Casal de uruguaio e argentina pintou até os olhos com tatuagens (Foto: Rodrigo Gorosito/G1)
Um sujeito de camisa social para dentro da calça é olhado com estranheza por centenas de pessoas, ao som do "dzzzz" das máquinas de tatuar que quase ofuscam a música alta de uma banda de punk rock. Ali, no Tattoo Week Rio, o visual de executivo é o rebelde em meio ao barulho dos equipamentos que desenham a pele de vários visitantes da maior convenção internacional de tatuagem e body piercing da América Latina.O evento que acontece desde sexta-feira (3) no Riocentro, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, vai até domingo (5). Entre os diversos stands da feira, cuja entrada custa R$ 40, há venda de camisas, loções para corpos pintados e, claro, profissionais dispostos a deixarem a visita marcada na pele. No último dia, haverá até um concurso de Miss Tattoo, que só tem como exigência um desenho no corpo. Mas, lá, até isso é raro. Pinturas solitárias são excepcionais.
Any Rodrigues pintou até a cabeça; tatuadora, ela
já enfrentou resistência da família
(Foto: Rodrigo Gorosito/G1)
No vaivém de telas humanas de pintura, o olhar de um casal chama atenção. Pela paixão da vista, talvez. Mas principalmente por causa dos olhos totalmente pintados. Os da argentina Gabi Peralta são negros. Um do marido uruguaio Victor, também. O outro é ainda mais inusitado. "Sempre quis ter o olho verde", ironiza, com o olho "maduro" arregalado.já enfrentou resistência da família
(Foto: Rodrigo Gorosito/G1)
Juntos há 18 anos, os tatuadores se conheceram num encontro de motociclistas ? tribo frequente na convenção. Em comum, tinham algumas poucas tatuagens e o amor pelas duas rodas. Hoje, a profissão. "É muita responsabilidade, você está trabalhando com a saúde dos outros", explica Victor.
O compromisso, no entanto, nem sempre é visto com bons olhos. Tatuadora desde os 16, Any Rodrigues ainda enfrenta a resistência da família por ter escolhido o mercado da pintura corporal. "Meu pai acha que não é profissão porque não tem carteira assinada. Mas minha mãe apoia porque acredita que é possível viver de arte", disse. "O preconceito diminuiu, mas ainda existe".
Prova disso é que, pelo menos no Riocentro, a preocupação paterna não é mais tabu. Também profissional do ramo, Marcelo Cabral não vê a hora de pintar as filhas Margot, de sete meses, e Laíla, de sete anos. "Vai ser lindo. A Laíla está sempre rabiscada. Vou ficar muito feliz se ela quiser algum desenho. E ela já diz que quer aprender a desenhar. O pior é que desenha, e desenha bem".
Tatuador não vê a hora de tatuar as filhas: uma de sete anos, a outra de sete meses (Foto: Rodrigo Gorosito/G1)