TENDÊNCIAS DA DIREITA E ESQUERDA, CONSERVADORES E LIBERAIS
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TENDÊNCIAS DA DIREITA E ESQUERDA, CONSERVADORES E LIBERAIS


Toda santa vez que falo da direita vem alguém de direita, mas que tem vergonha em se assumir como tal, dizer que esses conceitos de direita e esquerda não existem mais, que acabaram com a queda do muro de Berlim, blá blá blá. Já falei sobre isso. Pensar assim, que essa divisão acabou, é apenas um jeito da direita dizer, em poucas palavras, “Ganhamos”. É aquilo que Fukuyama chamou de o “fim da história”: o capitalismo triunfou, game over. E acho estranho falarem no triunfo do capitalismo quando a gente está começando a sair de uma crise financeira que muitos dizem ter sido pior que a de 1929. E desta vez não dá pra culpar os comunistas, dá? Afinal, eles nem estão mais vivos! (fiquei feliz outro dia ao notar que não sou a única que pensa que quem diz "Direita e esquerda não existem mais" é sempre de direita. O candidato do PSOL à presidência disse exatamente a mesma coisa numa entrevista).
Com a crise, muita gente que foi capitalista desde criancinha está cobrando uma intervenção maior do governo na economia, um Estado mais forte. Quer dizer, “muita gente” menos a direita americana, que culpa o Obama pela crise, embora ela tenha começado, tipo, meio ano antes d'ele tomar posse, e que ela seja responsabilidade, em parte, da falta de fiscalização do governo Bush, que era de direita, apoiado pela direita.
Mas o que sempre me causa estranhamento é por que, se a esquerda está morta e enterrada, se “os bons” ganharam, a direita tem tanta vergonha em dizer que é direita. Nem o Reinaldo Azevedo se diz de direita. Será que se o Che estivesse vivo hoje em dia ele andaria dizendo “Não, não, não sou de esquerda”? As camisetas do Che ainda exercem fascínio pra um monte de gente. Quais são as camisetas da direita?
Nos EUA a direita é mais cristã, mais alinhada com certos valores. Boa parte da direita brasileira é assim também, mas muita gente de direita, principalmente mais jovem, tende a ser liberal nos costumes (a favor de direitos iguais pra gays e da legalização do aborto, entre outras coisas), e conservadora no lado político (defendem que quase nada fique nas mãos do Estado). Pra começar, no Brasil não existe direita que não seja anti-PT, existe? (Não estou falando de partidos, como o PP, partido do Maluf, ter apoiado o governo Lula, e agora embarcar na candidatura Serra. Estou falando de pessoas, de malufistas. Não conheço algum que goste do PT, você conhece?). Nos EUA existem direitistas que votam no Partido Democrata, inclusive porque os dois partidos americanos, republicanos e democratas, são mais diferentes no campo dos costumes que no da política. Dá pra ser anti-PT e ser de esquerda? Logicamente, taí gente que vota no PSTU e no PSOL que não me deixa mentir. Mas são poucos. Quem lê a Veja e acredita no que ela diz, e compartilha com seus valores, não tem como não ser de direita. Desculpe se o rótulo lhe cai mal. Sei que uma camiseta do Che é muito mais charmosa. Ou não. A Veja fez uma enorme reportagem chamando o Che de facínora assassino. Colou? Fez com que pessoas que gostam dos ideais do Che deixassem de gostar? Fez com quem é de direita batesse no peito e dissesse: “É isso aí, quero ser mais do que anti-comunista na vida! Agora quero ser pró-alguma coisa!”?
Tem um teste aqui que você pode fazer, também da Veja. Ele vai indicar se você é direita ou esquerda e conservador ou liberal. Nem sempre a pessoa de direita é conservadora, mas quase sempre a pessoa de esquerda é liberal. Gosto do teste da Veja, e também deste diagrama. Ele fala da situação americana, que é bem diferente da nossa. Vou traduzir algumas partes. Por favor, não leia pensando nas exceções, e sim na regra, ok? Não quer dizer que todo mundo que é de direita pensa de tal forma, ou que todo mundo que é de esquerda pensa do outro jeito. Mas é uma boa indicação, que aponta várias diferenças entre os dois rótulos. Por exemplo, a esquerda acredita que deve haver intervenção na sociedade e nas vidas das pessoas. A direita não quer intervenção. A esquerda apóia trabalhadores, enquanto a direita apóia empregadores. Vê a diferença entre uma palavrinha e outra? Na esquerda, o foco é na sociedade. Na direita, é no indivíduo. A esquerda acredita que a economia deve ser regulada, e que o governo deve cobrar impostos e gastá-los para o bem da sociedade. Já a direita não quer regulamentação nenhuma, nem quer pagar impostos (ou quer pagar o mínimo possível), e acha que o governo deve cortar gastos, sempre.
No que se refere à criação e educação, a esquerda crê em educar os filhos com amor para criar um relacionamento baseado em respeito e confiança, e ensina a criança a fazer perguntas, a se relacionar e cooperar com os outros. Já a direita crê num amor mais disciplinador para criar um relacionamento baseado em respeito e medo, que ensinará a criança técnicas para ser bem-sucedida, para competir e para ser individualista. O mais importante é fortalecer o caráter. Igualdade é oportunidade, e liberdade é a chance de ser bem-sucedido ou fracassar. Para a esquerda, igualdade é um campo com os mesmos direitos, e liberdade é liberdade do poder, do abuso e da falta de igualdade.
A esquerda acredita que criminosos são vítimas sociais e econômicas, enquanto a direita crê que criminosos optam por aderirem ao crime. Vê a sociedade como a sobrevivência do mais forte. A esquerda crê na diplomacia e na paz, enquanto a direita defende a guerra para resolver conflitos, e é militarista.

A direita vota em quem quer manter a ordem, ajudar quem se ajuda (isso explica por que tanta gente de direita é contra o Bolsa Família, e porque Serra vai bater na tecla da segurança pública). A esquerda vota em justiça social, em ajudar a quem não consegue ajudar a si próprio.
O mais interessante é que, pelos números que o diagrama mostra, conservadores e liberais se assemelham em várias pesquisas. Apoio a direitos para os gays? 54% dos liberais, e 44% dos conservadores, são a favor. Direito de abortar (já que, nos EUA, o aborto é legalizado)? Tem o apoio de 66% dos liberais, e de 43% dos conservadores. Também não há diferenças gritantes para crença em Deus (78% dos liberais e 87% dos conservadores acreditam), e sexo antes do casamento (apoiado por 90% dos liberais e 80% dos conservadores).
As grandes diferenças ficam nas questões do casamento gay (só 43% dos liberais é a favor, blergh, mas bem mais que os 12% dos conservadores), apoio à guerra (34% dos liberais apoia, contra 91% dos conservadores), e corte de impostos (84% dos conservadores é a favor, mas só 24% dos liberais).

É um tanto estranha a parte das profissões sugeridas para cada grupo: para a esquerda, trabalhar na mídia, ser arquiteto, professor universitário, professor de séries iniciais, ou cientista. Para a direita, ser policial, militar, corretor da bolsa, vendedor, ou juiz.
E aí, o que você acha? Tem a ver com a nossa realidade (que graças aos céus é sem guerra)? Ou não dá nem pra começar a comparar?




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