Numa meia-noite de setembro, encontrei-me correndo lado a lado com uma adolescente baixinha e magrinha, com chifres ao redor da cabeça e rosto tingido de preto e vermelho, num padrão de pintura de guerra. A meu redor, corriam outros adolescentes, e também adultos, usando pintura, armaduras, adereços e trajes de combate variados. Compúnhamos um grupo de fãs de Star wars (ou Guerra nas estrelas, como preferir), disparando pelos corredores de uma loja num shopping center em São Paulo, em plena edição brasileira daForce Friday, a Sexta-feira da Força, em português. Era o lançamento de novos brinquedos da maior franquia de filmes da história, e só quem chegasse antes às prateleiras garantiria o seu. Algumas cotoveladas e empurrões depois, emergi vitoriosa, com três bonecos nas mãos.Um deles era do personagemKylo Ren, do filme novo, com estreia marcada para 17 de dezembro. Eu podia supor que ele fosse ovilãoprincipal, mas, admito, não sabia. Estávamos disputando e comprando figuras de personagens de quem só sabíamos o nome, de um filme que só estrearia três meses mais tarde.Star warstem esse efeito inebriante sobre muita gente, há quase 40 anos. O estoque de brinquedos se esgotou em menos de 20 minutos. Mas minha curiosidade só cresceu. Gosto dos filmes mais recentes da série, mas não entendia bem a paixão quase religiosa pela história passada ?muito tempo atrás, numa galáxia muito, muito distante?. Naquela noite, voltei para casa, coloquei o sombrio Kylo Ren em minha estante e iniciei uma jornada. Queria entender a força deStar warssobre as mentes e corações.
Eu não havia nascido quando o primeiro filme chegou aos cinemas. Dos originais, de 1977, 1980 e 1983, só havia visto trechos na TV, fora de ordem. Tratei de resolver a lacuna e assisti aos três, inteiros e na ordem correta. Os efeitos especiais ultrapassados e as coreografias de luta simplórias me fizeram rir. Mas a trama me deixou nostálgica, com uma vontade que ela não acabasse. Pesquisei mais sobre a história e os personagens. A figura a amarrar todos os seis filmes lançados até hoje é Anakin Skywalker, um jovem saudado como um messias interplanetário, que se torna um anjo caído, ou melhor, Darth Vader ? o vilão mais icônico da história do cinema.
Você pode não gostar de Star wars, mas conhece a figura com respiração pesada, vozeirão eletrônico e armadura e capacete negros. Da minha mesa no trabalho, vejo Darth Vader estampado na caneca do meu chefe. Ele é o segundo boneco que comprei na Force Friday. Num vídeo de humor na internet, ele é o vilão fictício num duelo de rap com Hitler, a fim de decidir quem melhor encarna o mal absoluto. Nos filmes, Anakin crê numa conexão cósmica entre todos os seres vivos e a natureza, deixa-se dominar por seu lado sombrio e encontra o caminho de volta à luz. Quem nunca? E ainda há quem fale em maniqueísmo simplista em Star wars. A obsessão quase religiosa parecia ter razões mais interessantes que essa. Os céticos podem atribuir a paixão por Star wars a um coquetel doce de consumismo, infantilidade e marketing poderoso. A Force Friday, o lançamento dos brinquedos, ocorreu em 12 países, com horários marcados. Começou em Sydney, na Austrália, passou por São Paulo e terminou em Los Angeles, nos Estados Unidos. Durante 18 horas, o canal de Star wars no YouTube mostrou ao vivo celebridades abrindo caixas com os novos brinquedos. Em um ano, as vendas desses e outros produtos licenciados renderão US$ 5 bilhões. A Disneyadquiriu os direitos sobre Star wars em 2012, mas lançar filmes é pouco para a cartilha da empresa. Eles apostam em programas de TV, brinquedos, videogames, livros, trilhas sonoras e parques de diversão. Tudo isso gera receita e alimenta interesse pelo próximo filme. E olhe que, muito antes disso, o universo de Darth Vader já passava pelas mãos de um mestre do marketing. O criador da franquia, George Lucas, é um gênio na criação e também nos negócios. Em 1977, depois de ouvir ?não? de alguns estúdios, convenceu a 20th Century Fox a produzir o roteiro peculiar de Star wars, uma mistureba de referências ocorrida num universo totalmente fantasioso, com uma história futurista, mas transcorrida no passado, a unir elementos de misticismo, faroeste e lutas com espadas. Lucas recusou a oferta de US$ 500 mil para dirigir o filme. Pediu um décimo disso, mais direitos comerciais sobre as continuações, licenciamento e merchandising. Tornou-se bilionário, mas não só. ?Ele conseguiu moldar o impacto cultural de sua obra de uma forma inédita entre cineastas?, afirma Henry Jenkins, especialista em cultura pop e professor de comunicação naUniversidade do Sul da Califórnia. ?Star wars foi concebido desde o início como um universo amplo, com infinitas oportunidades de crescimento.?Logo depois do primeiro filme, de 1977, a marca já vendia por ano 24 milhões de bonequinhos como o meu Kylo Ren. As vendas da marca crescem US$ 1,5 bilhão por ano, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado NPD. As franquias James Bond e Harry Potter, combinadas, faturaram até hoje US$ 33 bilhões. Star wars já chegou aos US$ 42 bilhões. Numa briga com Darth Vader, Valdemort não daria nem para a saída. Mas o poder do marketing, sozinho, não explica a força de Star wars. Como lembra Janet Wasko, pesquisadora de mídia e autora de um livro sobre a Disney, a empresa usa a mesma estratégia de marketing arrasa-quarteirão para tudo o que faz. ?É apenas mais óbvio agora, porque desta vez éStar wars?, diz Janet. Algum outro ingrediente, então, faz tanta gente correr fantasiada à meia-noite para disputar brinquedos semidesconhecidos. Nas semanas seguintes, passei a outra fase da jornada: ouvir os fãs.
