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Terceirização e o silêncio de Dilma
Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Embora a campanha pelo veto ao projeto de lei 4330 já tenha chegado às redes sociais, num movimento que inclui um video de Camila Pitanga e Wagner Moura, a presidente Dilma Rousseff evitou assumir um compromisso a respeito. "Não adianta me perguntar agora porque não vou dizer o que pretendo fazer", reagiu a presidente, hoje de manhã, no Planalto, quando falou sobre o assunto durante uma entrevista a um grupo de blogueiros, a qual o 247 estava presente.
O silêncio da presidente ilustra a posição complicada em que o governo se encontra nessa matéria. A bancada do PMDB, com musculatura reforçada no governo depois que o vice Michel Temer assumiu a coordenação política, foi a principal força na aprovação do PL 4330 na semana passada, com 324 votos favoráveis e 137 votos contrários. Ainda que o projeto precise ser aprovado pelo Senado, o placar - com uma vantagem de aproximadamente 70% a 30% para bancada favorável à terceirização - sugere que um veto presidencial, sempre dramático, politicamente delicado, pode tornar-se a última alternativa para impedir uma mudança que irá colocar o governo Dilma na contramão de uma tradição iniciada em 1943, quando Getúlio Vargas assinou a CLT, inaugurando uma história da qual o próprio Partido dos Trabalhadores faz parte, mesmo que tenha sido um crítico da herança varguista nos seus primeiros anos.
"Os sindicatos estão divididos", observou a presidente, referindo-se a um debate que colocou a Força Sindical e outras entidades que costumam alinhar-se contra o governo, numa posição favorável ao 4330, enquanto a CUT e outras entidades se mobilizam no campo contrário. A presidente também lembrou que, nos dias de hoje, mesmo empresas estatais - inclusive a Petrobras - usam mão de obra terceirizada. O comentário levou dilmólogos presentes a deduzir que a presidente tem uma discreta tendência favorável a terceirização, mesmo que possa fazer críticas aqui e ali. Mas quando ouviu um comentário excessivamente simpático ao projeto, como se todas as arestas tivessem sido acertadas em negociações, a presidente atalhou, de forma a sugerir que não era bem assim.
A terceirização foi um dos temas de uma entrevista de assuntos variados. Questionada sobre a desregulamentação dos meios de comunicação, a presidente referia-se a conjuntura política dos últimos meses quando disse que “não há a menor condição de abrir” essa discussão. Dilma também falou sobre a maioridade penal, que envolve um projeto de mudança constitucional que o governo pretende combater.
Respondendo a perguntas dos jornalistas, dedicou um bom espaço a explicar - e defender - o ajuste econômico. Quando perguntaram se ela considerava que a perda de popularidade de seu governo havia começado com as medidas econômicas do final do ano, que atingiram direitos de trabalhadores e de sua base eleitoral, como o salário desemprego, a presidente bateu de frente com uma análise que, com muitas variações, integra a maioria das críticas do PT ao governo: “não é nada disso. O problema da base do governo é a inflação.”
Comentando o desemprego, disse que ainda pode ocorrer uma pequena queda no emprego mas que a inflação seguirá mais grave e preocupante. Quando o 247 perguntou se ela concorda com a visão bastante repetida entre analistas de que a situação “vai piorar antes de melhorar,” a presidente corrigiu: “Já piorou.” Contrariando previsões em torno de um reajuste relativamente suave, com sinais de recuperação nos próximos meses, a presidente lembrou que, embora diversos observadores digam que é possível aguardar uma melhora no início próximo semestre, ela mesma acredita que isso só irá ocorrer “no fim do ano.”
Ao ser provocada por uma questão que apontava para o espaço generoso que o ministro da Fazenda Joaquim Levy desfruta nos meios de comunicação, sugerindo que ele pudesse estar assumindo funções presidenciais, Dilma reagiu de bom humor, lembrando o ministro da Fazenda “faz aquilo que eu concordo.”
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