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Serve de consolo - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 22/08
O Brasil tem errado muito na economia recentemente, mas não há o que se compare aos nossos vizinhos Argentina e Venezuela. No governo de Cristina Kirchner, a inflação já acumula alta de 189% até agora. O vizinho vai crescer este ano, mas os preços devem superar 25%. Na Venezuela, o quadro é de estagflação: o PIB deve fechar no vermelho; desde que Maduro começou a governar, a inflação já subiu 22,8%.
Essa é a inflação acumulada na Venezuela até julho, desde a morte de Chávez, em março. O cálculo foi feito para a coluna pelo economista venezuelano Pedro Palma, professor do IESA e diretor da consultoria Ecoanalítica. Ele prevê que o país vai ter uma recessão de 0,5% a 1% e uma inflação de 50%.
- Em outras palavras, a economia venezuelana está em estagflação - diz.
Palma afirma que a capacidade de compra dos salários é, hoje, 13,2% menor que há cinco anos e 21% mais baixa que em 1998, pouco antes de Chávez assumir o poder. Como no Brasil, os preços dos alimentos subiram mais. Com base em números do Banco Central da Venezuela e do Instituto Nacional de Estatística, Palma calcula que a inflação anualizada até julho de 2013 é de 42,6%, e a de alimentos, de 60,9%.
O governo culpa os empresários, mas para o economista, isso não faz sentido.
- O principal culpado é o governo. A inflação de hoje se deve aos desequilíbrios das políticas fiscal e monetária e às ações que restringem a oferta - afirma Palma.
Na Argentina, a inflação acumulada até agora, nos dois mandatos de Cristina Kirchner (janeiro de 2008 a julho de 2013), é de 189%. Em toda a era Kirchner, a inflação acumulada é de 347%, segundo o economista Dante Sica, presidente da consultoria argentina Abeceb. Ele acha que a recente derrota da presidente nas eleições primárias pode ser explicada, em parte, pela economia.
Sica lembra que em 2012 o PIB teve um crescimento muito fraco, de 0,9%, de acordo com a estimativa da consultoria. Os números oficiais perderam credibilidade após a intervenção do governo no instituto de pesquisas. O dado é pior se for considerado que o país vinha crescendo a uma taxa média de 8,1% (anual) nos anos anteriores. Dante diz que a primeira metade deste ano foi melhor (3,7% anual), mas por dois fatores: colheita agrícola e exportações automotivas para o Brasil. Excluindo isso, a maioria dos setores continua mostrando sérias dificuldades para crescer. Para o economista, o grande problema da economia argentina hoje é a restrição externa.
- As divisas provenientes, principalmente, das exportações agrícolas deixaram de ser suficientes para cobrir as crescentes necessidades de importação de energia. O governo optou pela repressão no mercado cambial, o que provocou distorções na economia, como escassez de produtos e aumento da incerteza.
Dante Sica explica que a elevada inflação, que há mais de três anos está acima de 20% ao ano, começou a impactar negativamente a renda da população e há riscos de aumento do desemprego. Outro problema é que as tarifas energéticas não foram reajustadas nos últimos anos, e isso aumentou o subsídio ao setor e o déficit fiscal.
- As contas públicas fecharam o ano passado com déficit primário (-0,2% do PIB) pela primeira vez em 15 anos.
O resultado da intervenção desastrosa do governo em alguns setores econômicos é um desequilíbrio significativo de preços relativos. Ele dá exemplos: um quilo de pão equivale à conta mensal de energia elétrica de uma família que vive na área metropolitana da capital; um quilo de sorvete sai mais caro que a conta de luz. Tem alguma coisa errada.
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