SOMOS MAIORES QUE O PIOR JOGO DA NOSSA HISTÓRIA
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SOMOS MAIORES QUE O PIOR JOGO DA NOSSA HISTÓRIA


Estou deprê. A derrota da seleção brasileira ontem por 7 a 1 derrubou quase todo mundo. Hoje acordei como se estivesse de ressaca.
Eu nem pensei que iria me envolver tanto nesta Copa! Por causa das denúncias de superfaturamento, das remoções, dos protestos, das reclamações de "imagina na Copa", até pensei: não vou dar a mínima. Imaginei viajar pra algum fim de mundo, alguma praia distante, durante uns dias, pra ficar longe. Surgiu um ou outro convite pra palestrar em outro Estado em junho e julho, e eu aceitei, sem me importar em perder jogos (claro que essas palestras foram canceladas assim que o pessoal notou que não haveria clima pra qualquer outra coisa que não fosse a Copa). 
Mas, no momento que a Copa começou, eu me rendi totalmente. Comecei a acompanhar todos os jogos no computador enquanto trabalhava (ou tentava trabalhar, ou tuitava), com tela dividida. E quase todos os jogos eram ótimos, disputados, equilibrados, com poucos empates e muitos gols (tá, depois da partida de ontem, melhor não usar "muitos gols" como critério de bom jogo). Eu sou do tipo que não tenho time de coração e só acompanho futebol a cada quatro anos. Mas amo Copa do Mundo. E nunca amei uma tanto quanto esta.
Uma das mensagens que circulavam
antes da Copa
Faz diferença sim que seja em casa. Com nosso eterno complexo de vira-lata, fomos convencidos que a Copa seria um fracasso retumbante, que os estádios não ficariam prontos a tempo, que os aeroportos entrariam em colapso, que a desorganização e o caos reinariam. Porque brasileiro tem uma imagem tão ruim do próprio país, do próprio povo, de si mesmo, que acreditamos rapidamente que não seríamos capazes de hospedar a maior competição esportiva do mundo. 
Temos uma imagem tão negativa de nós mesmos -- imagem que, é bom lembrar, não é de forma alguma compartilhada pelo resto do planeta -- que achamos que só existe uma coisa em que somos bons: futebol masculino. E não pra fazer uma Copa, só pra jogá-la mesmo.
Não seria legal se a gente tivesse um pouquinho de orgulho do país em outras áreas também, que não tivessem nada a ver com esportes? Não gosto de ufanismo, e temos muitos exemplos de como o patriotismo pode ser alienante. Mas, pior que o patriotismo, na minha opinião, é o seu contrário.
É a ideia de que aqui nada presta, ninguém trabalha, nada funciona, e lá fora, ah, lá fora, nos países ricos, aí sim é o paraíso. E qualquer um que vive ou já viveu no exterior pode te contar que isso não é real. 
Eu morei um ano nos EUA e tive mais problemas com internet, com empresas que não cumpriam seu serviço, com falta de respeito ao consumidor, do que costumo ter aqui. Muito mais. Mas foi uma experiência boa, inclusive pra constatar que o resto do mundo adora o Brasil. Quando você tá lá fora e fala de onde vem, o pessoal abre um sorriso, porque só associa o Brasil a coisas boas (carnaval, gente alegre, praias, mulheres bonitas, Rio, futebol, Pelé, floresta amazônica). 
Lembro que, no meu "ano americano", saiu uma matéria de capa da Vanity Fair com 24 páginas (a maior parte de fotos de modelos brasileiras) chamada "Viva Brazil!!". Ainda que o autor dissesse, elogiosamente, que o Rio era a bunda do mundo, ele terminava assim o artigo: "O Brasil se olha no espelho toda manhã e adora o que vê. Imagina a confiança que isso dá". 
Pena que não é verdade. Certamente não somos o único país a se olhar no espelho e não gostar do que vê, mas é óbvio que fazemos isso. Toda manhã, ao acordar. No máximo, o pessoal de classe média alta que adora ir pra Miami pra comprar muamba fala bem das belezas naturais do Brasil, "infelizmente estragadas" por um povo que essa elite vê como preguiçoso, ignorante e sujo. 
Todo dia eu leio gente que lamenta ter nascido aqui. Como se essa gente que diz isso fosse tão especial! Como se não desrespeitassem leis básicas de trânsito, como se não jogassem lixo na rua! Reclamam da corrupção do governo, mas defendem o "importante é levar vantagem em tudo, certo?" no seu dia a dia. Como se a vida deles fosse completamente desvencilhada da do país onde vivem.
Eu amo o Brasil. Não sou brasileira de nascença. Nasci em Buenos Aires, e minha família, argentina, se mudou pra cá quando eu não tinha nem quatro anos. Levei tempo pra criar coragem, enfrentar a burocracia, e me naturalizar brasileira. Só fiz isso em 1998, e com apenas um propósito, pois, como residente permanente, tinha quase todos os direitos e deveres que brasileiros da gema têm. 
Todos os direitos, menos um: eu não podia votar. E eu queria muito votar. Porque, talvez, se tem uma coisa que eu goste mais que Copa do Mundo e Olimpíadas, é eleição. Porque os resultados dessas eleições influenciam diretamente as nossas vidas.
Mas, falando em Copa, eu acreditava que a seleção brasileira poderia ganhar o mundial. Não porque nossa seleção era tão boa -- não era, não é --, mas porque as outras não eram assim tão excepcionais. E eu tinha a convicção que, se a gente passasse da Alemanha, venceria qualquer time, Holanda ou Argentina, na final. 
Ninguém estava preparado para o desastre de ontem, e as fotos que coloquei neste post demonstram a nossa tristeza coletiva (quer dizer, não de todo mundo. Tem gente que politizou a Copa e estava vibrando com a acachapante vitória alemã). 
Agora vou torcer pra Argentina. Não porque nasci lá (me considero brasileira), mas porque são nossos hermanos, vizinhos, e seria bacana que, numa Copa realizada na América do Sul, uma equipe sul-americana a conquistasse. Não tenho grandes esperanças, no entanto. Acho que assistiremos a uma final europeia, e que ganha a Alemanha.
Por mais que eu esteja triste, o meu lado racional me lembra sempre: é só uma competição esportiva. Foi só um jogo. Aliás, não foi um jogo, foi o jogo. Foi a maior humilhação da nossa história no futebol masculino. A derrota no Maracanã pro Uruguai em 1950 não chega nem perto do vexame de ontem. 
Quem estava no Mineirão ontem vai poder contar pros seus filhos e netos sobre essa façanha de ver a seleção ser goleada por 7 a 1 numa semifinal. Um fracasso desses vai demorar outros 65 anos pra se repetir (se bem que estou receosa com a disputa pelo terceiro lugar no sábado, você não? Nem um pouquinho?). 
A Copa continua, até domingo. E é uma bela Copa, que vai deixar saudades, por mais que a final vai parecer como se uma turma alegrinha e simpática fizesse uma festa na nossa casa, e não nos convidasse. Mas estaremos lá, de um jeito ou de outro. Ninguém para a gente. É só a gente querer.




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