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Sonhos frustrados - SUELY CALDAS
O ESTADO DE S. PAULO - 01/11
Quando o ex-presidente Lula repetia à exaustão aquele discurso do "nunca antes na história deste país", seguido de bravatas e autoelogios à sua gestão, ele tinha um propósito bem arquitetado: marcar a diferença entre tudo o que se passou no Brasil, desde que Pedro Álvares Cabral por aqui aportou, e um novo tempo, uma nova era, do PT no governo, que viraria o País pelo avesso, uma espécie de revolução social sem armas, em que miseráveis virariam pobres, pobres seriam promovidos à classe média, ricos perderiam privilégios e a estrutura social e econômica do País mudaria gradativa e radicalmente. Sempre para melhor. Muitos brasileiros acreditaram nisso e expressaram sua confiança no voto, elegendo o PT por quatro mandatos e 16 anos de poder.
Mas Lula e sua seguidora Dilma Rousseff se esqueceram de um imprescindível detalhe: para dar certo, seria necessário recriar o Estado, tirá-lo das garras de privilegiados que avançam sobre seus cofres sem nenhuma cerimônia, de empresários que bajulam e corrompem o poder para obter vantagens, de grupos corporativos que ganham verbas e favores no grito, de uma classe política que está no governo mais para enriquecer e fazer caixa para a próxima eleição do que melhorar a vida da população. Enfim, preparar o Estado (e 36% da renda do País que vai parar nos seus cofres) para ampliar e qualificar serviços públicos, prover saúde e educação para quem não pode pagar, reforçar programas sociais eficazes do tipo Bolsa Família,investir e estimular investimentos privados em infraestrutura. Enfim, construir um Estado moderno e prepará-lo para servir ao cidadão, sem distinção de classe ou cor, em vez de usar a receita de impostos pagos por 200 milhões para distribuir privilégios para poucos.
Lula e Dilma até poderiam ter a intenção, no início, mas erraram muito nestes 13 anos, não souberam promover igualdade social nem distribuir a renda simplesmente porque usaram tal intenção não como um fim a ser perseguido, mas um meio, um instrumento para conseguir outro objetivo muito diferente: alongar a permanência do PT no poder (para que, nem eles mesmos sabem responder). Para isso tudo valeu: deixaram a corrupção se espalhar pelo aparelho do Estado (até a estimularam ao distribuir cargos a políticos), quase destruíram a Petrobras,a Eletrobrás e outras estatais, desmoralizaram a gestão pública e incharam o governo de companheiros apadrinhados.
Deu tudo errado. A estrutura do Estado continua intacta, os privilégios e mordomias permaneceram e alguns foram até ampliados. Sobrou incompetência e faltou planejamento na gestão do dinheiro público. E aí veio o previsível, que só os petistas, na ambição de vencer eleição, não enxergavam: o cofre do governo foi se esvaziando, a dívida pública cresceu, vieram as pedaladas fiscais e como ganhar eleição virou um fim em si mesmo. A mentira predominou na campanha de 2014, a população flagrou e sentiu-se manipulada, traída. Hoje, a popularidade de Dilma e de Lula desaba, refletindo a degradação econômica e social do País.
Ainda assim, Lula, Dilma e a propaganda televisiva do PT seguem estufando o peito e bradando que "nunca antes na história deste país" um governo fez tanto pelos pobres. É uma meia verdade. Antes, com o Plano Real, FHC acabou com a inflação, um imposto tirano para os pobres, e abriu caminhos para fomentar investimentos e crescimento econômico, além de plantar as raízes para o Bolsa Família. Depois, Lula e Dilma ampliaram os programas sociais, reduziram a pobreza e geraram uma nova classe média voltada para consumir o que a vida antes lhe negou.
Só que o custo financeiro da ambição de sempre ganhar eleição foi alto demais, acabou por devorar os ganhos sociais, que vêm desaparecendo e ameaçando até a Previdência e o Bolsa Família. A mais recente pá de cal, que não é a última, foi divulgada na quinta-feira pelo IBGE: a taxa de desemprego saltou para 8,7%, mais de 1 milhão de empregos com carteira assinada foram perdidos em apenas um ano e a recessão vai continuar piorando o desemprego e a vida do trabalhador.
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