Conheci figuras interessantes e intensamente apaixonadas pela série, como a analista de conteúdo Thais Hashimoto, de 31 anos. Ela aproveita viagens ao exterior para comprar produtos ligados à franquia. Guarda muitos deles em malas, para evitar que estraguem. Tem mais de 100 itens ? alguns fundamentais, como um sabre de luz, a arma mais elegante do Universo, reconhecível mesmo por quem nunca viu nenhum dos filmes. E também itens engraçados, como pacotes de macarrão instantâneo, guardados fechados, com a massa no formato dos personagens. Só em 2015, Thais já gastou mais de R$ 2 mil em produtos desse tipo. ?Até 2012 havia menos produtos, mas agora está um absurdo. Deu para voltar de uma viagem com malas cheias?, diz Thais. Ela ama a história por causa do grande número de personagens fortes, incluindo uma figura feminina, Leia Organa, que fugia ao padrão das princesas indefesas. Para gente como ela, as opções vão crescer nos próximos anos. Segundo a Walt Disney Company Brasil, até o ano passado, cinco empresas licenciavam 150 produtos da marca no país. Hoje, 50 empresas fabricam mais de 1.500 itens. Lá fui eu visitar duas lojas em São Paulo, uma de brinquedos e outra de decoração, ambas recheadas com produtos Star wars, magnetos para gente como Thais. Resisti, mas saí cobiçando uma estátua de um tauntaun, um bichão de um planeta gelado, que custa quase R$ 2 mil.Enquanto Thais coleciona, há quem goste de criar com as próprias mãos. O estudante de programação de jogos digitais Artur Bambace, de 18 anos, admira especialmente o universo expandido. Além dos filmes, desde 1978 Star wars se espalha por quadrinhos, livros, desenhos animados e videogames. São cerca de 17 mil personagens, espalhados por centenas de planetas, com detalhes sobre culturas, ecossistemas e formas de governo, numa linha do tempo de mais de 20 mil anos. Uma ramificação recente de impacto é a série de animação Star wars rebels, que estreou em outubro de 2014 na TV nos Estados Unidos e é acompanhada por 6,5 milhões de espectadores. No universo expandido, há uma infinidade de tipos de protagonistas e de histórias ? aventura, guerra, drama e romance.
Bambace gostou dos mandalorianos, um clã multirracial e multiplanetário de guerreiros e mercenários. Há cinco meses, dedica suas aulas semanais de artes plásticas para confeccionar sua própria armadura mandaloriana. A fantasia não é igual à de nenhum personagem existente, mas segue o padrão mandaloriano. Bambace já pagou quase R$ 3 mil na produção. ?Aprendi a lidar com os materiais e matei a vontade de ter uma fantasia?, diz. Vai usá-la em encontros de fãs. Gostei de conversar com eles, mas precisava de mais. Avancei em minha jornada no desconhecido ? especificamente, rumo à Zona Sul de São Paulo, para a feira Comic Con Experience (CCXP).
Trata-se do maior evento de cultura pop do Brasil, com estandes de marcas de brinquedo, roupas, editoras de livros e quadrinhos, canais de televisão e produtoras de cinema. A segunda edição brasileira recebeu 142 mil pessoas, incluindo centenas de cosplayers? os fãs que se vestem como e interpretam personagens. Um deles era o professor de cinema Vebis Júnior, de 39 anos. Ele integra o fã-clube 501st Brasil, que realiza trabalhos voluntários, como visitas a hospitais, sempre trajado como um personagem. ?O fã-clube não pode ter lucro. Por isso, as empresas que nos convidam arcam com a confecção das fantasias?, afirma. Na CCXP, ele usava uma armadura de R$ 1.400 (similar, mas não igual, à do terceiro boneco que comprei na Force Friday). O professor diz ter começado a estudar cinema por causa da exuberância de Star wars. E gosta da ideia de jovens fazendeiros que se opõem a uma ditadura.
Aproveitei e fui conferir o que havia de interessante nos estandes. Gostei do BB-8, um robô que aparece no filme novo. Uma réplica à venda por R$ 1.500 pode ser comandada à distância por um aplicativo de celular. Continuei andando. Achei que minha coleção estava completa com meus três bonecos ? até topar com uma caixa de som na forma da Estrela da Morte, a arma de proporções planetárias das forças sombrias. Lá se foram R$ 500.
De volta a minha casa, fico feliz com a qualidade de som de minha Estrela da Morte. Ela acende quando está ligada, como um abajur musical bom para embalar o sono. Talvez minha coleção esteja completa ? três figuras de vilões e uma arma mortal do lado sombrio. Isso também me faz pensar um pouco sobre o que me atrai nas histórias.
Conforme a estreia do novo filme se aproxima, fico obcecada. Em minha pequena jornada para entender a força de Star wars, conheci gente empenhada em mergulhar nessa ópera infinita que atravessa tempo e espaço. Parece muito a absorver por uma mera padawan, digo, aprendiz, que acaba de se apaixonar pela série. Mas Star wars é hospitaleira com novatos. ?Se você não conhece a história anterior, tudo bem. Os personagens do novo filme tampouco conhecem?, afirma o produtor Bryan Burk. ?É uma nova jornada para todos.?
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