanhou de perto a crise paulista diz que Serra tem consciência de que o novo partido de Kassab, o PSD, reduz a força da oposição. Nos bastidores, porém, integrantes tucanos de grupos adversários a Serra acusam o ex-governador de não ter agido para conter a sangria que Kassab promove no PSDB.

E para quem imaginou que o PSD ainda pudesse ser uma boia para acolher Serra mais adiante, expoentes da nova legenda afirmam que o tucano não cabe na sigla. Além disso, o próprio Aécio começa a se movimentar em busca de pontes com Kassab.

O temor de que Aécio tomasse a presidência do PSDB para fortalecer seu projeto presidencial em 2014 levou Serra a cometer o erro de empurrar o presidente nacional do partido, Sérgio Guerra (PE), para a reeleição. Quando ensaiou tirar Guerra de cena, já era tarde. Àquela altura, o deputado contava com o apoio de Aécio e do governador paulista, Geraldo Alckmin.

Companheiros de Serra avaliam que ele também errou quando rechaçou de público a ideia de assumir o comando do Instituto Teotônio Vilela. Aecistas trataram de reservar o ITV ao ex-senador Tasso Jereissati (CE).

A escolha do deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) para liderar a bancada tucana na Câmara teve o dedo de Geraldo Alckmin. E, ato contínuo, Aécio empatou o jogo "Minas Gerais versus São Paulo" ao indicar o deputado federal Paulo Abi Ackel (PSDB-MG) líder da minoria.

Na montagem do governo Alckmin, o grupo serrista teve menos espaço do que gostaria. Três de seus mais próximos colaboradores acabaram na Prefeitura. Mauro Ricardo, ex-secretário da Fazenda, assumiu a secretaria de Finanças de Kassab. O ex-secretário de Planejamento Francisco Luna está no Conselho da São Paulo Obras. Ao ex-governador Alberto Goldman, o prefeito reservou uma vaga no Conselho de Administração da São Paulo Urbanismo.

A sorte dos serristas não mudou na montagem do diretório do PSDB paulistano. Vereadores tucanos ligados a Serra e Kassab foram escanteados na primeira composição do diretório e seis deles e deixaram o partido.

O ex-deputado Walter Feldman, outro expoente tucano ligado a José Serra, que o ajudara a fundar o PSDB, também decidiu abandonar a legenda.




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